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A questão da Correção Fraterna

Um amigo dizia que aprendeu a vestir-se dignamente depois que se casou. A esposa passou a exigir dele certa discrição nas cores, por exemplo. “Nada de bermuda amarela e camisa roxa”, falava a mulher entre risos e carinhos frouxos, desses que a intimidade presenteia os namorados apaixonados.

De minha parte, sempre achei extravagantes as roupas desse amigo, mas nunca o admoestei sobre isso. Mas reconheço que ele melhorou muito com as intervenções de moda. Muito mesmo. Veste-se com as luzes acesas, pelo menos, de modo a evitar os excessos e os contrastes que denunciavam certo desleixo, muito rapidamente superado pela delicadeza do amor que uniu o casal para sempre.

A correção fraterna é o resultado da caridade de voltar os olhos para alguém é, por amor, compreender os defeitos e indicar o caminho para se desfazer deles. Não é uma supervisão; é uma vigília, uma loga e paciente vigília em favor do amigo. Não é cuidar da ferida, mas da pessoa ferida, do coração esmagado e do espírito quebrantado.

Disso decorre que, para amar e corrigir, é preciso dar um passo em direção do outro. Olhar demoradamente e invadir – se for esse o melhor termo – o mundo enclausurado do amigo. Os escrúpulos e os respeitos humanos que o individualismo nos trouxe tentam impedir essa audácia, essa ousadia em entrar no universo de alguém para abraçá-lo, preferindo assistir à derrota anunciada do que se atrever a amar.

É preciso invadir o mundo do amigo que sofre. Oferecer-lhe tempo e companhia, ainda que seja repelido nas primeiras tentativas. Entrar no meio dos discípulos de Emaús, como o fez o Senhor. Sentar-se com a samaritana rejeitada. Atravessar os diálogos erráticos e, sem agressões ou vaidades, dar conselhos, convidar para um café ou apenas escutar pacientemente.

A caridade é uma virtude que se completa no outro e para o outro. Ninguém pode ser caridoso só para si mesmo. O nome disso é egoísmo, acho eu. Corrigir o amigo nos dias de hoje, além de um gesto heroico, é a rebeldia contra o isolamento e contra o desprezo pela vida, fortalecendo laços de amizade que podem durar para sempre.

Até breve.

Raphael Câmara
Raphael Câmara
Raphael Americano Câmara é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Formou-se em direito em 1999, tem mestrado, doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal do Espírito Santo em História Social das Relações Políticas, especializações em Direito Público e Direito Processual Civil.

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