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Tarifas e a nova ordem econômica mundial: desafios para o Brasil e Espírito Santo

No dia 9 de julho a sociedade brasileira, especialmente as classes política e empresarial, mostrou-se surpresa com o anúncio da imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras pelos Estados Unidos. O anúncio, com forte recorte geopolítico em sobreposição à geoeconomia, tem repercutido desde então, considerando os esforços direcionados à revisão do alcance dessa medida e o prazo para sua entrada em vigor: 1º de agosto.

A questão suscita importantes reflexões de médio e longo prazo para a economia brasileira e, de forma particular, para a capixaba.

Vivemos um momento de retomada de um conjunto de iniciativas que se enquadram no escopo do que se denomina política industrial. Estudo do Fundo Monetário Internacional de janeiro de 2024, intitulado “O retorno da política industrial em dados”, demonstra que medidas de política industrial estão crescendo consideravelmente em todo o mundo. Isso se deve a um conjunto de fatores, como o baixo crescimento econômico observado após as crises financeiras de 2008-2012, a pandemia, os conflitos geopolíticos, as iniciativas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e o acirramento da competição no mercado mundial, repercutindo em alertas sobre políticas de segurança nacional e retaliações no âmbito do comércio internacional.

Nesse sentido, é importante dizer que as políticas de comércio exterior do governo de Donald Trump são parte dessa tendência, embora de maneira mais radicalizada e com forte componente político, como foi o caso em relação ao Brasil.

Assim, o que é importante destacar é que, a despeito do governo norte-americano da ocasião — ressalta-se que o estudo do FMI é anterior às eleições norte-americanas de 2024 —, os elementos que abrangem as denominadas políticas industriais, entre os quais medidas de imposição de tarifas e outras relacionadas ao comércio exterior, farão parte da conjuntura econômica mundial no médio e longo prazo. E, diante dessa constatação, cabe apontar os desafios para a economia brasileira e do Espírito Santo nesse período.

Em primeiro lugar, é fundamental direcionar esforços no sentido de expandir o número de parceiros comerciais. É certo que nem todos os países têm demanda para consumo ou para transformação dos produtos vendidos pela nossa economia, mas é fundamental buscar estabelecer canais de comércio com aqueles com os quais ainda não temos relações e fortalecer ainda mais os já estabelecidos. Em segundo lugar — e até mais importante, tendo em vista que o primeiro é algo que já é tradição em nossa economia —, é desenvolver capacidades de internalizar a agregação de valor aos produtos produzidos.

Essas duas questões, inclusive, estão elencadas no âmbito do Plano de Desenvolvimento de Longo Prazo (PDLP) vigente no estado até 2035, o plano ES 500 Anos, como diretrizes da Missão 1: “Economia diversificada, inovadora e sustentável”. Alguns exemplos dessas diretrizes, que fazem parte do Objetivo 2, “Atração de investimentos”, são: “Atrair negócios e investimentos alinhados aos Setores ES 500, com infraestrutura, logística e incentivos direcionados”; “Qualificar e capacitar a agência de atração de investimentos para a prospecção ativa de negócios e a promoção do Espírito Santo nos mercados nacional e internacional”. Além disso, no objetivo “Setores ES 500”, constam como diretrizes: “Promover e incentivar a diversificação e o adensamento das cadeias produtivas, produzindo produtos de maior valor agregado e conteúdo tecnológico” e “Promover a prospecção de novos mercados nacionais e internacionais”.

No âmbito federal, está em fase final a elaboração da chamada ‘Estratégia Brasil 2050’, um Plano de Desenvolvimento de Longo Prazo (PDLP) com horizonte de 25 anos. Vale observar se a discussão econômica desse plano também dará ênfase a diretrizes semelhantes. Além disso, a própria iniciativa denominada “Rotas de Integração Sul-Americana” também tem importância nesse sentido, e é importante que os denominados estados não fronteiriços, como é o caso do Espírito Santo, por meio da classe política e empresarial, se apropriem de maneira qualificada dessa discussão.

Assim, o que é importante destacar é que as tarifas do governo norte-americano refletem, embora de maneira mais exacerbada, um contexto já sinalizado pelo Fundo Monetário Internacional desde o começo de 2024, com base em dados de 2023. Ou seja, a tendência é que, diante de um conjunto de iniciativas de política industrial em todo o mundo, um dos mecanismos utilizados sejam as barreiras à importação, que têm a capacidade de afetar consideravelmente tanto a economia brasileira quanto, principalmente, a do Espírito Santo — estado com o maior grau de abertura. E, nesse sentido, cabe às classes política e econômica, em conjunto, direcionarem esforços para lidar com essa dinâmica. Metas, objetivos e diretrizes para servir de norte já existem.

Tarifas e a nova ordem econômica mundial: desafios para o Brasil e Espírito Santo***

Raphael Rodrigues
Conselheiro do Corecon-ES
Bacharel em Ciências Econômicas (Ufes)
Mestre em Política Social (Ufes)
Doutor em Economia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Coluna de Economia
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O que impacta a economia do Espírito Santo e dos capixabas tem um espaço exclusivo em ES Hoje. Por meio de artigos de especialistas a coluna - em parceria com Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES) - visa oferece aos leitores uma análise clara, contextualizada e acessível das dinâmicas econômicas nacionais e internacionais, mostrando como decisões, eventos e tendências globais impactam direta e indiretamente o Espírito Santo. O estado aponta grande crescimento na indústria, comércio, serviços, agro, logística e transporte, portos, petróleo e gás. Em parceria com o Conselho de Economia do Estado, as análises alertam e atualizam o mercado.

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