Caminhos e horizontes entrópicos das artes visuais capixabas
A Zona de Fratura Vitória-Trindade, ou ZFVT, embora muito conhecida pelos diletos dos estudos geográficos, é acidente geológico que não se caracteriza por abalos sísmicos, mas causa certa desordem na aparente calmaria que se instaura no nosso horizonte quando nos deleitamos frente ao mar na capital capixaba. Olhar a aparente calmaria dos nossos mares, parece nos iludir de que há uma ordem na plenitude da placa tectônica que nos abriga. Mas há uma falha, ou menos, uma fratura. A fratura induz uma trajetória instável.
Tomada a fratura estética como ponto de partida, pensar o horizonte da cultural visual capixaba pode parecer ser um caminho aleatório – mas, necessário; ato que não parece ser uma escolha, mas um fato. Como seguir na produção num polo gerador descentralizado dos polos hegemônicos? Ou, como ser visto na corte uma vez que por mais que falemos em decolonialismos, seguimos estes modelos em nossos microcosmos cotidianos? Se vivemos à margem das grandes capitais, em especial sufocados no sudeste brasileiro, como enfrentar equipamentos culturais que prolongam o estado de controle da produção artística nacional, em especial, de sua circulação e visibilidade? Um, grupo de artistas reunidos de Vitória, buscou, a partir do coletivo ATO FALHO, processos para romper essa impossibilidade simbólica. Busca se tornar fratura utópica.
Ato falho é um termo popular e uma brincadeira semântica de um grupo de artistas da capital capixaba. ATO FALHO, criado em 2019, é um coletivo que reúne artistas jovens e veteranos que buscam ampliar as reflexões sobre o processo criativo, num processo coletivo de autodescobertas e criatividade que fomenta processos individuais orquestrados pela figura antiga do “mestre”. Formado em torno do artista e professor João Wesley de Souza (foto), o grupo é composto por outros sete jovens artistas, todos com uma carreira promissora no horizonte das artes. E esses horizontes se ampliaram no final de 2023, na parceria com artistas consagrados como Hilal, Vilar e Rosana Paste, numa mostra realizada no Rio de Janeiro, com curadoria de João Wesley.
Com nomes de peso como os artistas Hilal Sami Hilal, José Carlos Vilar e Rosana Paste, a mostra idealizada por João Wesley ocupou o MAC Niterói e foi inaugurada no dia 02 de dezembro de 2023. Esta foi uma mostra ímpar que, atravessando fronteiras, levou um pouco da arte capixaba para visitar o MAC, para ser vista por artistas, turistas e pela população carioca. A mostra, intitulada “Arte e Processos de Criação” terminou nesse dia 25 de fevereiro de 2024, mas já é um marco, uma fratura, no sistema das artes. Foram mais de sessenta dias em que treze artistas capixabas, entre eles o coletivo ATO FALHO. Somados a outros artistas nacionais e internacionais, esse grupo de capixabas tomou posse de um espaço icônico da arte brasileira, se fazendo serem vistos para além do nosso território.
Esse ato é uma fratura no sistema das artes, sobretudo, mais um ato de resistência que evidencia a força da arte e dos artistas capixabas. Mais um ato de descentralização da produção artística de qualidade no país. Mais um grito de que há arte aqui.
A mostra no MAC é uma fratura entrópica no horizonte.
Serviço:
Integrantes do grupo ATO FALHO: João Wesley de Souza (artista e curador); André Magnago Alves, Arthur Meirelles Neto; Isabel Alegria Falconi Núñez; Jocimar Nalesso; Jovani Dala Bernardina; Júnior da Fonseca Bitencourt e Marcelo Gandini
Outros artistas capixabas na mostra: José Carlos Vilar; Rosana Paste; Sandro Novaes; Andrea Falqueto; Hilal Sami Hilal
Local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), Niterói, RJ