
No dia 05 de novembro é comemorado o Dia Nacional da Cultura. E o Grupo de Caxambu Santa Cruz e a Festa Raiar da Liberdade, em Monte Alegre, Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, têm motivos de sobra para comemorar, pois ambos são Patrimônio Cultural Imaterial capixaba.
Os integrantes do Grupo de Caxambu Santa Cruz, moradores do Quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro, reforçam a importância do reconhecimento, pois a festa acontece há 136 anos.
O coordenador geral do projeto, Genildo Coelho Hautequestt Filho, explicou como a festividade tem evoluído ao longo dos anos de sua realização. A festividade era realizada apenas com a participação dos moradores do quilombo.

“No ano de 2000, quando foram realizadas as primeiras reuniões que culminaram na criação da Associação de Folclore de Cachoeiro de Itapemirim, atual Associação de Salvaguardas do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, é que outros grupos culturais do município de Cachoeiro começaram a participar. A partir do ano de 2008, quando o Caxambu Santa Cruz recebeu a certificação de Patrimônio Cultural do Brasil, grupos de fora do município também começaram a participar da festa. Hoje a festa é um momento único de confraternização de grupos culturais co-irmãos do Sul do Estado. Mas também tornou-se um momento de reflexão e de protesto sobre a farsa da abolição da escravidão promovida pelo Estado Brasileiro”, pontua.

Hautequestt Filho destacou que o reconhecimento cultural é importante, porém é preciso que essa cultura permaneça viva para as próximas gerações. “Nossa festa, embora seja importante do ponto de vista cultural e político para o povo negro capixaba, nesse momento tem sofrido muitas pressões por parte de pastores evangélicos da comunidade por puro racismo religioso. Isso é sério, porque racismo é crime. É preciso que o Ministério Público e que o Estado intervenham nesses conflitos de maneira a garantir à continuidade do Caxambu Santa Cruz e da Festa Raiar da Liberdade, que agora são Patrimônio Cultural capixaba. Só o reconhecimento não basta, é preciso estabelecer ações concretas para que esse patrimônio capixaba se mantenha vivo para as próximas gerações”, destacou.
Ele ainda ressaltou o orgulho para a comunidade do Quilombo Monte Alegre ter sua cultura e tradições reconhecidas oficialmente.

“O reconhecimento da festa, talvez seja uma pequena sinalização do Estado da necessidade de implementação de políticas públicas reparatórias para o povo negro. Nas falas da Mestra Maria Laurinda Adão, guardiã dessa festa, ‘queremos que o Estado e o município olhem para nós com mais respeito e consideração. Se agora somos patrimônio, queremos ter nossos direitos respeitados’. Monte Alegre é um quilombo que padece com a precária infraestrutura dos serviços públicos prestados à comunidade, como transporte, educação, saúde, dentre outros”, explicou.

O reconhecimento da festa contribui para a preservação das tradições culturais do povo negro capixaba, como destaca o coordenador geral do projeto. “O reconhecimento de nossa festa, através de um inventário feito de forma participativa pelos moradores locais, é um marco para a preservação do patrimônio capixaba. A partir de agora, qualquer comunidade que queira ter seu patrimônio reconhecido, poderá, de forma coletiva como fizemos, produzir a pesquisa que subsidiará seu registro como patrimônio imaterial. O reconhecimento do Raiar da Liberdade, quebrou esse paradigma ao aceitar o ‘alto reconhecimento de uma comunidade’. Isso é fantástico”, comemorou.