O escritor e visionário Alvin Toffler lançou o livro A Terceira Onda em 1980 e, quando fui professor universitário, utilizei muitas de suas previsões. Naquela época, ele antecipou que o conhecimento e a informação seriam os principais recursos econômicos globais. Previu também o surgimento de uma cultura do corpo e da beleza, na qual as pessoas passariam a investir tempo e esforço para melhorar a aparência. Nesse novo cenário, o consumidor passaria a dedicar-se também à nutrição, à fisiologia autogerida, às dietas, à reeducação alimentar, às academias, às vitaminas e a outras práticas de bem-estar.
Você deve estar se perguntando: “Por que um engenheiro e empreendedor está falando de remédio?” A resposta é simples: porque quero tratar aqui de seus impactos no mercado.
Os grandes laboratórios mundiais estão investindo bilhões de dólares no desenvolvimento de novos medicamentos — ou adquirindo startups — cujo foco principal são as chamadas canetas emagrecedoras. Elas se tornaram uma febre, não apenas no Brasil, mas em diversos países. No mercado brasileiro, entre os principais nomes estão Mounjaro, Ozempic e Wegovy.
Vale destacar que não basta apenas usar a caneta. É necessário que a pessoa combine o tratamento com hábitos saudáveis: seguir uma dieta ou reeducação alimentar, praticar musculação para evitar a perda de massa muscular, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e manter noites de sono reparadoras. Essas canetas, além de promoverem emagrecimento por meio da redução do apetite, também tratam diabetes e outras doenças metabólicas. Mas atenção: seu uso deve ser feito somente sob prescrição médica, pois há riscos e possíveis efeitos colaterais.
Os impactos no mercado vão muito além da saúde. Diversos setores econômicos estão sendo — e ainda serão — afetados. Na alimentação, por exemplo, a redução da obesidade tende a significar menos consumo de fast food, refrigerantes e alimentos ultraprocessados. Com o aumento da saciedade, o volume de consumo de alimentos e snacks diminui, afetando até as vendas gerais de bens de consumo. A procura por suplementos, alimentos proteinados e vitaminas aumentará ainda mais. Já as bebidas alcoólicas, a tendência é o consumo cair ou mudar de perfil, com a busca por opções mais leves e funcionais.
No setor da moda e vestuário, haverá transformações. Se parte significativa dos consumidores reduz o tamanho, as grades de roupas, os estoques e o mix de produtos precisarão ser reavaliados, e a linha plus size poderá perder espaço.
Na área da saúde e dos seguros, a diminuição de doenças relacionadas ao peso pode resultar em redução de gastos hospitalares, maior longevidade e novos cálculos atuariais nas apólices de seguro de vida.
Por outro lado, cresce a procura por academias, esportes e atividades físicas, impulsionada pelo desejo de manter os resultados. Essa busca pode gerar um boom de negócios voltados ao bem-estar, como personal trainers, suplementos e produtos de suporte ao emagrecimento ativo.
Estamos vivendo uma reprogramação metabólica da sociedade, que exige adaptação das marcas, dos varejistas e das cadeias produtivas. A estética e o corpo estão na linha de frente dessa transformação, mas o efeito se espalha por todo o comportamento de consumo — como compramos, comemos, nos movemos e nos cuidamos.
Fazendo uma analogia com Toffler: se na “onda do conhecimento” fomos impulsionados a aprender, nesta “onda da estética e da saúde” somos impulsionados a transformar — corpos, mercados e expectativas. As canetas emagrecedoras representam o epicentro dessa nova fase.
Em suma, vivemos uma convergência entre saúde, estética e mercado, com impactos profundos e duradouros. Cabe a nós, como empreendedores, profissionais e cidadãos, compreender esse movimento para agir de forma estratégica — e aproveitar as novas oportunidades que estão surgindo.










