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Educação inclusiva faz a diferença na vida deles

Garotos com deficiência são queridos em suas escolas, facilitando processo de aprendizagem

Eles já não são mais vistos como coitados, e sim pessoas queridas. E isso tem feito a diferença em todos os aspectos da vida de garotos que apresentam algum tipo de deficiência, sobretudo no processo educativo.

O jovem Eduardo Braga, 15, é um exemplo disso. Portador de uma síndrome rara, conhecida como PMM2-CDG, que afeta funções psicomotoras, o carinho que o jovem recebe na escola, desde os colegas, passando pelos demais funcionários, até chegar nos professores, é a base para ter um desempenho sempre além dos objetivos a ele estipulados.

“Gosto de ir para a escola por causa dos meus amigos e dos professores”, diz Dudu, forma carinhosa que é chamado pelo pessoal da escola municipal de Vila Velha, onde estuda desde o primeiro ano do ensino fundamental – ele está finalizando o nono ano e prepara-se para entrar no ensino médio. Lá, o jovem frequenta a sala de aula regular, sendo acompanhado por uma professora durante as matérias.

A artesã Juliana Mansur, tia de Dudu e responsável por ele, afirma que participa de um grupo com mães de crianças portadoras da mesma síndrome do estudante, mas que não os mandam para a escola pelo receio de falta de atenção. Mas com Dudu tem sido diferente.

“Nos primeiros anos, tinham momentos que os colegas faziam fila para ver que iam leva-lo para dentro da escola. Ele é muito alegre, gosta de abraçar e beijar, não vê maldade nas coisas. Pra ele, todo mundo é amigo e sempre teve muito mais gente ao lado dele, ajudando e incentivando. Hoje a escola toda o conhece e sabe no que pode ajudar ou não”, relata Juliana, que também elogia o trabalho pedagógico.

“A escola disponibiliza uma professora para ele, sempre ouve muito a gente na questão de adequar aulas e matérias, está aberta a sugestões, quando nos colocamos à disposição. Claro que temos um ou outro problema de adequação, mas sempre conseguimos contornar. Com a gente, o serviço sempre foi muito bom”, avalia.

É claro que com esse ambiente favorável, o desenvolvimento de Dudu tem sido constantemente acima do esperado. “Ele vai muito além das metas traçadas. Quanto mais incentivo tem, melhor desenvolve”, alegra-se Juliana.

Inclusão

O panorama de Dudu é um verdadeiro retrato do que é uma educação inclusiva, pelo menos no que diz respeito a pessoas com deficiência (PCDs). Pós-doutor em Educação e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Rogério Drago afirma que, para ser inclusivo, o sistema escolar tem que ter um olhar diferenciado para o ser humano.

“Para ser inclusivo, o foco tem que ser no ser humano. É o olhar diferenciado para as pessoas, no sentido de entender que cada ser humano é único em sua existência. O que a escola mais necessita hoje é um ‘olhar além da casca’, de pessoas que enxerguem o ser humano para além da sua aparência física, além de sua deficiência, que todo ser humano é capaz de aprender. E essa visão a escola precisa ter, do porteiro ao diretor”, afirma o professor.

E acrescenta: “O que as PCDs não precisam é de um olhar de pena. Tem que ter o olhar humano e entender que essa pessoa é um sujeito que aprende e se desenvolve. E aí é preciso ter o olhar técnico, pensando em tecnologias e técnicas que façam com que ele aprenda. E isso acontece pela via da formação dos professores da comunidade escolar”.

Valorização dos professores é fundamental

Analisando a educação especial capixaba, sobretudo a partir dos entes municipais, Drago avalia que o Espírito Santo se destaca no cenário nacional. Para ele, os entes públicos têm investido na formação continuada de professores da educação especial, remunerando-os com base na titularidade, o que tem sido fundamental para o sucesso dos serviços.

“Temos políticas municipais sérias de formação continuada de professores, que recebem para planejar, são pagos para fazer mestrado e doutorado, dar este retorno na sala de aula e receber salário de acordo. Têm investido na contratação de professores, estagiários, profissionais capacitados; na criação de salas multifuncionais, na adequação e incremento dos ambientes, na reforma de escolas. Conheço, inclusive, vários casos de pais que tiraram filhos de escolas particulares, não para não pagar mensalidade, mas pela qualidade da pública neste sentido”, declara o professor.

Trabalho bem elogiado e recompensado

Israel Dias é professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em Deficiência Intelectual de Viana. Além da Licenciatura em Pedagogia, tem pós-graduação, mestrado e doutorado voltado para a educação especial inclusiva e recebe de acordo com a titularidade. Ele elogia a estrutura que o município fornece para alunos e professores e atesta que isso é fundamental para os bons resultados que tem testemunhado.

“Trabalho na perspectiva de que todos são capazes de se desenvolver e isso depende de nós, profissionais da educação. Se oferecermos o mínimo de aprendizado, o aluno vai aprender o mínimo e vice-versa. Alguns professores acham que o aluno não é capaz de aprender, que, pelo fato de ter deficiência intelectual, deveria estar em outro lugar. Por isso é preciso a postura inclusiva aliada à especialização”.

Educação inclusiva faz a diferença na vida deles
Rafael Lourenço é aluno em Viana. Foto: Arquivo pessoal

Hoje, o professor atende 13 alunos com deficiência no município e um deles é Rafael Lourenço, de 11 anos, portador de síndrome de Down. A dona-de-casa Maria Lourenço dos Santos, 56, mãe do garoto, é só elogios ao trabalho do professor Israel.

“Ele é carinhoso, atencioso, na hora que tem que chamar atenção, chama. O trabalho dele tem contribuído muito para o desenvolvimento do Rafael, que é apaixonado por ele. Ele me auxilia em como proceder como nas situações em casa e, com certeza, o Rafael tem evoluído bastante”.

Segundo Israel Dias, esse interlocução com a família é fundamental para o desenvolvimento do aluno com deficiência. “São eles que vão dizer como está em casa, até onde podemos ir na questão das dificuldades biológicas e no desempenho fora de sala, para que possamos ajudar este aluno da melhor maneira possível no processo de escolarização”.

Mais de 11 mil matriculados

Juntando o Estado com os municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra, são 11.442 alunos com deficiências diversas matriculados nas escolas. A Rede Estadual teve 3.610 matrículas em escolas regulares de alunos com Atendimento Educacional Especializado (AEE). O Estado conta com 540 docentes que atuam em turmas de AEE, que acontecem em 317 escolas regulares.

O município de Cariacica conta com 1.713 alunos na Educação Especial, que contam com 298 professores e 53 cuidadores trabalhando em 42 unidades de ensino que oferecem acessibilidade, entre elas elevatória, piso tátil, placa em braille, portas mais largas, banheiro adaptado, entre outros.

A Serra possui 1.821 estudantes da AEE, atendidos por 379 professores de educação especial e 133 cuidadores. O município tem 51 Salas de Recursos Multifuncionais/SRM, com equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do AEE.

Vila Velha tem 101 escolas que contam com profissionais e estrutura necessárias para atender e receber alunos de AEE, que são 2.533, atendidos por 664 professores especializados e 280 cuidadores que fazem o acompanhamento na higienização, locomoção e alimentação desses alunos.

O município tem 40 escolas que possuem salas de recursos multifuncional. Já Vitória conta com 1.765 estudantes na modalidade de AEE, atendidos por 339 professores, que atuam em 98 unidades escolares. 

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