Um importante passo na democratização da arte capixaba está sendo dado com o projeto Preservação e Difusão do Acervo Ronaldo Domingues de Almeida na Midiateca Capixaba. Pela primeira vez, um acervo privado de mais de 200 obras de arte — até então restrito a um pequeno círculo de convidados — será catalogado, digitalizado e disponibilizado ao público por meio da Midiateca Capixaba, plataforma digital do Governo do Estado que reúne acervos culturais com tecnologia de acessibilidade baseada em inteligência artificial.
Para acessar, basta visitor, nesta segunda-feira (20), a partir das 18 horas na Mata da praia, com as presenças dos artistas Sandro Novaes e Andreia Falqueto.
A coleção, reunida ao longo de mais de 20 anos pelo juiz de Direito e bacharel em Artes Plásticas, Ronaldo Domingues de Almeida, inclui pinturas, gravuras, esculturas, fotografias e desenhos de grandes nomes da arte moderna e contemporânea capixaba e brasileira. Entre os destaques estão obras de Homero Massena, Levino Fânzeres, Álvaro Conde, Dionísio Del Santo, Hilal Sami Hilal, Amilcar de Castro, Tomie Ohtake, Cildo Meireles, Carybé e Alex Vallauri.
Segundo o colecionador, a intenção é que o acervo cumpra uma função social: “Espero que a divulgação da coleção de forma pública e ampla, por meio de fomento estatal, incentive outros colecionadores a investirem em artistas capixabas, como forma de estimular a produção e a promoção da arte no Espírito Santo. Toda propriedade privada precisa alcançar uma dimensão social”, afirma Ronaldo Domingues de Almeida.
Digitalização e preservação
O projeto, aprovado em edital do Funcultura com recursos da Lei Aldir Blanc, tem coordenação da jornalista Adriana Machado e propõe não apenas a digitalização, mas também a catalogação profissional de todo o conjunto.
“Nosso propósito é provocar a reflexão sobre o papel social das coleções privadas e contribuir para a preservação do patrimônio artístico capixaba. O compartilhamento dessas obras é um ato de democratização cultural e fortalecimento da memória coletiva”, destaca a coordenadora.
A museóloga Flávia Fernandes explica que a catalogação segue os padrões do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), com fichas técnicas completas e inserção na plataforma Tainacan, que integra a Midiateca Capixaba. Já o fotógrafo Sérgio Cardoso é o responsável pelo registro visual das peças, utilizando técnicas de correção cromática para garantir fidelidade absoluta às cores originais: “Mesmo quem nunca viu o quadro saberá qual é a cor original da obra”, afirma Cardoso.
A inserção do acervo na Midiateca Capixaba significa mais do que acesso digital. Ela representa uma nova etapa na formação de público e educação estética no Espírito Santo, aproximando jovens estudantes, artistas e pesquisadores de um repertório antes inacessível. A plataforma, que adota ferramentas de acessibilidade por IA, permitirá que pessoas com deficiência visual e auditiva também possam interagir com as obras, ampliando o alcance do projeto.
De acordo com Adriana Machado, a expectativa é que essa iniciativa inspire novos colecionadores e instituições a compartilharem seus acervos particulares com a sociedade: “Queremos mostrar que a arte não deve permanecer trancada em salões privados, mas circular e dialogar com a comunidade, com escolas e universidades. Só assim preservamos, de fato, a nossa memória cultural”.
Ações educativas e visitas monitoradas
Além da digitalização, o projeto prevê atividades educativas e visitas monitoradas à residência do colecionador, no bairro Mata da Praia, em Vitória. Essas visitas permitirão aos estudantes e pesquisadores conhecer de perto o processo de inventário, catalogação e conservação das obras.
O evento de abertura dessas atividades será a “Visita ao Acervo RDA”, voltada a estudantes do curso de Artes e com vagas limitadas. Os artistas Sandro Novaes e Andreia Falqueto são presenças confirmadas, e os participantes receberão declaração de participação. Durante a visita, os convidados acompanharão como está sendo feita a digitalização das mais de 250 obras que compõem o acervo.
Como culminância do projeto, o Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) sediará uma grande exposição com parte das obras catalogadas. A mostra, prevista para o período de janeiro a maio de 2026, apresentará ao público um panorama abrangente da arte moderna e contemporânea capixaba e brasileira. O evento incluirá também uma mesa pública de debate sobre colecionismo e políticas de preservação, com participação de especialistas e gestores culturais.
“Acreditamos que o projeto resultará em futuras ações de difusão e valorização da arte capixaba, incentivando outros colecionadores a se engajarem nesse movimento”, conclui Adriana Machado.
Um novo capítulo para a arte capixaba
O projeto Acervo RDA inaugura um momento simbólico na história da arte do Espírito Santo: o encontro entre a memória privada e o interesse público. A digitalização e a disponibilização gratuita das obras permitem que o público, pesquisadores e educadores possam acessar e reinterpretar a produção artística capixaba sob novas perspectivas, abrindo espaço para novas leituras e conexões históricas.
Mais do que um acervo, trata-se de um gesto de partilha — um convite à sociedade para conhecer, valorizar e participar ativamente da construção da memória artística do Espírito Santo.
Por Giuliano de Miranda
