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O Brasil que sangra e cala

Nesta semana, o Brasil parou, perplexo, diante da cena de guerra instaurada no Rio de Janeiro. Uma megaoperação policial contra o Comando Vermelho, uma das facções mais poderosas do país. O resultado: dezenas de mortos — entre civis e policiais. Famílias dilaceradas. Uma cidade que já conhece o medo de perto, mais uma vez emudecida pelo som estridentes das “balas”. Diante desse cenário, minha opinião ainda busca forma. Mas algumas certezas já me habitam.

O tráfico de drogas transformou o Brasil em um país à beira do insustentável. Não falamos de um crime isolado, escondido nos becos, praticado às sombras. Falamos de um sistema organizado, que impõe terror e silêncio às comunidades, que recruta crianças como soldados antes mesmo de lhes permitir sonhar. Um sistema que pune a desobediência com a morte, sem processo, sem defesa, sem dignidade.

O narcotráfico não mais se limita aos morros. Seus tentáculos se expandem com a precisão de quem já aprendeu a movimentar milhões. Do depósito clandestino ao escritório com vista para o mar, dos becos aos pregões, das vielas estreitas aos salões refrigerados do poder econômico: o dinheiro do tráfico circula, aquece mercados, financia vidas de luxo, compra consciências. Quem tem coragem de apontar o dedo? Quem se atreve a perguntar de onde veio tanta riqueza sem lastro?

Enquanto isso, o Estado se vê acuado. Paralisado por amarras jurídicas, entraves burocráticos, falta de estrutura, de inteligência, de presença. Policiais que saem de casa sem saber se voltam. Cidadãos que aprendem a se proteger do acaso. E facções que ocupam o espaço vazio deixado pelo poder público. Quando a lei falha, outra lei se impõe — a do terror.

É preciso dizer com todas as letras: os traficantes não são vítimas sociais nesse jogo. São algozes. Integram organizações que operam com estratégia, crueldade e profissionalismo. O crime se tornou uma empresa. O medo, seu produto. O lucro, seu deus.

Se a operação no Rio foi proporcional ou não, cabe às autoridades competentes apurar. O Estado deve agir dentro da legalidade — sempre. Mas também deve agir. A omissão custa caro. Custa vidas.

Hoje, não me proponho a emitir um veredito sobre uma ação específica no Rio de Janeiro. Proponho-me apenas a reafirmar uma necessidade urgente: é preciso enfrentar o narcotráfico com firmeza, energia, inteligência e continuidade. Não basta uma megaoperação pontual. É preciso política pública robusta, presença do Estado onde o Estado nunca esteve, educação que ofereça futuro, justiça que alcance os de cima e os de baixo da pirâmide criminosa.

O Brasil não pode aceitar conviver com a lógica do crime como quem se acostuma ao clima ou ao trânsito. Não podemos naturalizar o absurdo. Não podemos desistir.

Que esta semana não se transforme em apenas mais uma estatística. Que seja um ponto de inflexão. Que o medo não vença o nosso desejo de viver em paz.

E que o Estado Democrático de Direito volte, de fato, a ser o maior poder do Brasil

Moema Giuberti
Moema Giuberti
Moema Giuberti. Promotora de Justiça há 17 anos. Mestra em Direto pela PUC/SP. Poetisa nas horas vagas.

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