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21 de março de 2025
sexta-feira, 21 de março de 2025
Felipe Izar
Felipe Izar
Felipe Izar é jornalista, músico e pós-graduado em marketing digital. São mais de 15 anos de experiência como profissional de comunicação: passou por redações de jornal, blogs, portais, assessorias de imprensa e escritório de marketing nas áreas de música, empresarial, política, de esportes e mais.
A opinião dos colunistas é de inteira responsabilidade de cada um deles e não reflete a posição de ES Hoje

Entrevista: Amaro Freitas, a força da natureza que, com música, dialoga com a urgência do nosso tempo

O pianista e compositor pernambucano Amaro Freitas é uma força da natureza. Quando assistimos aos seus shows, mais do que a habilidade formidável com o instrumento chama a atenção a entrega, a relação com o público e a técnica distinta e pouco usada em todo o mundo: a do piano preparado, desenvolvida pelo compositor John Cage (1912-1992) e que incide na colocação de objetos metálicos entre as cordas do piano para criar sons únicos e mais percussivos.

Entrevista: Amaro Freitas, a força da natureza que, com música, dialoga com a urgência do nosso tempo

É um artista que, como ele mesmo registra, superou o “100% do impossível”. Preto e da igreja evangélica na periferia do Recife, conquistou os continentes com a música instrumental. Já se consolidou na Europa, tocou nos Estados Unidos este ano e debutou no Japão em 2023. “O trabalho está sendo bem semeado internacionalmente e ultimamente eu tenho morado no check-in”, brinca.

Neste final de semana, Amaro desembarca mais perto de nós, em Vitória, onde faz seu show para a criançada no Musin (Festival Música na Infância). O evento, gratuito, acontece no Parque Pedra da Cebola, esta sexta (17) e sábado (18), a partir das 14 horas. Já em sua terceira edição, o Musin sempre traz uma proposta de imersão além do entretenimento, com música, oficinas e brincadeiras (veja programação completa abaixo).

Mas o que podemos esperar dessa força da natureza que nos visita? Amaro lançou no início deste ano seu quarto disco, “Y’Y” (pronuncia-se iêiê), batizado a partir de uma palavra do dialeto indígena sateré mawé, que significa água ou rio.

É um álbum que vai além do jazz, estilo no qual ele é reconhecido, e seus padrões. O trabalho conta histórias que homenageiam a Floresta Amazônica e, ao mesmo tempo, dialogam com a urgência do nosso tempo: o cuidado com o meio ambiente.

“É um chamado para a atenção com a nossa floresta, com o garimpo ilegal, com o desmatamento. O disco se expande com esse cuidado que devemos ter com nosso planeta, a não poluição dos oceanos, o não aquecimento global, o não desflorestamento, o efeito estufa, essa produção desenfreada de gases que jogamos na nossa atmosfera”, elucida.

Ouça “Y’Y” aqui:

Todo um universo de preocupações, portanto, que desemboca na tragédia que temos acompanhado no Rio Grande do Sul, cujas consequências levam o artista a outro chamado. “Que a gente possa nestas eleições pensar em representantes que pensem políticas públicas para trazer o equilíbrio do ecossistema”, pontua.

O novo álbum de Amaro evoca sonoridade mística, dos encantamentos do Norte, dos anseios da natureza. Por meio do piano, ele simboliza as emissões de beleza e socorro da água e das plantas.

É um álbum que se encontra profundamente com a obra de Naná Vasconcelos (1944-2016), ícone da percussão que, como Amaro, levou a música de Pernambuco para o mundo. “Viva Naná”, faixa de “Y’Y”, é o reconhecimento pela inspiração.

Há ainda no disco as participações do inglês Shabaka Hutchings, que tocou flauta na faixa-título e em “Encantados”, esta que contou também com o baterista norte-americano Hamid Drake e com o baixista cubano Aniel Someillan. O guitarrista norte-americano Jeff Parker, em “Mar de Cirandeiras”, e a harpista do mesmo país Brandee Younger, em “Gloriosa”, fecham os convidados especiais.

Sobre o encantamento, o show para a criançada de Amaro Freitas no Musin, na Capital do ES, glorifica as lendas do Norte que perpassam gerações, como Mapinguari, Saci-Pererê e a Mula sem Cabeça. Abaixo, leia entrevista exclusiva da coluna com o artista e mergulhe nos sonhos de quem fez o impossível se orgulhando do Brasil.

Felipe Izar – Amaro, você lançou no início do ano o disco “Y’Y”, com recado incisivo sobre a preservação do meio ambiente. Mesmo que o mergulho tenha sido no universo amazônico, como você conecta o álbum à tragédia do Rio Grande os Sul? E qual palavra gostaria de deixar neste momento?
Amaro Freitas – O disco “Y’Y” nasce dessa inspiração, dessa vontade de homenagear o Norte, a Floresta Amazônica. Mas, ao mesmo tempo, ele é um chamado. Um chamado para a atenção com a nossa floresta, com o garimpo ilegal, com o desmatamento. O disco se expande com esse cuidado que devemos ter com nosso planeta, a não poluição dos oceanos, o não aquecimento global, o não desflorestamento, o efeito estufa, essa produção desenfreada de gases que jogamos na nossa atmosfera. E tudo isso tem a ver com o balanceamento do planeta, com o que está acontecendo agora, por exemplo, no Rio Grande do Sul. Essa tragédia que está deixando tantas pessoas numa situação tão delicada e complicada. E, quando a gente entende um pouco dessa estrutura, dessa massa de ar frio que passa na floresta amazônica e aumenta a quantidade de umidade por conta da própria floresta e que isso desce até o Sul do país; e, ao mesmo tempo, desce essa massa de ar frio e vem a massa de ar quente que faz com que a chuva não chegue até São Paulo, até o sudeste do país. Dessa forma, aconteceu a catástrofe. E isso está diretamente conectado com um olhar urgente que precisamos ter do equilíbrio do nosso planeta, com o equilíbrio das nossas produções. Eu só desejo que esse momento horrível passe. E eu acho que fica este ensinamento. Para que a gente possa agora, nestas eleições, pensar em representantes que estejam pensando políticas que de alguma forma tragam o equilíbrio do ecossistema, diminuição de carbono, que tragam plantação de árvores, que consigam encontrar um equilíbrio entre o agronegócio e o não desmatamento. Acredito que essa também é uma responsabilidade nossa como povo brasileiro, de entender que este território é nosso e temos de ter orgulho de todo o Brasil. Essa catástrofe não pode passar e nada ser feito. Precisamos de atenção nas urnas.

