Quando o bandeirante Domingos José Velho matou Zumbi, ele não imaginava que naquele momento nasceria o dia da consciência negra no Brasil. Um marco histórico, de um homem lembrado até hoje por sua força, resistência e sonho de uma vida livre para todos os negros que eram escravizados no país.
A morte de Zumbi foi em 1695. Ele sofreu uma emboscada após terem destruído o quilombo para onde os escravizados iam. O líder teve a cabeça cortada e exposta em uma imitasse os passos de Zumbi dos Palmares
Tirar Zumbi da vida o levou para a história contada em samba-enredo, e mesmo que breve, nos livros de história que lemos na escola. O dia da consciência foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte do líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.
O episódio não surtiu o efeito esperado, mas a história de Zumbi e de toda população africana que foi sequestrada e enviada para o Brasil, sofreu um apagão. Diferente dos imigrantes italianos, que vieram para o Brasil trabalhar, seus registros foram mantidos, sua história, preservada. A data da morte de Zumbi só foi descoberta no início da década de 1970, com isso o Movimento Negro Unificado (MNU) em um congresso contra a discriminação racial, realizado em São Paulo, em 1978, os fez eleger Zumbi como símbolo da luta e resistência dos negros no Brasil.
O racismo nunca acabou. Celebrar esse dia, no cenário atual em que vivemos, é remar com muita força contra a maré. O racismo estrutural está nas diversas camadas da sociedade. Jorge Aragão fala bem sobre isso, ao cantar o samba Identidade: “Elevador é quase um templo. Exemplo para minar teu sono. Sai desse compromisso, não vai no de serviço, se o social tem dono, não vai…”
No futebol, o alvo da vez é Vinícius Júnior. Chamado de “el mono”, macaco em espanhol, o atacante é hostilizado cada vez que seus talentosos pés, tocam a bola. Endrick Felipe Moreira de Souza, de 17 anos, joga no Palmeiras e vai ficar no banco de reserva no jogo desta terça-feira, contra a Argentina. Mesmo sendo tão jovem e ainda sem ter a fama do colega de profissão, ele já conhece a dor que o racismo causa. Ocupando a mesma posição que o colega famoso, era menino quando estava jogando e torcedores começaram a chama-lo de macaco.
“Hoje em dia tudo é racismo”, “não pode falar nada”, “meus melhores amigos são negros”, e tantas outras frases, que tentam tirar a legitimidade da fala de quem sofre na pele, todos os dias, mostram o quanto a consciência negra é importante. Mas quem deve ter essa consciência, os negros, brancos? Todos nós devemos ter em nossa mente que o que essas pessoas viveram com a escravidão, reverberou por séculos e ainda está por aí, numa piada, num comportamento, como foi o episódio vivido pelo artista Natan, que passou por um constrangimento quando ia entrar no Parque Cultural Casa do Governador.
O artista, que tem uma obra exposta no parque, estava de bermuda e chinelo e ia entrar para trabalhar na obra, dentro do parque, que está fechado, para visitação, por causa da montagem das obras. As mesmas foram selecionadas via edital, que Natan foi um dos selecionados.
Em nota, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), responsável pelo local, afirmou por meio de nota que “no último dia 13 de novembro, a equipe acompanhou in loco o episódio em que o artista Natan Dias recebeu um alerta dos profissionais que atuam no receptivo da residência, quanto ao fato de ele estar vestindo apenas bermuda e chinelos. Contudo, não foi impedido de entrar no espaço”.
A nota descreve ainda que o artista ficou incomodado (eu também ficaria), e conversou com a equipe Secult e pela sua rede social, que sofreu racismo na abordagem sobre o modo como estava vestido. Imediatamente, a Secult se colocou a disposição do artista para que as medidas pudessem ser tomadas, a fim de elucidar o caso e, sobretudo, impedir que situações como essa ocorram no futuro.
A nota ainda diz que a secretaria lamenta pelo que ocorreu com o artista Natan Dias e, desde já, pede a ele desculpas pelo constrangimento e transtorno sofrido na ocasião. Esta secretaria não compactua com nenhum comportamento que expresse racismo, nem qualquer outra forma de preconceito, e segue apurando de perto o ocorrido.
Perfil das vítimas
Os dados contidos no Anuário Estadual da Segurança Pública, edição 2023, com informações da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), organizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves, relata o perfil das vítimas de homicídios por cor da pele.
O perfil das vítimas de homicídios é levantado a partir de documentação, informação de boletim de ocorrência e da identificação do Departamento Médico Legal (DML) por exame de DNA ou reconhecimento por parte de parentes. Com base nessas informações é possível concluir que 52% das vítimas de homicídios dolosos no estado são homens negros (pardos ou pretos) com idade entre 15 e 29 anos.
Os homicídios dolosos por cor da pele, mostram que a maior parte é formada por pardos com 67%, seguidos por pretos, 15%, brancos, 15% e 3% não informaram a cor da pele.
Apesar da redução em números absolutos nos últimos 10 anos, a proporção de vítimas negras (somando pretos e pardos) aumentou no ano de 2022, representando 81%, enquanto em 2012 essa proporção era de 63,9%.
