Poucas coisas são mais mal interpretadas do que o arrependimento. Parece ser fraqueza, covardia, coisa de gente que não sabe o que quer. Acham que é baixar a cabeça, quando na verdade é o único momento em que alguém de fato a levanta. Arrepender-se não é desistir. É voltar — e voltar exige mais coragem do que seguir errando com dura cerviz.
Talvez seja por isso que o arrependimento tenha se tornado quase uma derrota. Num mundo que idolatra a coerência de fachada, admitir que errou virou blasfêmia. “Você mudou?” — perguntam com ar de desconfiança. E a resposta certa deveria ser: “Sim, graças a Deus”. Mudar é sinal de vida. Mortos não mudam. Gente viva muda sempre. E quem não muda, apodrece.
Arrependimento não é autopiedade. Não é drama. Não é ensaio de redenção para a plateia. É aquilo que você sente quando olha no espelho e percebe que traiu a si mesmo. Que machucou alguém que não merecia. Que passou do limite sabendo que estava passando. E que agora só resta o silêncio, a vergonha e a escolha: seguir fingindo ou voltar, mesmo com o orgulho aos pedaços.
Há quem prefira afundar. Afinal, reconhecer o erro exige humildade — e humildade é para poucos. É mais fácil inventar uma nova verdade, mudar o discurso, culpar o outro, sorrir com superioridade. Mas no fundo, o cheiro da culpa fica. Igual ao cheiro que você tentou disfarçar com perfume caro. Sabe? Não sai.
Então se for para errar — e todos erramos muito — que ao menos haja coragem para retroceder. Que não se perca tanto tempo sustentando equívocos indefensáveis. Que a verdade, por mais amarga, tenha lugar. Porque a mentira pode até manter as aparências, mas o arrependimento — quando é verdadeiro — salva a alma.
Até breve!










