A pesquisa que realizei durante sete anos – analisando 170 programas da área de segurança, implementados ao redor do mundo – sendo 41 destes no Brasil – que utilizaram as melhores evidências científicas, o bullying foi um dos tópicos destacados. Foi realizada análise de nível de bullying em 37 países, que identificou que aqueles com maior desigualdade de renda têm os piores níveis de bullying. Uma metanálise internacional que avaliou estudos sobre bullying em mais 80 países identificou que a prevalência média de vítimas de bullying escolar é de 35%.
O trabalho reuniu o consenso científico que existe no mundo para prevenir a violência contra jovens, crianças, mulheres, negros. Os critérios para seleção levaram em conta sua efetividade, a qualidade das evidências disponíveis, e preferencialmente, que os programas tenham sido avaliados pelos grandes portais de evidência do mundo: Campbell Collaboration, Crime Solutions e /ou What e Works for Crime Reduction.
No Brasil, a tragédia do dia 7 de abril de 2012, quando um ex-aluno de uma escola municipal do bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, vítima de bullying, invadiu uma sala de aula e atirou matando 12 crianças, chamou a atenção para o tema e resultou na aprovação da Lei 13.185/2016 que tornou o dia 7 de abril o Dia Nacional de Combate ao Bullying no Brasil.
Uma revisão sistemática sobre características da violência escolar no Brasil que sistematizou os resultados de 24 estudos já realizados sobre o tema no País identificou que o bulling é um dos tipos de violência que mais ocorre nas escolas, com 12 pesquisas de grande porte já feitas para mensurar sua prevalência e característica. Os resultados indicam que a prevalência de vítimas de bullying variou de 10,2% a 31,5% . Entre 82% e 83,9% dos professores já presenciaram uma situação em sala de aula. Segundo o estudo o bullying é mais freqüente em escolas privadas, sendo que suas vítimas e autores são na maioria, meninos.
Uma revisão sistemática sobre estudos que avaliaram a relação entre bullying (crianças que cometem atos de bullying) e trajetória violenta identificou a existência de 28 estudos longitudinais sobre o tema. A metanálise dos estudos indicou que a perpetração de bullying foi um fator de risco para o cometimento de atos criminais posteriores, especialmente na juventude, mesmo depois de controlar os principais fatores de risco na infância.
A metanálise de 44 pesquisas encontrou que os programas antibullying, foram em geral efetivos, conseguindo produzir uma redução de 20% a 23% dos casos. Segundo o estudo, os programas que demonstraram melhor resultado tinham as seguintes características: foram intensivos, tanto para os alunos quanto para professores (mais de 4 dias de treinamento). Contaram com uma política antibullying nas escolas.
Já os programas que tiveram resultados negativos, agravando problema, foram aqueles que realizaram atividades diretas entre vítimas e agressores, tal como mediação, e /ou que excluíram o agressor da escola, pois ele tende a acelerar o desenvolvimento do comportamento violento.
Inúmeros estudos já identificaram os impactos negativos nas vitímas de cyberbullying, como: baixo desempenho escolar, baixa autoestima, além da busca de alívio dos problemas nas drogas e no álcool. Uma pesquisa mundial do Instituto Ipsos mostrou que houve um aumento de 19%, em 2016, para 29%, em 2018, no número de pais brasileiros entrevistados que afirmaram terem os filhos se envolverem em casos de cyberbullying, isso fez o Brasil ficar na segunda posição mundial entre 28 países em que a pesquisa foi feita, onde a média ficou em 17%
A crise de segurança pode ser vista nos números prisionais o Brasil aumentou 700% o número de pessoas presas, saltando de 90 (1954 até 2018). Em 2017, entre as 50 cidades mais violentas em todo o Planeta, 17 eram brasileiras. Em outro rancking somos o 40 país mais violento do mundo entre 202 nações. O caminho é construir um Plano robusto e mais amplo do que apenas jogar nas costas da polícia resolver o problema, um projeto que tenha fortes programas de prevenção à violência, urbanismo e também de remodelação do sistema prisional, utilizando as melhores evidências sobre o que funciona. Hoje já existe uma ciência sobre a prevenção da violência.
Estive na cidade fluminense de Niterói, trinta vezes para construir o Pacto Niterói Contra a Violência, como consultor junto ao governo municipal, na gestão do ex-prefeito Rodrigo Neves, e sempre pensei no Rio de Janeiro como sinônimo de identidade social e cultural de todos os brasileiros – e por isso não deveria estar passando por essa crise.
Alberto Kopittke
Professor, advogado, doutor em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do RS ( PUC-RS), Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
Ex-diretor da Secretaria Nacional de Segurança Pública e Consultor em Segurança do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
Autor do livro “Manual de segurança pública baseada em evidências: o que funciona e o que não funciona na prevenção da violência”