Dia desses meditava sobre o uniforme das comissárias de bordo de algumas empresas aéreas – aliás, da maior parte delas. Há alguns anos obedeciam ao padrão que esperamos encontrar pelas ruas – elegantes e recatados. Eis que uma certa “modernidade” alterou tudo isso: os uniformes passaram a ser absolutamente indiscretos no que diz respeito à silhueta daquelas profissionais.
Fico a imaginar as consequências desta mudança para mulheres que passam seus dias levantando maletas, fechando bagageiros, recolhendo bandejas etc. no meio de corredores estreitos. Já testemunhei, a bordo, cenas as mais constrangedoras patrocinadas pelo descaramento de alguns passageiros, seguidas de um humilhante e na prática quase que inevitável silêncio.
Há também o caso das atrizes. Não faz muito tempo, em dado filme que tinha como pano de fundo uma organização criminosa, uma das personagens vai ao banho. Era apenas um banho e nada mais do que um banho! Não se relacionava em absolutamente nada com o roteiro básico – apenas um banho, afinal! E eis a atriz filmada inteiramente nua em uma cena absolutamente sem relevância para o contexto do filme. Por que tamanha exposição?
E as recepcionistas? Não faz muito tempo denunciou-se no Reino Unido um humilhante “código de vestimentas”, no mais das vezes informal, obrigando-as, por exemplo, ao uso de saltos altos – não importando se tivessem problemas nos pés ou coluna – e modelos justos. Foi deplorável o depoimento de uma delas, forçada a usar saltos altos durante jornadas diárias de nove horas, relatando seus problemas nos joelhos e coluna.
O episódio seguinte vem da tão civilizada Suíça: um dos maiores e mais respeitáveis conglomerados financeiros daquele país definiu que suas funcionárias deveriam utilizar roupas íntimas de cor vermelha, que contrastassem com as blusas brancas do uniforme.
Finalizo em Israel, país notadamente religioso, onde uma empresa aérea estabeleceu que as comissárias deveriam usar saltos altos até o momento da decolagem da aeronave!
Qualquer uma dessas mulheres bem poderia ser sua mãe, irmã ou filha. Mas vá lá que seja – não são. Medite então sobre a doída acusação de Auguste Rodin: “A civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”. E pergunte-se: somos mesmo civilizados?