Dias atrás, numa tarde preguiçosa, conversava com meu filho sobre a fluidez das relações sociais. Impressionou-me a firmeza com que ele, tão jovem, defendia a importância de uma âncora, algo que impedisse o naufrágio das certezas. Disse-me, com uma simplicidade desarmante, que até Deus precisava ser mantido vivo em nossa memória, pois é Ele quem ancora a existência quando tudo se dissolve. Fiquei em silêncio. Porque ali, na fala dele, percebi algo que nem sempre ousamos admitir: a nossa sede de permanência.
Lembrei-me, então, do belo artigo do amigo Raphael Câmara, que tão bem descreve a lealdade como uma posição existencial, como uma fidelidade consciente, livre e corajosa. Seu texto me fez revisitar antigas leituras. A verdadeira responsabilidade nasce da alteridade, desse vínculo silencioso com o outro que não pede aplausos. A lealdade, talvez, seja isso: um compromisso com o invisível.
Vivemos tempos de impermanência. Tudo é líquido, como bem disse Zygmunt Bauman. Relações, ideias, até a fé. Nessa pressa em mudar, esquecemos que algumas virtudes se revelam no ato de ficar. Não por inércia, mas por escolha consciente. A lealdade é uma dessas raras virtudes que exigem coragem. Porque permanecer, hoje, é um ato quase subversivo.
Mas, como me disse meu filho, não basta apenas “ficar”. É preciso saber por que e por quem se permanece. Não se trata de apego, mas de ancoragem lúcida. A lealdade autêntica não é cega; ela enxerga com nitidez as falhas, mas escolhe, mesmo assim, não trair.
Talvez, no fundo, lealdade e fé sejam irmãs silenciosas. Ambas sustentam a alma no instante em que o mundo parece ruir. Ambas nos ensinam que há grandeza em repetir, diariamente, um “sim” consciente, mesmo quando tudo ao redor grita por desistência.
É preciso coragem para permanecer. Coragem para crer. Coragem para ser leal, mesmo quando o custo é alto — ou, quem sabe, justamente por isso.










