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Acredite no que a criança tem a dizer, orienta pediatra diante de suspeita ou sinais de violência sexual

Ao menos um caso de criança ou adolescente vítima de violência sexual na região Metropolitana de Vitória é registrado por dia na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). A partir disso é possível perceber que o caso da menina de 10 anos, vítima de abusos sexuais em São Mateus, região Norte do Espírito Santo, que ganhou forte repercussão nacional, não é um caso único e nem isolado. 

Diante disso tudo também começou-se a discutir: quais os sinais de que uma criança pode estar sendo vítima de violência, sexual ou não? Por outro lado, antes de se fazer essa pergunta, a pediatra e diretora da Sociedade Espíritos Santense de Pediatria (Soespe) Mariangela Alocchio, orienta, que diante de qualquer sinal, é importante escutar e acreditar no que a criança, ou adolescente, tem a dizer.  

“Um sentimento que fica muito nas crianças ou adolescentes é de que quando elas dão sinais e não são acolhidas, e por isso falar em sempre acreditar na criança, que é importante. Além de não ser acolhida, ela acaba não sendo protegida, e carrega esses danos quando adulto, a de não ser protegida por quem deveria”, disse, ressaltando que os abusos contra menores de idade são mais do que frequentes e sem distinção social. 

Entre os principais sinais que uma criança pode apresentar após sofrer violência sexual, estão: irritabilidade, mudança de comportamento — crianças que brincavam e ficam retraídas —, medo com sinais de depressão e mudança de humor e rejeição à algumas pessoas, por exemplo. 

“A criança pode se tornar excessivamente tímida ou nervosa quando se aproxima de um possível abusador ou de um lugar onde isso pode está acontecendo. Muito introspectiva, calada, ‘preocupada’”, pontuou a psicóloga e terapeuta familiar Naira Caroline Araújo. “É preciso entender que esse excesso de preocupação pode vir de algo que está fazendo com que ela se sinta mal”. 

Dentro de casa

Acredite no que a criança tem a dizer, orienta pediatra diante de suspeita ou sinais de violência sexual
Mais de 70% da violência sexual contra crianças ocorre dentro de casa — (Foto: Agência Brasil /Marcelo Casal Jr)

Mesmo diante dos sinais, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) traz dois pontos prejudiciais no combate, de acordo com o delegado adjunto da DPCA, Diego Bermond, já que mais de 70% dos casos de abusos sexuais contra menores de idade acontece no ambiente de residência da vítima ou do próprio abusador. Além disso, Bermond destaca que muitos dos casos nem são noticiados. 

“O fato dessa quarentena, e dessa pandemia, acaba prejudicando de duas formas: oportunizando o abusador a ter mais tempo em algum cômodo ou casa com uma vítima, e também acaba tirando a possibilidade da criança de se manifestar fora do ambiente onde ocorre o abuso”, contou, explicando que setores da sociedade civil, como escolas e igrejas, se fazem importante no combate a violência sexual contra crianças e adolescentes. 

Junto disso, com a volta gradual das atividades econômicas e com os serviços considerados essenciais funcionando durante a pandemia, diversos pais ou responsáveis precisaram encontrar maneiras das crianças ficarem seguras e com pessoas de confiança. Porém, segundo Mariangela, com as escola não funcionando presencialmente, muitos pais não encontram outra saída e acabam deixando os próprios filhos nas mãos de pessoas que não são de confiança. 

Sobre isso, Bermond conta que os pais precisam ficar mais atentos, pois o violentador/abusador, pelo fato de estar sozinho por mais tempo com a criança, consegue praticar o crime. “A gente vive um período muito peculiar, ainda mais por ser uma crime clandestino, já que não tem a testemunha, sendo só a vítima e o abusador, o que faz com que as crianças estejam mais suscetíveis a serem abusadas”. 

Diante disso, a psicóloga e terapeuta familiar esclarece que muitas vezes a criança pode estar confusa. “Mesmo sentindo medo do abusador, ela o tem como alguém que ama, pois a maioria dos abusos sexuais acontecem dentro da família. Isso faz com que ela se sinta muito confusa, e assim ela tem dificuldade de se afastar do abusador”. 

A denúncia, por sua vez, havendo qualquer suspeita ou fundamento, pode ser feira por meio do Disque 100 ou se direcionando à unidade da DPCA. Segundo o delegado adjunto, a unidade conta com amparo psicológico que realiza uma avaliação junto do menor de idade, a fim de ofertar todos os direcionamentos necessários. 

“Tendo uma linha investigativa nós vamos até o suposto autor para interrogá-lo. A pena máxima é de 15 anos de reclusão, mas pode ser que ela acabe sendo aumentada caso o agressor tenha praticado por várias vezes ao longo do tempo o abuso, e assim pode chegar até a pena máxima, que é de 30 anos de cadeia”, explicou. 

Traumas 

Acredite no que a criança tem a dizer, orienta pediatra diante de suspeita ou sinais de violência sexual
A garantia da investigação não assegura não ter os traumas físicos e psicológicos que o menor de idade abusado está sujeito — (Foto: iStock/Getty Images)

Porém, a garantia da investigação não assegura deixar os traumas físicos e psicológicos que o menor de idade abusado está sujeito para trás. Segundo a pediatra, existem outros riscos além de uma gravidez, como aconteceu com a menina de dez anos, que vão desde de contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), como o HIV/Aids, a lesões físicas e emocionais. 

A partir disso, Naira diz que é preciso levar a criança a um atendimento, pois o profissional terá recursos para acolher e identificar. “Se a  criança receber um tratamento adequado, acolhimento e amor, os prejuízos emocionais podem ser bem menores, no entanto, o contrário pode comprometer a compreensão da sua própria existência e valores de vida, assim a da sua própria e a dos outros. Isso não é regra, cada criança supera e se expressa de uma forma. Os responsáveis também precisam receber orientação para lidar com a criança, como também apoio e acolhimento”. 

Nesse caminho, o delegado adjunto da DPCA explica que é primordial a conversa desde cedo sobre eventuais violências que a criança pode ser vítima.  “A gente sabe que é triste, mas muitas vezes os menores acham que fizeram algo errado para serem abusadas, fora o fato de não saber que estão sendo violentados e o receio a contar do abuso. Por isso a importância de conversar”.

Matheus Passos
Matheus Passos
Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário Faesa, atua como repórter multimídia no ESHoje desde abril de 2021. Atualmente também apresenta e produz o podcast ESOuVe. Ingressou como estagiário em junho de 2019. Antes atuou na Unidade de Comunicação Integrada da Federação das Indústrias do Estado (Findes).

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