Ir ao supermercado, abastecer o carro ou pagar a conta de energia tornou-se um exercício de cálculo diário para as famílias capixabas. Em um cenário de preços elevados e salários que não acompanham o mesmo ritmo de crescimento, o orçamento doméstico tornou-se um campo de escolhas difíceis, onde cada real gasto precisa ser pensado cuidadosamente.
Nos últimos anos, o maior impacto da inflação recaiu sobre produtos essenciais, especialmente alimentação, combustíveis e moradia. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, o consumo das famílias envolvendo essas três categorias representou 72,2% dos gastos, afetando em maior proporção as famílias de baixa e média renda.
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78,2% das famílias brasileiras estavam endividadas em maio de 2025. No Espírito Santo, a situação é ainda mais crítica: 89,4% das famílias capixabas enfrentavam algum tipo de endividamento em junho de 2025, com uma dívida média de R$ 5.775,71, conforme levantamento da Fecomércio-ES.
Além disso, 33,3% da população capixaba estava inadimplente, ou seja, com contas em atraso. Para muitas famílias, especialmente aquelas com renda de até três salários-mínimos, isso significa que grande parte da renda é destinada a alimentação e contas essenciais, deixando pouco espaço para lazer ou consumo de longo prazo.
Diante desse cenário, o comportamento de consumo mudou. Muitos capixabas passaram a priorizar os atacarejos para economizar e a buscar promoções em supermercados de bairro. O cartão de crédito e o parcelamento tornaram-se aliados, ainda que perigosos, para equilibrar o caixa no fim do mês. Já a compra de bens duráveis, como carros, móveis ou eletrodomésticos, foi adiada por boa parte das famílias.
O lazer também sofreu cortes. Viagens curtas, idas a restaurantes ou passeios pagos perderam espaço para alternativas gratuitas, como parques, praias e encontros em casa. No comércio, o reflexo é claro: há um aumento na procura por opções mais baratas e promoções sazonais.
No Espírito Santo, algumas particularidades ajudam a entender o quadro. Na Grande Vitória, com maior peso do setor de serviços e do funcionalismo público, há mais estabilidade de renda, mas também maior pressão por custo de vida. De acordo com levantamento do portal ES360, em junho de 2025, o valor médio do aluguel residencial na região foi de R$ 2.700,00 para apartamentos de dois quartos em áreas mais valorizadas. Além disso, segundo dados do Dieese, o custo da cesta básica na Grande Vitória foi de R$ 767,42, representando 48,06% da renda líquida média de um trabalhador com salário-mínimo.
No interior, fortemente ligado ao agronegócio, a renda oscila de acordo com safras e preços internacionais. Uma tendência cada vez mais clara é o avanço das compras digitais e dos aplicativos de entrega, que mudaram o padrão de consumo e trouxeram novas formas de gastar e de se endividar.
A educação financeira, que por muito tempo parecia distante, hoje se mostra essencial para os capixabas enfrentarem tempos de orçamento apertado. Ela é a base que permite à população planejar melhor os gastos, renegociar dívidas e tomar decisões mais conscientes, além de servir como ferramenta para evitar endividamentos excessivos e equilibrar o orçamento familiar. Conhecer o próprio orçamento, mapeando os gastos e o peso que cada um tem na renda mensal, ajuda as famílias a antecipar dificuldades, identificar oportunidades de economia e tomar decisões estratégicas para o futuro. Cada compra planejada, cada dívida renegociada e cada poupança construída refletem diretamente na qualidade de vida das famílias capixabas.
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