Nas eleições presidenciais de 2002, José Serra me indicou como coordenador do seu Plano de Governo. Na verdade, meu papel era representa-lo em debates e entrevistas apresentando o projeto do PSDB que tinha no Plano Real e nas politicas sociais seu eixo principal. Fui a cerca de 16 eventos e debates em entidades como AmCham, FIRJAN e nas redes de televisão defendendo a candidatura de José Serra, a continuidade das conquistas dos governos FHC e desenhando os avanços futuros necessários ao Brasil. No programa Globo News Painel, com a mediação de William Waack, houve debates no primeiro e no segundo turno. Representei o PSDB em quase todos os programas.
A possibilidade de vitória de Lula fez o “Risco Brasil”, medido principalmente pelo EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus) calculado pelo banco JP Morgan explodir saindo de 700 pontos no primeiro semestre de 2002 para 2.400 no segundo turno em outubro. No final de junho, o PT lançou a “Carta ao Povo Brasileiro” afim de tranquilizar os mercados, os investidores e setores médios da sociedade brasileira diante do temor de uma guinada radical caso Lula fosse eleito. A Carta comprometia-se com respeito aos contratos, inclusive divida externa e interna, responsabilidade fiscal, combate a inflação, disciplina macroeconômica e programas sociais para reduzir a desigualdade.
Em outubro de 2002, o JP Morgan promoveu um evento em Londres para bancos, investidores, empresários e gestores financeiros com representantes dos candidatos a presidente e de seus partidos políticos. O cientista politico Murillo de Aragão organizou e mediou o debate em que participei pelo PSDB e que teve ainda Joaquim Levy pelo governo FHC. O PT anunciou que Aloisio Mercadante participaria representando Lula e o PT mas não mandou ninguém. Mostrei que a estabilização macroeconômica do Brasil, implantada pelo Plano Real, era uma conquista nacional, que não pertencia mais apenas ao PSDB. Defendi que uma vitória do PT não destruiria este legado apenas dificultaria os avanços futuros em direção ao crescimento da economia brasileira. Ao encerrar minha exposição mostrei um vídeo com o memorável gol de falta de Ronaldinho contra a seleção inglesa aconselhando os operadores do mercado a não apostar contra o Brasil.
A pauta econômica foi o principal divisor de águas na polarização PT-PSDB. O sucesso do Plano Real e toda a agenda das privatizações e responsabilidade fiscal só foram possíveis a partir da aliança politica do PSDB com o PFL de Luíz Eduardo Magalhaes, Marco Maciel, ACM e Jorge Bornhausen. O PT ganhou eleições e governou sem nunca reconhecer a responsabilidade política pela agenda econômica que se consolidou no país como conquista nacional para muito além da polarização PSDB-PT.
A pacificação do Brasil de hoje, a partir do julgamento e da condenação de Jair Messias Bolsonaro e seus liderados, depende de uma negociação em torno da democracia e das instituições brasileiras. Não pode haver mal entendido sobre quais são e onde estão os limites das chamadas “quatro linhas da Constituição”. As primeiras declarações do relator Deputado Paulinho da Força e, principalmente, a foto dele junto com Aécio Neves e Michel Temer mostra que o caminho da conciliação já foi escolhido pelas elites politicas do Brasil. A revisão da dosimetria das penas imputadas aos golpistas condenados pode ser compreendida e aceita desde de que feita em conjunto com o reforço do edifício jurídico e institucional da Constituição de 1988. A condenação deve ser respeitada e valer para sinalizar que a luta politica tem regras e limites e a pacificação negociada que esta sendo tentada no Congresso Nacional vai considerar esta premissa.
O aperfeiçoamento das instituições democráticas no Brasil não é um caminho tranquilo sem turbulência. A luta pelo poder e as disputas politicas se misturam com as narrativas radicalizadas que ganharam força com a revolução tecnológica na comunicação e no ambiente econômico digital. A radicalização extremista precisa ser derrotada politicamente para que possa haver pacificação e entendimento em torno das agendas de futuro sobre os verdadeiros problemas e desafios do país.
O Brasil tem conserto.











ATENÇÃO.
SEMPRE QUE ALGUÉM TEM DISCURSO IGUAL AO QUE ESTÁ NESSE ARTIGO, VOCÊ PODE ESTAR DIANTE DE UM ELETOR DE JMB.