O Brasil vive um tempo barulhento. Mandos e desmandos, discursos que se contradizem, votos que se chocam, outros que se alinham como peças de um tabuleiro instável e insalubre. A confusão política invade jornais, redes sociais e até as conversas de fim de tarde, tornando-se pano de fundo permanente da vida cotidiana. Mas enquanto os discursos ecoam e parecem ter peso eterno, a vida trouxe um outro compasso, mais delicado e silencioso.
No quarto de hospital onde minha mãe respira devagar há cinco semanas, percebo com nitidez, tudo é rarefeito. A vida é feita de instantes frágeis, como cristais que se quebram ao menor descuido. O que parecia inabalável revela-se passageiro; nossa crença no eterno mostra sua condição rarefeita. Ali, diante da vulnerabilidade do corpo e da alma, na consciência do tempo escorreito, compreendo o quanto somos passageiros — e o quão efêmera é nossa passagem pela vida uns dos outros.
As manchetes do dia seguinte se desfazem como pó. As disputas políticas, que pareciam ocupar todo o espaço do mundo, tornam-se pequenas quando comparadas à urgência de um gesto de cuidado, de um copo d’água levado com carinho, de uma mão que se estende para segurar a do outro. Não há votação no Congresso que pese mais do que um olhar de ternura. Não há promessa eleitoral que valha mais que o simples ato de estar presente diante de quem verdadeiramente importa.
Diante do leito, reaprendo que a vida é feita menos de certezas e mais de presença. Os planos que adiamos, as palavras de afeto que deixamos para depois, os encontros que protelamos — tudo isso pode nunca mais acontecer. E essa é uma constatação real. Quisera ser uma pensamento disfuncional. Há uma pressa cruel em acreditar que temos tempo, quando na verdade só temos o instante que se oferece agora. E ele é curto.
E o que fazer?
Talvez seja hora de uma reflexão coletiva e íntima. O Brasil, é verdade, precisa de responsabilidade e compromisso. Mas nós, cada um de nós, precisamos de humanidade. Precisamos aprender a dar valor às coisas simples: ao silêncio que consola, ao abraço que conforta, à conversa que aproxima. São esses gestos pequenos, invisíveis nas estatísticas e nos noticiários, que sustentam a grandeza da vida.
No hospital, entre máquinas que apitam e vozes contidas, sinto que a vida pede menos barulho e mais sentido. Pede que aprendamos a desacelerar, a reconhecer que nossa travessia é breve e que os afetos são o verdadeiro patrimônio que deixamos. O resto — os debates inflamados, as vaidades, as disputas — é ruído.
Não, isso não é clichê. Quisera! Trata-se de uma constatação real feita por quem vivenciou o tocar o fino fio da vida, balbuciando palavras de vida quando a realidade lhe mostrava o fim.
Meus amigos, somos apenas sopros, e o que vale, no final das contas, é o quanto conseguimos aquecer quem está ao nosso redor enquanto duramos. É isso!










