João Coser*
O dia 9 de novembro é histórico. Em 1938, na Alemanha, nessa data, os judeus começaram a ser perseguidos pelos nazistas, no que ficou conhecido como ‘Noite dos Cristais’. A data ficou assim conhecida devido à imensa quantidade de vidros quebrados que cobriam as ruas nas cidades. Nessa noite, tropas alemãs destruíram mais de 8 mil casas e lojas judias, incendiaram sinagogas e atacaram judeus por todo o país.
Vivemos tempos de guerra, e não de paz. Israel, a Terra Santa, vive dias de tristes infortúnios. Vemos irmãos matando irmãos em nome de Deus e da política, em uma batalha tão sangrenta por divisões de territórios. O Papa Francisco foi feliz ao dizer, há poucos dias, que “as guerras são sempre uma derrota”. Não há virtude alguma em batalhas que não podemos vencer, e a guerra me parece ser uma delas.
Eu sou um homem público que defende a cultura da paz, desde pequeno. Todavia parte da classe política, nos últimos tempos, também tem se apresentado em clima de guerra. Os discursos são de ódio (as ações, também) e assumem o lugar das discussões que realmente importam: as políticas públicas capazes de transformar, para melhor, a vida dos cidadãos. Perceba você: ocupa-se um infindável tempo discutindo questões que pouco contribuem para com o crescimento das nossas cidades, enquanto elas são tomadas pelo mal e pela criminalidade.
Uma cidade é feita pelas pessoas que nela habitam, e nós, infelizmente, também estamos em guerra. Saímos de casa apavorados, com os vidros dos carros sempre fechados. Nos ônibus e nas ruas, a população anda alarmada. Vivemos em suspenso. Na Assembleia Legislativa, tenho feito a minha parte, valorizado a atuação dos nossos operadores de segurança pública, das polícias, e concentrado minhas energias em projetos e discussões em áreas que podem colaborar para mudar essa realidade, como a cultura e o esporte e políticas sociais de geração de emprego e renda, grandes promotores da igualdade. Em tudo isso, conto com a colaboração do Governo do Estado, sempre atento a esses problemas.
Quando fui prefeito de Vitória, procurei criar um ambiente social que possibilitasse a paz nos bairros onde hoje a criminalidade avança. Mas nada disso é possível se dentro da política não implementarmos a cultura da paz, se não houver uma trégua entre os polos e trabalharmos, todos juntos, pelo bem comum. A insegurança em nossa capital é uma realidade que deveria ser tratada com mais cuidado, sem a apresentação de soluções fáceis para resolver problemas crônicos. Nossa esperança está nas políticas públicas da educação, do esporte e da cultura, que a médio e longo prazos podem criar um ambiente mais tranquilo em sociedade; e na urgente e efetiva punição de quem comete malfeitos, para resolver esse problema agudo que assusta nossas famílias.
Mas nada disso será possível se não começarmos a estabelecer uma cultura de paz no território da política. Em João 3:16, a Palavra de Deus nos ensina que “Neste mundo tereis aflições; contudo, tenham bom ânimo: eu venci o mundo!”. Precisamos pensar nas pessoas, nas cidades, no futuro dos nossos filhos, na carreira profissional dos nossos jovens. O 9 de novembro nos ensina muito sobre o que não devemos jamais permitir que torne a acontecer: segregar qualquer povo por sua crença religiosa, por sua cor, por sua orientação sexual, ideologia ou classe social. Somos todos irmãos. Essa data é um retrovisor difícil de consultar, embora seja necessário, para que nunca mais se repita.
Na política, com a experiência que tenho, desejo continuar discutindo o futuro. É lá que vamos morar.
*João Coser
Ex-prefeito de Vitória
Deputado estadual pelo PT