Quando se inicia o estudo de ciências econômicas, logo os mestres começam a evidenciar a diferença entre a Macroeconomia e a Microeconomia. E o exemplo que se dá é o seguinte: um agente “A” tinha 90 kg de ouro em barras; o “B” tinha 100 Kg e o “C” possuía 150 Kg. De forma tal que a riqueza tinha a seguinte distribuição relativa: “A” com 26,47%; “B” com 29,41% e “C” 44,12%. Portanto, a riqueza total dessa comunidade fictícia era então de 340 Kg (100%).
Se o agente “A” roubasse do “C” 100 Kg de barras de ouro, obviamente, a nova configuração absoluta de riqueza seria de:
Agente “A” = 190 Kg;
Agente “B” = 100 Kg; e o
Agente “C” = 50 Kg.
A nova distribuição relativa da riqueza passaria a ser: “A” com 55,88%; “B” com 29,41% e “C” 14,71%.
O autor arrematava por conclusão que, por mais que os agentes roubassem entre si, nunca se alteraria o valor total da riqueza, sempre seria de 340 Kg de barras de ouro. Ou seja, em termos microeconômicos, ora um agente econômico era mais rico do que o outro, entretanto, quando visto macroeconomicamente a sociedade sempre teria uma mesma riqueza.
Portanto, a ciência econômica, em síntese, pode ser dividida em dois grandes campos de análise: a Microeconomia e a Macroeconomia. Ambas estudam comportamentos econômicos, mas sob perspectivas distintas, e suas conclusões têm implicações práticas decisivas para as políticas econômicas, empresariais e sociais de um país. O entendimento correto dessas diferenças é essencial para compreender os limites e os riscos de uma economia dominada por práticas extrativistas e pelo capital improdutivo.
A Microeconomia estuda o comportamento de agentes econômicos individuais: consumidores, empresas e mercados específicos. Analisa como as famílias decidem o que consumir, como as empresas decidem o que produzir, como se formam os preços, como ocorrem os equilíbrios parciais e as relações de oferta e demanda. Em outras palavras, examina as decisões descentralizadas e as alocações de recursos escassos.
Já a Macroeconomia, por sua vez, trata dos agregados econômicos: o nível geral de preços, o PIB, a taxa de juros, a inflação, o desemprego, o investimento público e privado, a política fiscal e monetária. Seu foco é compreender e manejar a economia como um todo. Diferente da micro, a macro não se ocupa apenas de decisões individuais, mas das condições estruturais que favorecem ou restringem o crescimento e o bem-estar social.
Essa distinção não é apenas metodológica, é também moral. A prática de transferências de riqueza sem geração de valor, como é o caso do rentismo excessivo, tem um efeito destrutivo sobre a economia real. O capital usurário, quando domina as decisões econômicas, desfaz o equilíbrio entre risco e retorno, desequilibra a produtividade e desestimula o investimento produtivo.
Sob uma ótica microeconômica, o agente que lucra através de juros excessivos, por exemplo, parece ser bem-sucedido, no entanto, sob uma ótica macroeconômica, a perpetuação dessas práticas compromete o dinamismo econômico, aumenta a desigualdade e promove um desvio de recursos da produção para a especulação.
É importante ressaltar que, na ótica macroeconômica, não há ganho coletivo no roubo ou na usura, e. g., o que um agente ganha à custa do outro, não se traduz em aumento de riqueza para a sociedade. Muito pelo contrário, quando os incentivos favorecem o capital improdutivo, a própria base produtiva se encolhe. E isso é facilmente perceptível em economias de baixa produtividade e alto custo do capital, como a brasileira.
Para um país ir avante, o capital precisa ser bem alocado. Rentistas são importantes até certo ponto, pois são agentes de intermediação financeira. Mas quando essa intermediação se torna um fim em si mesma, quando o foco do sistema financeiro é obter lucro com juros sem risco, sem empreender, sem inovar, sem gerar empregos, a economia afunda em um ciclo vicioso de estagnação e desigualdade.
Uma sociedade que aceita a acumulação patrimonial através da expropriação indireta, ou seja, por mecanismos de transferência sem geração de valor, está moral e tecnicamente condenada ao fracasso. Essa é a verdade econômica que une o diagnóstico micro e o macroeconômico, ou seja, o furto, em qualquer forma, seja direto ou por meio da usura, é sempre destrutivo.
Por isso, urge uma pedagogia econômica que ajude a população a compreender que o crescimento sustentável exige produtividade, inovação, eficiência e honestidade. Que a riqueza que realmente engrandece uma nação é aquela que nasce da produção, do trabalho e do espírito empreendedor – não da especulação ou da esperteza.
Com isso, talvez consigamos finalmente superar a cultura do privilégio e da vantagem indevida, substituindo-a por uma cultura da produtividade, do mérito e do bem comum.
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Vaner Corrêa Simões Junior
- Economista
Pós-graduado em Auditoria Contábil
Conselheiro do Corecon-ES