Neste mês de julho, o país celebra os 30 anos de implantação do Plano Real, projeto de estabilidade monetária e que vinha sendo estruturada anos antes por uma equipe de renomados economistas, e que foi liderada pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, quem viria a ser, na sequência, o Presidente da República.
Foram diversos planos malsucedidos no meio do caminho, desde a redemocratização, como o Cruzado, Cruzado II, Verão e Collor, e que não conseguiram atingir o principal objetivo: o controle inflacionário.
O interessante é que a base do Plano Real, de estabilização da moeda, foi concebida 10 anos antes, pelo chamado Plano Larida, de André Lara Resende e Pérsio Arida. Porém, embora tenha sido colocado como uma opção para o então presidente José Sarney, na década de 80, optou-se por outro caminho que, a história mostrou, que não obteve êxito.
E qual foi a sacada do Plano Real? A utilização de outra moeda, contábil à época, para indexação, que foi a Unidade Real de Valor, a URV, equivalente a 1 dólar. Essa nova equiparação na época permitiu que não houvesse mudanças bruscas e significativas nos preços diários. Foi um processo, inclusive, de confiança e de entendimento do Plano por parte da população, para que seguisse no caminho exitoso. Tanto que ficou marcada a ida do FHC no programa do Silvio Santos, na busca de uma tradução do plano para uma linguagem popular.
Aos mais novos, vale lembrar, que a inflação no país era galopante, o preço praticado numa noite era já reajustado na manhã seguinte. Segundo o IBGE, no início de 1994, antes do início do Plano Real, as variações mensais eram superiores a 40%. A partir de julho, quando passou a vigorar, passou para 6,84% e já embalou uma sequência de altas modestas, de 1 ou 2%, o que não era visto há um bom tempo na história.
A importância de um controle inflacionário é o ganho do poder de compra das famílias e a melhora socioeconômica da sociedade. Nenhuma nação consegue obter um forte crescimento se não tiver uma moeda forte, com os preços equilibrados.
Pode-se dizer que o Plano Real foi o ponta pé de um grande processo de transformação na economia do país. Mas foram importante medidas complementares para que a inflação não saísse do seu eixo, como o PROER, de reestruturação de bancos privados em situação crítica e de bancos regionais, da implementação do regime de metas da inflação, além da Lei de Responsabilidade Fiscal. Sem essas ações, haveria risco de um gasto desenfreado e sem consequências, podendo alimentar novamente o tão conhecido dragão inflacionário.
Há alguns anos, o Brasil conviveu com inflação anual de mais de 10%, muito distante do que era antes do Real, mas fora dos parâmetros adequados, ocasionados pela pandemia do coronavírus. O IPCA, índice de preço oficial, elaborado pelo IBGE, está em torno de 4% no acumulado em 12 meses, o que está dentro dos limites estabelecidos da meta de inflação. A política de valorização do salário-mínimo, de correção real, é necessária para manter o poder de compra da população e mostra, mais uma vez, a importância de uma inflação baixa para a economia.
Portanto, o Plano Real foi o processo econômico mais importante da história brasileira. Tem que ser lembrado com frequência, ao longo desses marcos históricos, para mostrar que o Brasil pode e tem capacidade para realizar grandes mudanças estruturais no país e que não há mais espaço para qualquer desequilíbrio nas finanças públicas que venha trazer riscos a estabilidade do Real.