Durante sua gestão na Prefeitura de Vitória, o então jovem político, Chrisógono Teixeira da Cruz, se notabilizou, não só por sua impetuosidade no trato do desenvolvimento urbano da capital, mas, também, pelo impulso dado aos monumentos públicos no ecossistema urbano da ilha, foram muitos inaugurados. Hoje, dia 20 de novembro em comemoração ao dia da consciência negra, relevante fixar a análise sobre o Monumento a Dona Domingas, por motivos óbvios.
Mulher, negra, periférica e catadora de papel, Domingas, a princípio, não seria, nem de longe, o objeto de alguma homenagem publica, muito menos, aos pés do Palácio Anchieta. Como sabemos, esses lugares de celebração pública, geralmente são destinados, aos homens brancos em seus cavalos imponentes. Domingas penetrou nesse seleto clube de “Heróis Homenageados”, por algum motivo que ainda é fruto de investigação.
O que se pode afirmar é que, de forma definitiva, o “engenheiro prefeito”, como era conhecido o jovem Chrisógono, imortalizou essa mulher em forma de Estátua.
Mais do que celebrar Domingas, o dia de hoje, inclusive através do próprio monumento, nos convida a muitas reflexões, entre as quais, de que maneira poderemos estabelecer um debate público a respeito da origem da invisibilidade dessa obra. Inevitável inferir que o Monumento a Dona Domingas se confunde com a trajetória da mulher, na medida em que, de forma semelhante, ambos são objeto de silenciamento.
A Estátua, apesar da relevância, não tem data, a mulher, apesar de toda sua resiliência ante as dificuldades diárias provenientes de uma realidade humilde e desprovida de assistência governamental, não tem certidão de nascimento, não tem cidadania. Importante diminuir a distância ainda existente entre os Monumentos Públicos e a vida cotidiana das pessoas.
Nesse contexto, nada melhor do que o Monumento a Dona Domingas, tendo em vista o fato de, ao contrário de tantos outros, dialogar de maneira umbilical com o povo pobre da cidade de Vitória, que, de alguma forma vê sua história espelhada no Bronze imponente aos pés da escadaria do Palácio.
Razoável afirmar que, de alguma forma, a Arte pública capixaba, leva em sua estrutura as digitais de Chrisógono Teixeira da Cruz, afinal, coube a ele, evidenciar, no ecossistema urbano da cidade, a figura extremamente relevante de Dona Domingas.
Provavelmente, sem a escultura, essa mulher estaria relegada a um lugar comum de ignorância publica, consequentemente, não abriria o espaço fundamental em que a mulher negra pudesse de fato estabelecer sua marca, enquanto protagonista de seu destino, muitas vezes delegado a outros, que não a ela própria.
Viva Domingas! Salve Chrisógono!
Giuliano de Miranda
Pesquisador do Laboratório de extensão e pesquisa em Arte (LEENA/UFES)
Acredito que na estátua a Domingas não haja certos referenciais, como a data de nascimento dela, o seu sobrenome, porque ela foi erigida para homenagear todas as Domingas que hajam por aí, independentemente da época em que viveram e vivem. E sendo assim, acho genial. Porque homenagear apenas uma Domingas, seria relegar as outras suas semelhantes à própria obscuridade.