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Capixabas no estilo de vida contra a petrodependência

O consumo desenfreado de produtos derivados do petróleo está lotando o planeta de lixo. A conscientização dos malefícios de práticas comuns do nosso dia a dia pode ser o primeiro passo para adotarmos medidas sustentáveis para salvar as gerações futuras.

É difícil mudar as práticas que crescemos acostumados, que vão do consumo de alimentos embalados nos supermercados, ao descarte de lixo. Somos uma geração que cresceu acostumada com a praticidade das coisas, sem pensar muito nas consequências.

É sobre isso que grupos de pessoas se unem para tentar transformar uma sociedade mais consciente. O integrante do coletivo Pedalamente (@coletivopedalamente), Hudson Ribeiro, 26, é uma dessas pessoas.

Nascido em Guarapari, Hudson foi acostumado desde criança a andar na garupa da bicicleta onde os pais o levavam para todos os lugares. “A bicicleta foi sempre meu meio de transporte pra tudo, mas há oito anos, quando me mudei para Vitória, foi um choque cultural muito forte quando tentei manter essa prática aqui”.

O estudante destaca a relação complicada das pessoas com o trânsito. “Já quase fui atropelado várias vezes, não há punição”, afirma. Segundo ele, aumentar a circulação de bicicletas é incentivar a desaceleração. “Quando você privilegia medidas para a circulação dos carros, você incentiva a velocidade. É preciso dar mais espaço para as ciclovias em uma integração com o transporte público”.

Para ele, essa desaceleração é importante não só no trânsito quanto na vida. “A sensação de poder que o carro dá é muito grande, pela quantidade de energia que é liberada ao apertar o acelerador. As pessoas reclamam do trânsito, mas não entendem que o transporte não está funcionando do jeito que está”.

Hudson Ribeiro se envolveu com a causa da mobilidade urbana para chamar a atenção do poder público. Foi quando se tornou integrante do grupo Bicicletada, que tem como objetivo promover manifestações a favor das ciclovias.

“A partir de 2016 começamos a nos organizar como coletivo. O Pedalamente move diversas ações com foco na educação no trânsito. São oficinas, manutenção de bikes, atividades educativas nas escolas e comunidades para o incentivo do uso de bicicletas”.

As vantagens da transição para o transporte são muitas, e vão desde a própria saúde física ao benefício do coletivo. “A bicicleta, além de um exercício físico que proporciona lazer, é utilizada para o tratamento de doenças. Para o coletivo, diminui a emissão de carbono, reduzindo a poluição. Infelizmente a bicicleta não é 100% livre do petróleo, mas ainda é muito eficiente em relação a outros veículos”.

Agroecologia no apartamento

Não é preciso ser uma pessoa perfeitamente livre de derivados do petróleo. De acordo com a mestra em urbanismo e técnica em agroecologia, Nathalia Messina, 33, a diminuição do consumo de plástico já é um primeiro grande passo. “Entendo que é difícil desvincular do plástico, que consegue manter o produto por mais tempo, mas incentivo o plantio de alimentos frescos em casa”.

Foi com essa iniciativa que nasceu a Rede Urbana Capixaba de Agroecologia – RUCA (@ruca.agroecologia), com o objetivo de unir coletivos para fortalecer práticas agrícolas nas cidades do Espírito Santo. Segundo ela, mesmo morando em apartamento, é possível ter uma produção. “Mais do que querer ser perfeito, o ideal é multiplicar a prática”.

Primeiramente, é importante entender o ciclo dos produtos. É o que explica a integrante da RUCA. “A agroecologia envolve sistemas alimentares que independem do petróleo. É preciso entender de onde vem e pra onde vai o que consumimos. O cultivo agrícola hoje se tornou dependente de insumos de origem petroleira, desde o plantio à distribuição”.

A produção caseira de alimentos e o consumo a granel foram seus primeiros passos em busca de uma vida mais sustentável. “Comecei com a construção de uma horta comunitária em Recife, durante meu mestrado. Vindo para cá, morei em apartamento por muito tempo. Portanto, comecei através do plantio de alimentos, entre eles rúcula, hortelã, couve, agrião, e também com o plantio medicinal, tipo o boldo”.

Outra prática que já era adotada por Nathalia foi através da manutenção do lixo. “Sempre tive o hábito de separar o lixo úmido, isso veio de família. Mas com o plantio, além da reciclagem, passei a adotar a compostagem para criar meu próprio adubo”.

