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21 de abril de 2025
segunda-feira, 21 de abril de 2025
Fernando Carreiro
Fernando Carreiro
Jornalista e consultor especializado em reputação, crises de imagem, comportamento humano e estratégia política e de marcas, é autor de ‘Campanhas, Casos & Cases
A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade de cada um deles e não reflete a posição de ES Hoje

Elogio não é de esquerda e crítica não é de direita

Um lado ou outro. Vidas inteiras foram reduzidas a uma espécie de maniqueísmo burro. Ou você é de esquerda, ou é de direita. Se critica o Lula, é fascista; se discorda de Bolsonaro, é comunista. Sobrou até para a imprensa, que durante o período anterior era aliada do PT e, neste governo, endireitou. Santa ignorância!

Elogio não é de esquerda e crítica não é de direita

O dualismo religioso sincretista que se originou na Pérsia e foi amplamente difundido no Império Romano por Mani Maniqueu recebeu o nome de Maniqueísmo, cuja doutrina consistia basicamente em afirmar a existência de um conflito cósmico entre o reino da luz e o das sombras: o bem contra o mal. Como tudo que diz respeito à fé – e o maniqueísmo combina elementos do zoroastrismo, antiga religião persa –, não há elementos racionais que comprovem sua existência; é algo intangível, constante no campo mais etéreo de nossos pensamentos.

Se analisarmos racionalmente as decisões de cada um de nós ser o que é, perceberemos que mais do que apontamentos rasos, toda maneira de agir como agimos é natural de nossas experiências, vivências e consequentes dificuldades que surgem ao longo do tempo e de nossa história.

Getúlio Vargas, por exemplo. De forma incontestável, foi de fato o fundador do Estado nacional. Criou a Petrobras, a Vale, as leis do trabalho – com direito a homenagem pelo Dia do Trabalhador, comemorado neste 1º de maio. Deixou um legado inquestionável. Mas foi um ditador, e isso também é incontestável. Admirar parte de sua importância para a República não faz de qualquer um de nós um getulista.

Juscelino Kubitschek deixou as finanças brasileiras em ruínas, foi um péssimo gestor da coisa pública. Mas interiorizou o país, marco fundamental de nossa história. Por entender a essência do trabalho de JK, afora sua herança maldita, torna um elogioso um juscelinista?

Elogio não é de esquerda e crítica não é de direita, e vice-versa. Nada é absolutamente certo ou absolutamente errado quando estamos falando de política. Há momentos de erros, de acertos, saldos positivos ou negativos, como podemos ver sem paixões no caso dos dois presidentes citados e, a rigor, em relação a todos os períodos históricos do país. Por outro lado, reconhecer as virtudes não significa fechar os olhos para erros e falhas graves.

Lula criou bolsas e auxílios que alçaram a classe média a um novo patamar dentro da sociedade; quem não conhecia o Brasil agora pode viajar de avião, exclusividade, há três décadas, dos ricos muito ricos. Todavia seu governo fechou os olhos para a sistematização da corrupção institucionalizada – e parte de seu PT foi parte executora desse processo. Do outro lado da moeda, Jair Bolsonaro dilapidou o meio ambiente, com a abertura da porteira para que a boiada passasse, negou a pandemia, insultou a democracia. Mas deu voz a uma parcela da sociedade que se via alijada em suas defesas de costumes e crenças, e isso faz parte da democracia, goste-se ou não.

É possível ser pró e ser anti, numa mesma conversa e a respeito de uma mesma pessoa ou figura política. O maniqueísmo é o escudo e a arma dos apaixonados. E as paixões costumam, como se sabe, costumam cegar a racionalidade. Isto, sim, é perigoso.

Fernando Carreiro
Fernando Carreiro
Jornalista e consultor especializado em reputação, crises de imagem, comportamento humano e estratégia política e de marcas, é autor de ‘Campanhas, Casos & Cases

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Comentários
  1. AO LER ESSE TRECHO DO TEXTO, FUI AO BANHEIRO VOMITAR.

    deu voz a uma parcela da sociedade que se via alijada em suas defesas de costumes e crenças, e isso faz parte da democracia, goste-se ou não.

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