Quando uma nação casa-se com uma geração, divorcia-se da próxima geração. Essa afirmativa não orienta propriamente o Estado, mas chega perto, muito perto. É inevitável – ainda é inevitável, acredito – que os dirigentes de todos os países sejam pessoas do seu tempo, formados pelos erros e pelos acertos educacionais, religiosos e políticos que, de forma muito geral, são comuns para todas as gentes daquele lugar e daquele tempo.
Mas essa identidade é uma terrível tentação.
A aparência é a de que somos a última geração. A única geração. Como se a minha percepção isolada de paz, de justiça social ou de igualdade fosse definitiva e correspondesse ao ápice da evolução humana. Sem passado e sem futuro, o indivíduo contemporâneo é seduzido a escrever para si mesmo, como que parido de chocaderia, sem ter tomado por herança muito suor derramado dos próprios pais.
A ninguém é dado o direito de valorar as relações sociais sem considerar o germe material que as constituiu. As ações políticas precisam representar a continuidade histórica de um povo, não o recorte geracional de quem o governa, como um salto civilizatório artificial, higiênico e literato. As ações do Estado não são rompantes do meu conjugado de experiências e valores, mas do acumulado de princípios realmente testados e agregados da nação que jurei servir e servir bem.
Qualquer medida fora dessa dimensão é estéril. Não se sustenta, por assim dizer. É só papel. E papel caro, tanto para quem o assina quanto para quem o paga. Governantes apaixonados por seu tempo e deslocados do seu povo costumam ser injustos ao pretexto de fazerem o bem. E acreditam que o fazem quando mudam a fórceps os valores históricos para submetê-los às virtudes da própria geração, aviltando a memória coletiva como um gênio assintomático.
É preciso conter essa tentação infantil. Estamos aqui por um acaso, dentro de um espaço curto e muito mal aproveitado. Logo acaba e a geração que já nasceu haverá de cobrar a conta do divórcio com muitos juros sociais, pagos por quem nem conhecemos e que não tardará em nos julgar com a mesma dureza de nossos corações.
Ate breve!