Compostagem para “lixo zero”

Capixabas no estilo de vida contra a petrodependência
Foto: Internet

Para quem não sabe, a compostagem é o conjunto de técnicas aplicadas para estimular a decomposição de materiais orgânicos, entre eles restos, talos e casca de verduras e frutas (com exceção das cítricas), cascas de ovo e borra de café. A composteira com minhocas é a mais utilizada em apartamentos, por exemplo. No Espírito Santo a Compostagem da Vila oferece esse tipo de serviço pago (@compostagemdavila).

Além de cultivar o plantio, a compostagem reduz e dá um destino correto para o lixo. “Com a redução do plástico, é possível chegar uma produção de lixo zero”.  Mas, como lembrado, tudo isso pode ser possível começando aos poucos. “Começando pelo plantio a pessoa acaba se inspirando para procurar um adubo e uma coisa acaba levando a outra. Esse tipo de incentivo pode vir tanto da comunidade quanto do poder público”.

É assim, em passos de formiguinha, que se transforma uma comunidade e a sociedade. Fabíola Melca é coordenadora e idealizadora da Associação Permacultural Jacutinga do Caparaó (@jacutingadocaparao). Para quem nunca ouviu falar em Permacultura, ela explica. “É relacionado à cultura permanente de recursos. Consiste em um conjunto de técnicas baseadas em três princípios: cuidar de si, do outro, e da terra”.

A permacultura é um conceito criado nos anos 80, que busca inspiração nas práticas dos nossos ancestrais, com o uso das novas tecnologias. “As principais atividades da permacultura incluem a utilização de energias renováveis, saneamento ecológico, alimentação natural, educação inclusiva, saúde natural por meio da prevenção com uso de ervas naturais, moradia, economia sustentável e destinação correta para o lixo”.

“Sempre houve um cuidado na minha família, mas sempre pensei que poderia fazer mais”, explica a coordenadora a associação. A partir disso, Fabíola passou a se envolver com projetos ambientais e transformou isso em trabalho. “Há seis anos iniciei minha transição para o campo em busca de uma vida mais natural e sem escassez”, conta.

A ideia é adotar práticas do campo, na cidade. “As pessoas estão muito desconectadas da realidade de como as coisas funcionam. Uma prática comum para nós, entre elas a descarga, gasta oito litros de água para diluir 70 ml de urina. Para isso, é possível adotar o saneamento seco ou instalar um biodigestor”.

A permacultura acredita que a sociedade está em transição. “O tempo de quarentena que estamos vivendo, por exemplo, nos dá uma oportunidade de olhar para dentro de casa, perceber mais a produção de lixo e, a partir disso, tentar diminuir”, explica a fundadora.

Fabíola destaca que atitudes micro e macro fazem toda a diferença. “É claro que a atitude pessoal de cada um importa, mas é preciso cooperação entre comunidade e governo. É importante destacar a responsabilidade de cada um, sabendo que quanto mais privilégio temos, nossa responsabilidade é maior. É preciso um equilíbrio socioeconômico”.

Para ela as práticas adotadas pela permacultura não são mais uma alternativa ao uso do petróleo. “Ou paramos de contaminar ou seremos contaminados. Não há mais alternativa”.

Uma coisa esses três capixabas que apresentaram seus projetos têm em comum: a educação socioeducativa. É possível observar que a consciência e práticas sustentáveis vêm de berço. Portanto, cabe às gerações passarem adiante mesmo as pequenas atitudes para garantir o futuro das novas crianças.

Algumas práticas que podem ser adotadas para diminuir o uso do petróleo:

  1. Escolha produtos sem embalagem plástica;
  2. Reduza o uso do automóvel e dê preferência ao uso da bicicleta;
  3. Se possível, instale painéis solares;
  4. Consuma alimentos agroecológicos;
  5. Evite o uso de canudos;
  6. Recomende a redução do consumo de plástico nos comércios;
  7. Prefira roupas com fibras naturais (algodão, linho, lã e seda);
  8. Priorize embalagens de papelão ou vidro;
  9. Evite produtos congelados nos mercados;
  10. Use sacolas retornáveis ou biodegradáveis para colocar o lixo. Dê preferência à caixas de papelão ou sacos de pão;
  11. Quando puder, utilize fraldas de pano;
  12. Compre produtos a granel;
  13. Escolha cosméticos que não possuam petrolato, outro componente derivado do petróleo.

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