A ingrata ansiedade pelo futuro e o fastio pelo tempo presente. Esse é o tempo mais tormentoso da vida humana. A tibieza que faz até Deus vomitar. A náusea. Um momento de estagnação moral, física e profissional que todo mundo atravessa, cedo ou tarde; novo ou velho. A síndrome de quem está vivo. Ninguém escapa.
Tenho falado aqui sobre o heroísmo do recomeço. Falado muito, até. Chato mesmo.
Confio nos tempos da vida e desconfio que todos os que já viveram passaram por tudo. Não há muito ineditismo no mundo. É um pouco de soberba imaginar que somos o primeiro nalguma coisa. Coisas boas ou más. Essa perspectiva conforta o espírito ao longo do sofrimento e acalma o coração nos tempos de euforia, porque tudo que é humano não nos é estranho, como disseram há dois mil anos.
Tudo já foi.
Até o drama de Macabéa, esse hiato de silêncio e mornidão. Tudo que pode ser e nunca chega. A lassidão da alma, nem feliz nem triste. O cansaço de uma vida cinza. A imagem daquele relógio de Salvador Dali estampada no travesseiro e gravada nas costas com o peso de um elefante adulto. Nada se planta, nada se colhe. Sem sol, sem chuva. Tempo nublado.
A poeira que sobe na queda deixa tudo muito turvado. É um tempo de perdão. De se perdoar pelas razões do tropeço, reconhecendo que a queda é consequência de quem anda, e de perdoar quem te jogou no chão. Livrar-se desse peso inútil pelo próprio bem. Livrar-se das culpas e das próprias culpas. Não é um tempo perdido, embora sem graça.
Saberá viver melhor quem aproveitar essa hora vazia que faz parte da vida. De todas as vidas. Das que existiram e das que existirão. É a hora propícia. A hora da visitação.
É a hora da estrela.