Como administra internamente o percurso exitoso da Igreja evangélica na periferia do Recife para todo o mundo? Fazendo uma música livre, improvável de se popularizar e que tem chamado a atenção além dos festivais de Jazz?
Eu venho da igreja da periferia e cheguei onde cheguei. Nem sempre tudo foi tão orientado e planejado. Eu simplesmente tive um sonho de viver de música instrumental porque ganhei um DVD de jaz aos 15 anos. E eu consegui realizar esse sonho. Eu corri atrás disso, tentei me preparar ao máximo para chegar sempre de forma mais madura a cada etapa desse trabalho, desde a produção do primeiro disco, da fotografia, do release, do título das músicas. Então, para mim foi um processo que foi acontecendo e eu fui conseguindo entender algumas coisas. E outras coisas eu só consegui entender mais para frente. Mas foi um processo que ainda existe e fala sobre um lugar de superação mesmo, de chagar a lugares não imaginados e com probabilidade quase 100% de impossível: do território de onde eu venho para o lugar que eu ocupo hoje no mundo. É bem satisfatório poder fazer esse trabalho e entender também a posição política de girar o mundo, mas sempre voltar para o Recife. E isso cria uma conexão com a nova geração de músicos que estão vindo.

Por falar em além, nesta sexta você toca em Vitória, no Musin. Pode nos contar como preparou o show? Sabemos que você consegue se relacionar muito bem com o público do palco. Conversa com a plateia, faz com que todos participem da apresentação. De alguma forma, essa habilidade despertou o projeto para a criançada?
Esse show nasceu da proposta de uma produtora que me convidou para fazer um festival infantil aqui no Recife. Eu adorei, eu adoro crianças. Eu tenho dois sobrinhos, tenho uma relação maravilhosa com eles. E eu estou trazendo um show que é novo, vai ser o mesmo do “Y’Y” (novo disco). Mas é uma apresentação que fala de várias lendas do ditado popular brasileiro, como o Mapinguari. São os encantados do Norte: Saci-Pererê, Mula sem Cabeça. Eu trago uma ideia dessa sonoridade, dessas lendas populares brasileiras. Tudo isso misturando a técnica do piano preparado, que é algo extremamente raro de você ver. Deu muito certo essa troca com a criançada. Além do piano e dos vários elementos que eu coloco dentro dele também tem a Mbira, um instrumento africano muito bacana. Acho que vai ser um momento muito especial e mágico.

Ainda sobre a conexão da sua música com o público, qual o ponto central da aproximação? Contar histórias? Usar o instrumento, principalmente o piano, de formas diferentes da tradicional?
Essa forma de tocar o piano (preparado) poucos músicos usam no mundo e são muitas as possibilidades que isso gera. Eu acho que é uma coisa que vai fazer a criançada pirar. E também os pais das crianças. É um show, na verdade, para crianças e para pais.

Você já conquistou o mercado Europeu. Há foco agora em expandir o trabalho nos EUA?
A gente está com um trabalho cada vez mais sólido na Europa e eu sou muito orgulhoso disso. É um trabalho em equipe, muita gente está comigo. No ano passado, fizemos pela primeira vez uma temporada no Japão e foi incrível – volto para lá no próximo mês. O lançamento do disco (“Y’Y”) foi no dia 3 de março. O primeiro show foi em Nova York e foi incrível. Neste ano farei ainda duas turnês nos EUA, duas na Europa e duas no Japão. O trabalho está sendo bem semeado internacionalmente e ultimamente eu tenho morado no check-in. Mas, sempre quando eu volto para casa, eu volto para o Recife.

Entrevista: Amaro Freitas, a força da natureza que, com música, dialoga com a urgência do nosso tempoProgramação do Musin

Dia 17 – Sexta-feira
14h – Abertura
15h – Amaro Freitas para crianças
16h30 – Pés na Lua
18h30 – Tiquequê

Dia 18 – Sábado
14h – Abertura dos portões
15h – Rock de Brinquedo
16h – Lilian Menenguci – contação de histórias
16h30 – Maricotta
17h30 – Concurso de Fantasia
18h30 – Hélio Ziskind

Acesso o site do Musin e a rede social Instagram. A entrada é gratuita
Apoio: Instituto Cultural Vale (Master) e Prefeitura de Vitória (Bronze)

Felipe Izar
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Felipe Izar é jornalista, músico e pós-graduado em marketing digital. São mais de 15 anos de experiência como profissional de comunicação: passou por redações de jornal, blogs, portais, assessorias de imprensa e escritório de marketing nas áreas de música, empresarial, política, de esportes e mais.

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