Este final de semana, enquanto escolhia uma playlist com músicas dos anos 80 e 90, fui tomada por uma nostalgia inesperada. Ao ver as cantoras da época, percebi uma beleza singela, quase despretensiosa, que irradiava autenticidade. Eram mulheres lindas de verdade, com sorrisos naturais e cabelos sem exageros, donas de uma elegância que vinha da confiança e do talento, e não de filtros ou intervenções estéticas. Inevitavelmente, comparei aquelas imagens com a beleza que se tornou padrão em nossos dias: rostos simétricos produzidos em clínicas, corpos esculpidos em laboratórios, traços homogeneizados que transformam pessoas únicas em versões quase idênticas umas das outras.
Não há mal algum em buscar procedimentos estéticos. A vaidade, em doses equilibradas, é natural e até saudável. O problema começa quando a busca pelo “melhor eu” se transforma em uma corrida sem linha de chegada, alimentada pela necessidade de exibir e ostentar. O corpo deixa de ser abrigo da alma para se tornar vitrine. A vida passa a ser medida por curtidas, visualizações e aprovações digitais. O “eu” interior, silencioso e essencial, vai sendo soterrado por camadas de maquiagem, filtros e intervenções, até quase desaparecer.
O culto à ostentação não se restringe à estética física. Ele transborda para os carros, as viagens, as roupas, os jantares fotografados antes mesmo de serem saboreados. Vivemos em uma era em que o ter parece ter engolido o ser. A comparação constante corrói a autoestima e cria uma ilusão de que felicidade é sinônimo de exibição. E, quanto mais nos afastamos de nós mesmos, mais necessitamos de aplausos externos para preencher o vazio interno.
É urgente resgatar o valor daquilo que realmente importa. A espiritualidade, que nos dá âncora em tempos de turbulência; a temperança, que nos ensina que o equilíbrio vale mais que o excesso; a família emocionalmente saudável, que é o porto seguro em meio ao caos do mundo; e a mente sã, que floresce quando alimentada com silêncio, estudo e relações genuínas. Esses elementos, invisíveis aos olhos, são os que verdadeiramente sustentam uma vida plena.
Se a beleza do passado parecia mais singela, talvez fosse porque havia menos medo de ser apenas humano. Hoje, a estética artificial e a ostentação nos prometem felicidade instantânea, mas entregam apenas um reflexo frágil e insaciável. É tempo de inverter a lógica: antes de buscarmos a beleza no espelho, precisamos reencontrá-la na alma. Porque, no fim, a verdadeira ostentação é viver com simplicidade, integridade e propósito.
Olhar para esse cenário provoca uma reflexão profunda: quantos de nós estamos, de fato, vivendo a vida que desejamos, e quantos estamos apenas interpretando um papel para a plateia invisível das redes sociais? A ostentação rouba a intimidade, transforma momentos em espetáculos e a vida em competição. Precisamos resgatar o prazer do que é simples: uma conversa demorada, uma música que marca a alma, um abraço verdadeiro, o silêncio de uma tarde chuvosa. Nessas pequenas grandezas mora a essência da vida, aquela que nenhum filtro ou cirurgia consegue reproduzir.










