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8 de novembro de 2024
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.
A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade de cada um deles e não reflete a posição de ES Hoje

A pirataria

Dia desses meditava sobre a África. Trata-se de um continente riquíssimo: abriga as maiores reservas mundiais de bauxita, cromo, manganês, platina e zircônio. Seu solo contém 57% das reservas conhecidas de diamante do planeta, 48% das de cromo e 19% das de ouro e urânio.

Paradoxalmente, no entanto, este solo tão rico abriga um povo miserável! De acordo com o Banco Mundial 67% dos africanos – 670 milhões de pessoas – vivem (eu disse vivem?) com no máximo US$ 3,10 por dia.

Como isto é possível? Haveria alguma explicação lógica? Decidi, então, pesquisar algo a respeito.

Descobri, para início de conversa, que a África ganha, anualmente, US$ 19 bilhões em ajuda externa. Porém, os mesmos países que nos encantam com tanta generosidade recebem US$ 68 bilhões através de fraudes fiscais praticadas por suas empresas lá instaladas – isto equivale a 6,1% do PIB de todo o continente. Acentuo: esta rubrica refere-se apenas a fraudes fiscais e evasão de divisas.

Aquele continente perde, a cada ano, US$ 29 bilhões somente em função da extração ilegal de riquezas minerais, vegetais e animais praticada por empresas estrangeiras. Aliás, por falar em empresas estrangeiras, a remessa de lucros destas aos seus países de origem tem alcançado a espantosa cifra de US$ 32,4 bilhões. Curiosamente os lucros delas aumentam, porém os preços das riquezas não-renováveis que de lá extraem só diminuem – o do petróleo, por exemplo, caiu 51% desde 2011.

Adicione a esta conta US$ 26,6 bilhões em função dos prejuízos econômicos decorrentes das mudanças climáticas – e não são os africanos, claramente, responsáveis por mais esta praga. Em seguida acrescente outros US$ 6 bilhões – é quanto o continente perde em função da emigração do melhor de sua força de trabalho, física e intelectualmente considerada.

Acentuo que apenas estamos falando de rubricas absolutamente simples e fáceis de visualizar, relativas às mais puras e refinadas ganância e opressão por parte de alguns poucos conglomerados. E apenas elas já seriam mais do que suficientes para a eliminação da miséria de todo aquele povo.

Pois é. Eis aí a realidade da África. Proponho, agora, um exercício: pesquise estes mesmos indicadores, porém substituindo a África pela América Latina ou pelo Brasil. Qual verdade terrível será encontrada?

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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