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Durante a pandemia, capixabas optam pelas bicicletas

Levantar às 7 horas, preparar o café da manhã, passar na casa da mãe e subir na bike. Desde o início do ano, este tem sido o dia a dia de Antônio Marx, servidor público de 47 anos. Das 8 às 10 da manhã, ele circula pela região de Jardim Camburi, em Vitória, como forma de eliminar o sedentarismo de sua vida. Trabalhando de casa devido às restrições da pandemia, nos últimos 30 dias, ele resolveu intensificar a pedalada.

A atividade é duplamente motivadora. Com gordura no fígado, ele se sentia preocupado com a saúde. “Desde que comecei a pedalar, perdi 3,5kg. Embora a perda de peso não fosse meu objetivo, ela veio como consequência positiva”, conta.

Além do corpo, a mente também ficou mais leve. Antônio tem transtorno bipolar e utiliza a bicicleta como forma de complementar o tratamento psicológico. “Consigo me sentir contente em cumprir as metas que estabeleço para mim mesmo”, relata. 

Encarar a vida de maneira mais saudável é um ato digno de ser compartilhado. “Depois da pedalada, ou até mesmo durante, eu paro e tiro uma foto da vista ou das paisagens. Depois, publico no meu Instagram. As pessoas têm gostado”, brinca.  

Assim como Antônio, muitas pessoas resolveram incluir a prática de andar de bicicleta em suas rotinas. O aumento do número de ciclistas transitando nas cidades pode ser observado ao se analisar o crescimento das vendas no ramo de bicicletas.

Antônio Marx, ciclista

Em 2020, a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) apresentou um crescimento de 50% no número de vendas em comparação a 2019. O mês de julho teve o aumento mais expressivo do ano: 118% a mais que o ano anterior. Devido à alta procura por bicicletas, o mercado de seguros neste segmento teve um crescimento de 162% durante o segundo trimestre de 2020.

No Espírito Santo não foi diferente. Fernando Gorza, de 60 anos, dono de duas lojas de bicicletas – uma em Itapuã, Vila Velha, e outra na Praia do Canto, em Vitória – notou que o interesse do público foi intensificado durante o ano passado.

Ele lembra que manteve a loja fechada por poucos dias, já que durante a quarentena as oficinas foram consideradas prestadoras de serviços essenciais.

Há mais de 20 anos no ramo, ele conta que, desde junho de 2020, quando o funcionamento do comércio mostrou certa estabilidade, foi possível observar crescimento nas vendas. 

As lojas de Fernando têm vendido, em média, de 150 a 200 bicicletas por mês. Se antes da pandemia o aumento era esperado para o verão, no ano passado as vendas se mantiveram regulares durante todo o ano. 

oficina; bicicleta

“Antes, a prática de bicicleta era vista com menor importância, destinada a pessoas de baixa renda. Hoje em dia, qualquer pessoa pode realizar a atividade e se sentir bem. Quanto mais existir usuário de bicicletas na cidade, mais o meio ambiente e a saúde física e mental agradecem”, opina.

O proprietário detalha que a principal dificuldade no setor é a falta de abastecimento no mercado. “Quando as fábricas pararam de produzir, houve uma ruptura na distribuição, já que é uma relação em cadeia. Hoje, nosso principal problema é a falta de fornecimento da mercadoria. Sem estoque, as fábricas têm entregue as bicicletas a conta-gotas”, comenta.

Trajeto ainda é tortuoso

Fernando Braga; ciclista;

Fernando Braga, de 61 anos, um dos fundadores do Movimento dos Ciclistas Urbanos Capixabas (CUC), relembra sua trajetória como ciclista. “Eu sou um ciclousuário há mais de 40 anos. Uso a bicicleta como meio de transporte e fiz dela a minha rotina ao longo da minha vida profissional”, declara.

Criado em 2015, o CUC surgiu na Grande Vitória como forma de cobrar infraestrutura para as pessoas que escolheram a bicicleta como forma de locomoção e estilo de vida.  

“A primeira coisa que precisamos é segurança. As ciclovias, as ciclofaixas e as calçadas compartilhadas reduzem a velocidade urbana de imediato. Aumentando a infraestrutura, é possível dar segurança às pessoas em optar pela bicicleta e não se aglomerar nos ônibus, trens e metrôs, por exemplo”, explica.

No Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (CREFES), local em que trabalha, Fernando percebeu a necessidade da inclusão na mobilidade urbana. “Comecei a ampliar a minha atuação na acessibilidade uma vez que trabalho com pessoas lesionadas, muitas delas vítimas do trânsito, pedestres, motoristas, ciclistas e motociclistas que sofreram algum tipo de lesão”, revela.

A cobrança por políticas públicas é extensa. Entre elas, Fernando destaca que é preciso fazer a conectividade das ciclovias para dentro dos bairros, além da união de vias seguras entre as cidades. “O compartilhamento de bicicletas de forma integrada seria um exemplo. Vitória e Vila Velha contrataram empresas diferentes, o que impede a integração”, lamenta.

Serviço ofertado pelo Sistema Transcol, o Bike GV  – ônibus que transportam os passageiros que estão com suas bicicletas – deve ser mantido e aprimorado na visão do servidor público. “Já fiz pesquisa com os usuários do Bike GV. Existem pessoas que carregam de 30 a 40 kg de ferramentas, e mães com crianças nas cadeirinhas a caminho da creche. É importante que todas essas frentes sejam representadas para que haja incremento mais inclusivo nos modos alternativos de circulação”, defende.

Prefeituras garantem investimentos

Em tempo, as prefeituras citadas informaram que têm trabalhado para atender às demandas da mobilidade urbana alternativa. 

Em até 18 meses, a prefeitura de Vila Velha espera expandir de 58,8 para 62,1 km a extensão das ciclovias no município. Novas ordens de construção foram dadas a partir deste mês, como nos bairros Pontal das Garças e Darly Santos. A prefeitura também informou que as equipes de manutenção atuam diariamente nas ciclovias, preservando os espaços destinados ao transporte. No município, 200 bicicletas podem ser alugadas em 20 pontos diferentes.

A prefeitura ainda tem a intenção de tornar Vila Velha a maior cidade em extensão cicloviária. Um projeto de expansão da Secretaria de Planejamento e Projetos Estruturantes (Sempla) espera ligar a Praia de Itaparica até a orla do bairro Nova Ponta da Fruta, um acréscimo de 19 km, totalizando 27 km de extensão. Segundo a pasta, a contratação para as obras deve ocorrer no primeiro semestre do ano que vem.

A prefeitura de Vitória informou que ciclovias já foram reformadas, como a do bairro de Maria Ortiz, e outras estão em processo de execução, como a do bairro de Santa Luzia, que será interligada à Avenida Leitão da Silva. Outro projeto apresentado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), é a ciclovia da Avenida Rio Branco, cujo trecho ligará a Ponte Ayrton Senna à Reta da Penha.

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