No mês de novembro, todos os anos ocorre a Black Friday, evento de promoções e descontos que movimenta o comércio mundial e promete aos consumidores vantagens significativas de preços. Originada nos Estados Unidos, a data consolidou-se no Brasil ao longo da última década, tornando-se um dos períodos mais aguardados do varejo.
Contudo, a euforia que envolve o evento exige do consumidor brasileiro mais do que entusiasmo; é preciso adotar medidas estratégicas para garantir a real economia e evitar prejuízos que possam comprometer o orçamento familiar.
Para manter o equilíbrio financeiro, deve haver preparação e planejamento. É necessário estabelecer um orçamento máximo de gastos antes do evento, considerando as despesas fixas do mês e possíveis imprevistos. Esse cuidado visa prevenir o endividamento e mitigar a vulnerabilidade às compras por impulso, comportamento amplamente estimulado pela publicidade agressiva e pelas notificações de tempo limitado, como “últimas horas” ou “oferta relâmpago”.
A elaboração de uma lista prioritária de desejos é crucial. O foco deve recair exclusivamente sobre esses itens listados, desconsiderando aquisições motivadas apenas pelo apelo do desconto.
Outro fator que o consumidor deve ter atenção é a propaganda “metade do dobro”, a prática de elevar o preço base nas semanas que antecedem a Black Friday, para depois aplicar um suposto desconto. Essa conduta, infelizmente comum, ilude o consumidor e compromete a credibilidade das promoções.
Para combater essa desinformação, a pesquisa histórica de preços é uma etapa de suma importância. O consumidor deve fazer uso de ferramentas e websites rastreadores que documentam a variação de preço de um produto nos meses antecedentes, validando a autenticidade do percentual anunciado. Plataformas como Zoom, Buscapé e Google Shopping permitem visualizar o histórico de preços e identificar quando uma oferta é, de fato, vantajosa. É fundamental também realizar a comparação entre diferentes varejistas, não se limitando ao valor divulgado por uma única loja, e incluir o custo do frete no cálculo total da compra.
Outro aspecto relevante é o aumento das compras online. Desde a pandemia, o comércio eletrônico consolidou-se como principal canal de consumo durante a Black Friday, atraindo tanto grandes redes quanto pequenos empreendedores. Essa digitalização ampliou as oportunidades, mas também intensificou os riscos de fraudes. Muitos golpistas utilizam do período para aplicar práticas ilícitas, como fraudes e enganar consumidores desavisados, com preços muito abaixo do mercado, fazendo com que as compras se tornem um pesadelo.
Nesse contexto, a segurança digital assume a primeira linha de defesa contra golpes, clonagem de cartões e práticas de phishing. O consumidor deve sempre verificar o protocolo de segurança do website, representado pelo cadeado e o prefixo “https://” na barra de endereço. Conferir a exatidão da URL é essencial, pois endereços falsos, sutilmente alterados, são o principal vetor de ataques cibernéticos.
Recomenda-se a desconfiança imediata de ofertas com descontos irreais, acima de 70% ou 80%, e a cautela ao clicar em links recebidos por e-mail, SMS ou redes sociais. O mais seguro é acessar o site oficial digitando o endereço diretamente no navegador.
Para finalizar a transação com segurança, o uso de cartões de crédito virtuais de uso único é a medida mais eficaz para proteger os dados bancários. Para outros métodos de pagamento como PIX, deve-se realizar a conferência do CNPJ ou razão social do destinatário, que precisa corresponder à da empresa vendedora. A atenção a detalhes simples pode evitar prejuízos significativos.
Outro ponto muitas vezes negligenciado é o acompanhamento pós-compra. Guardar comprovantes, capturas de tela e e-mails de confirmação é essencial para eventuais reclamações. Em caso de atraso na entrega, produto divergente ou defeituoso, o consumidor tem respaldo legal. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) assegura o direito de arrependimento em até sete dias após o recebimento, permitindo o cancelamento da compra e o reembolso integral, inclusive do frete.
A Black Friday pode, de fato, representar uma oportunidade legítima de compra, desde que o entusiasmo não se sobreponha à razão. Mais do que correr atrás de descontos, é preciso ter consciência. Afinal, o verdadeiro negócio é aquele que não compromete o bolso, nem a tranquilidade.
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Stephanie Valencia
Economista e conselheira do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES)



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