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4 de novembro de 2025
terça-feira, 4 de novembro de 2025
João Batista Dallapiccola Sampaio
João Batista Dallapiccola Sampaio
Advogado de balcão há 39 anos, especialista em direitos sociais, graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), pai orgulhoso e avô realizado
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Uma análise do legado maçônico nas colunas do Brasil

Parte 1: O Início e a Fundação da Nação

A história pátria, frequentemente narrada sob a ótica dos palcos públicos, reserva um capítulo de profunda relevância à atuação da Sublime Ordem Maçônica. Como Maçom e profissional do Direito, é imperativo analisar o papel constante e, por vezes, silencioso, que nossa Augusta Instituição desempenhou na edificação das colunas do Brasil. De sociedade articuladora da Independência a baluarte dos ideais republicanos, o legado da Maçonaria é um testemunho de seu compromisso inabalável com a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

O Grão-Mestre Imperial: A Efêmera Presença de Dom Pedro I

A complexidade da relação entre a Maçonaria e o poder constituído manifestou-se de forma emblemática na figura de Dom Pedro I. A história registra que o então Príncipe Regente foi, de fato, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil (GOB), uma ascensão que, embora meteórica, demonstra a urgência e a necessidade de coesão em um momento crucial. Sua iniciação, em 2 de agosto de 1822, e sua ascensão ao posto máximo em 24 de setembro do mesmo ano (não obstante alguns apontarem 5 de outubro, aquela possui maior consenso entre os historiadores maçônicos e é considerada a mais precisa), não foram meros acasos, mas sim um movimento estratégico para unificar as forças liberais em torno da causa da emancipação.

Contudo, a união entre o Trono e o Altar Maçônico foi breve. O espírito questionador e a defesa intransigente das liberdades individuais, inerentes aos nossos Trabalhos, logo entraram em conflito com o centralismo do Imperador. Em um ato que revela a tensão entre o poder temporal e a busca pela Luz, Dom Pedro I renunciou ao cargo e ordenou o fechamento das Lojas em 25 de outubro de 1822. Este episódio, embora doloroso, apenas reforça a natureza da Maçonaria como um espaço de pensamento livre, incapaz de se submeter a qualquer forma de despotismo.

A Luz da Independência: A Maçonaria como Articuladora da Pátria

O papel da Maçonaria na Independência de 1822 é um fato que honra o nosso Oriente. Nossas Lojas funcionaram como os verdadeiros centros de debate e articulação política para a elite que ansiava pela ruptura com o jugo português. A Ordem forneceu a rede de contatos e a coesão ideológica que permitiram a coordenação de ações cruciais, transformando ideais filosóficos em ação política concreta.

Entre os Irmãos que ergueram as Colunas da Pátria, destacam-se o Irmão José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência” e nosso primeiro Grão-Mestre, e o Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, cuja eloquência e articulação liberal foram essenciais. A Maçonaria esteve diretamente envolvida em eventos decisivos, como a articulação do Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), liderada por Irmãos como José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira. A atuação coordenada desses membros influentes foi a argamassa que uniu os esforços para o sucesso da causa emancipacionista.

Parte 2: A Proclamação da República: O Triunfo dos Ideais Maçônicos

O Segundo Reinado testemunhou a Maçonaria ressurgir como um espaço de efervescência de ideias liberais, abolicionistas e, sobretudo, republicanas. A Ordem se tornou o ponto de encontro e coordenação para os opositores do Império, fornecendo a estrutura ideológica e a liderança necessárias para a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.

O evento que findou a Monarquia foi, inegavelmente, liderado por Irmãos. O Marechal Deodoro da Fonseca, que proclamou a República, e o Irmão Benjamin Constant, considerado o principal ideólogo do movimento, eram membros ativos. A influência da Ordem foi tão profunda que se estendeu à própria formação do novo regime. O primeiro ministério republicano foi composto quase integralmente por Maçons, incluindo nomes notáveis como Rui Barbosa, Campos Sales e Quintino Bocaiúva. Este período marca o auge da influência maçônica, demonstrando que os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade estavam na vanguarda das transformações políticas do país.

Parte 3: A Influência na Atualidade: A Perenidade do Trabalho Filantrópico

No Brasil contemporâneo, a influência da Maçonaria, embora menos centralizada em atos de ruptura política, é perene e fundamental. Nossa Ordem se define como uma instituição “essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista”, dedicada à investigação da verdade e à prática da Moral e da Virtude. Reconhecemos a existência do Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.), mas mantemos nossa natureza apartidária.

Nossa atuação hoje se concentra na Filantropia e no Desenvolvimento Social. Nossas Lojas dedicam-se a obras de caridade, apoio a hospitais, escolas e outras instituições, cumprindo o dever de auxiliar o próximo e aprimorar a sociedade.

No campo político, a Maçonaria continua a ser um espaço de sociabilidade e influência para muitos Irmãos que ocupam cargos públicos nos três poderes. A influência é exercida primariamente por meio da ação individual e da rede de contatos dos seus membros, e não por uma diretriz institucional de intervenção política. Manifestamo-nos sobre questões políticas amplas, como a defesa da democracia e do Estado de Direito, garantindo que os princípios que fundaram a nação permaneçam firmes.

Em última análise, o legado da Maçonaria brasileira é a prova de que a construção de uma nação é um trabalho contínuo, que exige mais do que leis e decretos; exige a arquitetura moral de seus cidadãos. Nossos Irmãos, em todos os tempos, têm se dedicado a essa nobre tarefa, garantindo que as Colunas do Brasil permaneçam erguidas sob os auspícios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.

Artigo escrito em parceria com o soberano Grande Inspetor Geral – Grau 33º e Coronel da Reserva Jefferson Carlos Morais, Mestre Maçon.

João Batista Dallapiccola Sampaio
João Batista Dallapiccola Sampaio
Advogado de balcão há 39 anos, especialista em direitos sociais, graduado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), pai orgulhoso e avô realizado

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