O avanço do conhecimento científico é um empreendimento coletivo e contínuo. Poucos feitos nascem isolados. Mesmo os marcos inéditos repousam sobre as bases lançadas por gerações anteriores, os “ombros de gigantes”, como cunhou Newton. O Prêmio Nobel, aguardado ansiosamente pela comunidade científica internacional, reconhece, assim, não apenas descobertas, mas também trajetórias, diálogos e redes de colaboração.
Este espírito esteve particularmente presente no Prêmio Nobel de Física de 2025, concedido a Michel H. Devoret (Yale University e UC Santa Barbara), John M. Martinis (UC Santa Barbara) e John Clarke (UC Berkeley) por suas contribuições pioneiras à compreensão do tunelamento quântico macroscópico e à quantização da energia em circuitos elétricos.
O Comitê do Nobel fez questão de destacar o papel fundamental dos trabalhos do físico brasileiro Amir Caldeira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), cujo modelo teórico, o modelo de Caldeira-Leggett, foi verificado experimentalmente pelos laureados de 2025. Isto abriu caminho para a potencial revolucionária computação quântica.
No campo da Economia, o Comitê Nobel laureou três economistas cujos trabalhos forneceram respostas robustas a uma das mais persistentes questões da disciplina: como o crescimento econômico pode tornar-se sustentado ao longo do tempo? Esses economistas se apoiaram nos ombros do gigante Joseph Alois Schumpeter, um dos principais teóricos do desenvolvimento econômico do século passado.
Joel Mokyr (Northwestern University) foi reconhecido por sua investigação histórica que identificou os pré-requisitos do crescimento sustentado. Já Philippe Aghion (Collège de France) e Peter Howitt (Brown University) receberam o prêmio pelo desenvolvimento teórico do crescimento sustentado a partir da destruição criadora, conceito originalmente formulado por Schumpeter no início do século XX.
Em seu relatório oficial, o Comitê apresentou inicialmente um panorama histórico: um gráfico da evolução econômica da Inglaterra entre 1300 e 1700 revela um cenário de crescimento esporádico, seguido por longos períodos de estagnação ou retração. A partir do século XIX, no entanto, observa-se uma mudança estrutural. Gráficos posteriores demonstram um crescimento sustentado no Reino Unido e nos Estados Unidos entre 1800 e 2020. Essa transformação — de uma economia estática para uma dinâmica — é o objeto de estudo dos laureados deste ano.
Joel Mokyr, com base em vasta pesquisa histórica, argumenta que as inovações são o motor do progresso econômico. Contudo, elas exigem condições propícias para o desenvolvimento: instituições que fomentem a criatividade, uma cultura científica aberta à mudança, e mecanismos eficazes de disseminação e acúmulo do conhecimento. A ponte entre o conhecimento proposicional (conhecimento sobre os fenômenos naturais e regularidades do mundo físico) e prescritivo (como as coisas funcionam na prática) foi fundamental para o desenvolvimento e difusão das inovações.
Por sua vez, Aghion e Howitt desenvolveram uma estrutura teórica que permite compreender, com rigor matemático, os determinantes de longo prazo da mudança tecnológica. O modelo mostra que o avanço tecnológico eleva a produtividade, mas também desafia empresas e trabalhadores cujas tecnologias se tornaram obsoletas.
Um dos aspectos centrais de sua abordagem é o papel do ambiente competitivo. Em mercados mais concentrados, a inovação tende a desacelerar. Assim, seus estudos indicam que aspectos regulatórios é fundamental para preservar a vitalidade da economia e garantir que os benefícios do progresso tecnológico sejam amplamente distribuídos.
Ao reconhecer essas contribuições, os Prêmios Nobel de 2025 reafirmam o valor do conhecimento científico e tecnológico para levar a sociedade a patamares mais elevados de desenvolvimento e prosperidade. A ciência avança quando ousamos perguntar não apenas “como funciona?”, mas “como pode ser melhor?”.
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