O mercado de trabalho global vem se transformando nos últimos anos com a adoção das novas tecnologias de inteligência artificial (IA), ampliando as oportunidades e alterando as estruturas dos postos de trabalho existentes. O uso de tecnologias inteligentes vem se tornando cada vez mais comum nas empresas, permitindo que elas aumentem sua produtividade e eficiência. Áreas operacionais, como autoatendimento, setores de cobrança, que possuem baixa especialização que antes eram ocupadas por pessoas, estão sendo substituídas por robôs, fazendo com que as pessoas nessas áreas busquem uma nova inserção no mercado de trabalho por meio de especializações voltadas para áreas estratégicas.
Esse movimento de crescente das IA permitiu a criação de novas áreas de trabalho como a de ciência de dados, desenvolvimento de algoritmos e análise de dados. Segundo o Barômetro Global de Empregos em IA 2025, o número de vagas que exigem conhecimento em IA no Brasil aumentou de 19 mil em 2021 para 73 mil em 2024, representando um crescimento de mais de 300%.
Apesar das oportunidades deste mercado, há muitos desafios a serem enfrentados. A substituição de empregos de baixa qualificação é uma das consequências mais visíveis da automação por IA. Áreas como produção industrial, transporte e serviços básicos estão entre as mais afetadas.
Alguns estudos globais trazem dados que apontam para índices os quais 41% dos empregadores no mundo planejam reduzir suas equipes devido à adoção da IA. E o Brasil segue a mesma tendência. Além disso, 32% dos brasileiros temem perder seus postos de trabalho para áreas automatizadas e controladas por IA, especialmente em setores mais operacionais.
A desigualdade no acesso à educação e à tecnologia é um fator crucial nesse cenário. Trabalhadores com baixa qualificação ou que residem em regiões com infraestrutura limitada enfrentam maiores dificuldades para se adaptar às novas demandas do mercado de trabalho.
Além disso, a automação e a inteligência artificial podem ampliar desigualdades já existentes. Diversos estudos indicam que mulheres estão mais concentradas em ocupações administrativas e de serviços, justamente os cargos mais suscetíveis à substituição por sistemas automatizados. Ao mesmo tempo, elas ainda enfrentam maiores barreiras de acesso à formação em áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que são as que mais crescem com a revolução digital. Esse descompasso pode aprofundar a desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
No Brasil, também existe um componente regional: trabalhadores de regiões menos desenvolvidas, onde a infraestrutura tecnológica é precária e as oportunidades de capacitação são limitadas, tendem a ter mais dificuldade em se adaptar às novas demandas do mercado. Enquanto grandes centros urbanos oferecem cursos, incubadoras e programas de inovação, muitas cidades menores ainda não contam com políticas públicas voltadas para a requalificação digital.
Se nada for feito, esse processo pode gerar uma forma de exclusão digital e profissional, onde grupos já vulneráveis — mulheres, jovens da periferia e trabalhadores de regiões afastadas — terão menor inserção nos novos setores impulsionados pela tecnologia, ampliando a concentração de renda e oportunidades nos mesmos polos de sempre.
Para que a transformação digital seja inclusiva e traga benefícios reais à sociedade, não basta apenas adotar novas tecnologias; é preciso garantir que todos tenham condições de acompanhar esse processo. Isso significa investir de forma contínua em educação e requalificação profissional, com foco em habilidades digitais e em competências socioemocionais que as máquinas não substituem, como criatividade, liderança e pensamento crítico.
Esses programas devem ser amplos e acessíveis, chegando não só aos grandes centros, mas também a regiões periféricas e cidades menores, de modo a reduzir a desigualdade regional no acesso às oportunidades do futuro. Isso só será possível se empresas e governos implementarem políticas de transparência e ética no uso da IA assegurando que algoritmos não reforcem preconceitos nem criem barreiras invisíveis no mercado de trabalho. A construção de um marco regulatório claro e atualizado é parte essencial dessa agenda.
A inteligência artificial e a automação já não são tendências distantes, elas estão reconfigurando o mercado de trabalho brasileiro, e global, neste momento. O desafio está em transformar esse movimento em uma oportunidade de inclusão, e não em um vetor de exclusão. Para isso, é fundamental combinar inovação tecnológica com inclusão digital, políticas públicas eficazes e responsabilidade social das empresas. Somente assim a transição será justa, equilibrada e capaz de gerar benefícios duradouros para a sociedade como um todo.
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