Há 25 anos, quando criei o Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes (LEENA), o sonho era produzir e compartilhar conhecimento sobre a produção artística capixaba. Seguia os jornais locais na busca pelo pouco que tínhamos de reflexões, arte e cultura, em especial um pouco da tão esperada crítica de arte – que para nós artistas é um aval institucional da nossa produção.
Produzimos muita pesquisa e objetos artísticos nesse período, avançamos na visibilidade da produção dos artistas capixabas, mas, ao mesmo tempo, vimos desaparecer dos nossos jornais e meios de comunicação os espaços de crítica e reflexões sobre mostras e eventos culturais. Perdemos a regularidade com que essas informações eram compartilhadas com a sociedade.
Vimos o trabalho artístico ser relegado a segundo plano nas prioridades estratégicas das políticas sociais, mesmo com o avanço das tecnologias de informação e comunicação que, aparentemente, tornaram acessível e popular a comunicação nas redes. Mas, o trabalho de compartilhar opiniões profissionais sobre nossa cultura ficou cada vez mais particularizado e afastados, integrado apenas em guetos especializados (altamente excludentes).
Em contrapartida, a esse silenciamento nos espaços de reflexão sobre a cultura, a pesquisa e a produção em artes seguiram; e graças a parcerias como a da FAPES e das Secretarias Municipais e Estadual de Cultura seguiu resistente num país que parece se importar pouco com suas memórias e patrimônios culturais. Alias, nesses 25 anos do LEENA, vinte anos deles têm sido fomentados pela parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do Estado, via sua Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação (FAPES).
De um lado, a FAPES fomentou a produção de conhecimento; de outro, as secretarias de cultura têm mantido a produção artística. Entretanto, nas mídias sociais, parece que se minimizou a importância da arte e da cultura na formação de um povo, de uma sociedade justa e sensível.
Fica aqui nesse primeiro texto, o meu agradecimento ao grupo do ES Hoje que, de forma ímpar em um momento de excessos da sobremodernidade (lembrando aqui de Marc Augé), me abre espaço para realizar mais um sonho meu (um presente de bodas de prata do LEENA): escrever sobre arte e cultura no nosso estado. Poder ter a oportunidade de retomar o valor simbólico e estético dos fenômenos artísticos capixabas. Vamos falar deles, a partir de nós e para o mundo.
Desejo, do fundo do meu coração, que eu consiga cumprir esse papel que me foi delegado de forma tão gentil, num momento único para mim, para a arte e para a cultura. Espero falar de modo simples, mas com a profundidade e o respeito que os leitores dessa coluna merecem.
Faço votos que esta coluna prospere. Trata-se de um trabalho relevante e necessário.