Parte 1: O Início e a Fundação da Nação
A história pátria, frequentemente narrada sob a ótica dos palcos públicos, reserva um capítulo de profunda relevância à atuação da Sublime Ordem Maçônica. Como Maçom e profissional do Direito, é imperativo analisar o papel constante e, por vezes, silencioso, que nossa Augusta Instituição desempenhou na edificação das colunas do Brasil. De sociedade articuladora da Independência a baluarte dos ideais republicanos, o legado da Maçonaria é um testemunho de seu compromisso inabalável com a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.
O Grão-Mestre Imperial: A Efêmera Presença de Dom Pedro I
A complexidade da relação entre a Maçonaria e o poder constituído manifestou-se de forma emblemática na figura de Dom Pedro I. A história registra que o então Príncipe Regente foi, de fato, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil (GOB), uma ascensão que, embora meteórica, demonstra a urgência e a necessidade de coesão em um momento crucial. Sua iniciação, em 2 de agosto de 1822, e sua ascensão ao posto máximo em 24 de setembro do mesmo ano (não obstante alguns apontarem 5 de outubro, aquela possui maior consenso entre os historiadores maçônicos e é considerada a mais precisa), não foram meros acasos, mas sim um movimento estratégico para unificar as forças liberais em torno da causa da emancipação.
Contudo, a união entre o Trono e o Altar Maçônico foi breve. O espírito questionador e a defesa intransigente das liberdades individuais, inerentes aos nossos Trabalhos, logo entraram em conflito com o centralismo do Imperador. Em um ato que revela a tensão entre o poder temporal e a busca pela Luz, Dom Pedro I renunciou ao cargo e ordenou o fechamento das Lojas em 25 de outubro de 1822. Este episódio, embora doloroso, apenas reforça a natureza da Maçonaria como um espaço de pensamento livre, incapaz de se submeter a qualquer forma de despotismo.
A Luz da Independência: A Maçonaria como Articuladora da Pátria
O papel da Maçonaria na Independência de 1822 é um fato que honra o nosso Oriente. Nossas Lojas funcionaram como os verdadeiros centros de debate e articulação política para a elite que ansiava pela ruptura com o jugo português. A Ordem forneceu a rede de contatos e a coesão ideológica que permitiram a coordenação de ações cruciais, transformando ideais filosóficos em ação política concreta.
Entre os Irmãos que ergueram as Colunas da Pátria, destacam-se o Irmão José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência” e nosso primeiro Grão-Mestre, e o Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, cuja eloquência e articulação liberal foram essenciais. A Maçonaria esteve diretamente envolvida em eventos decisivos, como a articulação do Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), liderada por Irmãos como José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. A atuação coordenada desses membros influentes foi a argamassa que uniu os esforços para o sucesso da causa emancipacionista.
Parte 2: A Proclamação da República: O Triunfo dos Ideais Maçônicos
O Segundo Reinado testemunhou a Maçonaria ressurgir como um espaço de efervescência de ideias liberais, abolicionistas e, sobretudo, republicanas. A Ordem se tornou o ponto de encontro e coordenação para os opositores do Império, fornecendo a estrutura ideológica e a liderança necessárias para a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.
O evento que findou a Monarquia foi, inegavelmente, liderado por Irmãos. O Marechal Deodoro da Fonseca, que proclamou a República, e o Irmão Benjamin Constant, considerado o principal ideólogo do movimento, eram membros ativos. A influência da Ordem foi tão profunda que se estendeu à própria formação do novo regime. O primeiro ministério republicano foi composto quase integralmente por Maçons, incluindo nomes notáveis como Rui Barbosa, Campos Sales e Quintino Bocaiúva. Este período marca o auge da influência maçônica, demonstrando que os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade estavam na vanguarda das transformações políticas do país.
Parte 3: A Influência na Atualidade: A Perenidade do Trabalho Filantrópico
No Brasil contemporâneo, a influência da Maçonaria, embora menos centralizada em atos de ruptura política, é perene e fundamental. Nossa Ordem se define como uma instituição “essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista”, dedicada à investigação da verdade e à prática da Moral e da Virtude. Reconhecemos a existência do Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.), mas mantemos nossa natureza apartidária.
Nossa atuação hoje se concentra na Filantropia e no Desenvolvimento Social. Nossas Lojas dedicam-se a obras de caridade, apoio a hospitais, escolas e outras instituições, cumprindo o dever de auxiliar o próximo e aprimorar a sociedade.
No campo político, a Maçonaria continua a ser um espaço de sociabilidade e influência para muitos Irmãos que ocupam cargos públicos nos três poderes. A influência é exercida primariamente por meio da ação individual e da rede de contatos dos seus membros, e não por uma diretriz institucional de intervenção política. Manifestamo-nos sobre questões políticas amplas, como a defesa da democracia e do Estado de Direito, garantindo que os princípios que fundaram a nação permaneçam firmes.
Em última análise, o legado da Maçonaria brasileira é a prova de que a construção de uma nação é um trabalho contínuo, que exige mais do que leis e decretos; exige a arquitetura moral de seus cidadãos. Nossos Irmãos, em todos os tempos, têm se dedicado a essa nobre tarefa, garantindo que as Colunas do Brasil permaneçam erguidas sob os auspícios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
Artigo escrito em parceria com o soberano Grande Inspetor Geral – Grau 33º e Coronel da Reserva Jefferson Carlos Morais, Mestre Maçon.










