
Na noite de 17 de setembro de 2025 Marcos Martins, o artista e professor de escultura da UFES, postou essa imagem de uma tatuagem recém feita/retocada de um João de Barro. Esta ave-desenho é uma imagem tradicional do sertão brasileiro – fonte geradora de muitas de suas obras nos últimos anos.
Na manhã de 18 de setembro fomos acordados com a sua passagem súbita para outro plano da existência. Fato que me consternou e me levou a escrever mais sobre ele.
O barco da vida o levou para navegar os mares do céu. Tão azuis quanto os de Fortaleza.

Marcos era um desses artistas simples, despojado da vaidade que assola muitos de nós artistas e outros do campo das artes. Ele era da terra. Trazia em sua alma criadora, tanto sua matriz nordestina, quanto sua vida por este Brasil, encarnava-os em sua alma.

Sua ação criadora trafegava desde a performance até a escultura, criando obras singulares e duradouras dentro da dialética instável do tempo. Nunca tradicional, sua obra era ousada. Nativa. Tinha na terra o seu elemento de poder. Na moradia, na casa, a sua imagem geradora.

Ele era nosso “passarinho” arquiteto. Era, verdadeiramente, um arquiteto da natureza. Construía suas “moradas”; seus ninhos que lhe tomavam, muitas vezes, seu próprio corpo, utilizando barro, gravetos e outros materiais naturais, com os quais desenhava outras realidades corporais e tempo-espaciais.
Esse talento arquitetônico garantia-lhe que sua obra fosse um ambiente (in)seguro e (des)confortável para aqueles desavisados de sua poética. Sua obra dialogava com os experimentos de Celeida Tostes, para quem o barro e o gesto eram a alma de sua criação.
Para Gaston Bachelard, filósofo francês, a casa é um espaço onírico, de afetos e memórias. Para Hundertwasser, a casa era uma das pelos que revestem nosso corpo e lhe dá identidade (o lar onde a intimidade e a rotina acontecem. Mas, Marcos Martins também adentrava mais no conceito da casa, penetrava-lhe os ambientes, circulava em sua casa-corpo tomada pelo barro – tal qual Celeida.
A casa-corpo de Marcos Martins era um refúgio; um espaço de identidade interior em cujo corpo sua mente habitava. Mas também, era local de fragilidades. Espaço dos compartilhamentos com aqueles à margem do sistema. Esquecido pelo estado de direito.

Marcos era sem dúvida um ativista, construtor de ideias e afetos; um ARTIVISTA.

Esse nosso menino pássaro do Sertão brasileiro, que voava para o Sul e sempre retornava ao Nordeste, tinha entre Vitória e Fortaleza o seu traçado migratório.

Agora, ele nos deixou para mais uma viagem!











Em 2012, fui aluna do Marcos, de uma turma EAD, em Bom Jesus do Norte, ES,onde ele foi nosso orientador do TCC, muito rígido e exigente com os alunos, conseguiu extrair de nós uma nota Dez, verdadeira. No início de 2025,precisei da ajuda dele para escrever um edital de arte, ele, não só ajudou, compartilhou seu conhecimento de curadoria e análise do meu trabalho, com muita generosidade. Nossa turma de 2012, sentiu muito sua partida.
um texto inspirado, inspirador!