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“Eleição de 2026 será da renovação política”, aponta marqueteiro político

Marqueteiro responsável pela campanha de um bolsonarista em uma eleição e pela de um petista na subsequente, Fernando Carreiro aposta que a polarização radicalizada está chegando ao fim. Para ele, o eleitor se cansou dos medalhões da política e dos outsiders que não surpreendem quando eleitos. Por isso, o consultor, que já coordenou mais de 50 campanhas eleitorais nos últimos 20 anos em que atua no campo do marketing político e eleitoral, defende que a eleição de 2026 será da “renovação política segura”.

Nesta entrevista exclusiva para ES Hoje, Fernando Carreiro analisa os cenários políticos capixaba e nacional, o papel dos evangélicos, a fragmentação da direita e o futuro da esquerda, além de apontar caminhos para quem quiser ser eleito no ano que vem. E alfineta, quando perguntado para quem vai trabalhar no ano que vem: “Não sei para que candidato ou grupo político trabalharei em 2026, há um universo até as próximas eleições. O que posso te assegurar é que darei muito trabalho para o lado oposto ao que eu estiver”.

Confira os principais trechos da entrevista:

A campanha de 2026 parece ter começado antes do tempo no Espírito Santo e o que se vê são lideranças dos campos do centro e da centro-direita em muitas conversas e composições. Você trabalhou para a direita na eleição para o governo em 2022 e para a esquerda, nas municipais do ano passado. Na sua avaliação, há espaço para uma candidatura de esquerda no Estado, no ano que vem?
Fernando Carreiro: 
Historicamente, a esquerda tem entre 20% e 25% dos votos no Espírito Santo. Depois do surgimento do bolsonarismo, o conceito de conservadorismo está mais bem delineado na cabeça do eleitor, e há conservadores na esquerda que acabam não se alinhando com o aspecto de progressismo em excesso. A esquerda caminhou para um excedente de liberdade para fazer frente à extrema-direita, e erra nesse ponto porque acaba perdendo a ala conservadora que sempre aderiu ao progressismo. Então, talvez esses 25% recrudesçam um pouco.

Vai depender da campanha que será feita do outro lado do balcão. Se tivermos um candidato muito ligado ao bolsonarismo, a esquerda pode se fortalecer, como contraponto, como ocorreu na eleição de 2022, que levou para os braços de Lula aqueles que rejeitavam Bolsonaro. De qualquer maneira, alguém, aqui, terá de fazer palanque para o presidente ou para o candidato que ele indicar.

“Eleição de 2026 será da renovação política”, aponta marqueteiro políticoA federação formada por Progressistas e União Brasil forjou um titã. Qual será o papel dessa frente nas eleições do ano que vem?
De protagonismo. Tanto na esfera nacional quanto no Espírito Santo. Uma federação que larga com um enorme exército de vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores chega ao front de batalha com força vantajosa. Mas há outras federações vindo por aí. PSDB e Podemos devem se juntar, e MDB, Republicanos e PSD têm tido conversas bem estreitas nesse mesmo sentido. Vai ser uma boa briga de titãs. O Brasil, ao que parece, começa a formar grandes clãs e suplantar a fragmentação partidária que só deixa a política sem identidade. 

Ricardo Ferraço, Lorenzo Pazolini, Arnaldinho Borgo e, agora, Da Vitória. Essas figuras políticas já se colocaram como potenciais candidatos a governador, no campo de centro-direita, e têm feito intensos movimentos nesse sentido. Qual desses tem mais capital eleitoral para uma boa arrancada?
O Espírito Santo é um Estado que tem tradição de escolher para o governo nomes com perfil desenvolvimentista. Max Mauro, Albuíno Azeredo, Vitor Buaiz, José Ignacio, Paulo Hartung e Renato Casagrande: todos esses, apesar de suas peculiaridades e distinções, tinham como pano de fundo o desenvolvimento do Estado, fosse ele estrutural ou social. Esse foi, a propósito, o grande erro de Manato no segundo turno: verticalizou a campanha e sublimou o discurso regional. O capixaba não perdoa.

Eu reformularia sua pergunta: qual desses terá mais capital eleitoral à porta do processo eleitoral do ano que vem? Todos eles colocaram seus blocos na rua com muita antecedência. E essa não é uma jabuticaba capixaba; tem sido assim no Brasil inteiro. Isso é reflexo de uma crise de identidade política. Há sete anos apostamos na polarização radicalizada, agora estamos caminhando novamente para um equilíbrio. A direita já assumiu seu ar pós-bolsonarista, e eu já havia previsto isso em 2021, a redução da carga extremada em benefício de uma sensatez na política nacional. Essa transição, portanto, tem gerado uma crise de identidade política, que antecipa o processo.

No Espírito Santo há ainda um agravante. O governador Renato Casagrande não poderá disputar a reeleição e, ao que tudo indica, o ex-governador Paulo Hartung não vai se aventurar. Logo, os atores políticos querem garantir espaço nessa nova configuração política estadual.

Desses quatro citados por você, apenas dois têm lastro no interior do Estado, que concentra mais da metade do eleitorado capixaba. Espraiar a atuação da Grande Vitória para fora da região metropolitana exige tempo, disponibilidade e recursos financeiros. E, mesmo assim, não é garantia plena de um sucesso que tem de ser combinado com o eleitor.

Quem se coloca como candidato antes do tempo colhe louros e reveses: o nome ganha projeção, mas, também, fica exposto a investidas adversárias.

“Eleição de 2026 será da renovação política”, aponta marqueteiro políticoE o papel do governador Renato Casagrande nisso tudo?
Renato será o grande coordenador do processo, caso permaneça no governo. Caso renuncie para disputar o Senado, esse papel caberá a Ricardo, que pode ou não ser candidato à reeleição, a depender de como as pesquisas aferirão sua popularidade no início do próximo ano.

O que o mercado parece não ter entendido, ainda, é que o que está em jogo não é mais uma disputa entre o “grupo do Renato” e o “grupo do Paulo”. Estamos diante de um feito inédito nos últimos 25 anos: o surgimento de novos grupos políticos e de uma renovação das lideranças. Dessa forma, não descarto, sequer, uma composição entre os grupos hoje antagônicos, em torno de uma candidatura única.

Então teríamos apenas um candidato ao governo?
Isso é quase improvável. Salvo raríssimas exceções, há sempre um equilíbrio de forças em uma campanha eleitoral. A esquerda deve lançar um candidato para defender o legado do governo Lula. Caso não coloque um nome, a extrema-direita pode se inserir na disputa para tentar morder uma fatia do bolo eleitoral. Em cenários assim não há perdedores, só ganho de capital político.

O que eu sugeri é que nada é impossível na política, por mais que possa parecer improvável. Se os atores políticos entenderem que a Eras Paulo Hartung e Renato Casagrande terminaram, pode surgir uma nova aliança entre o grupo Pazolini e um nome mais digerível do outro campo político. Por que não? Esse nome dificilmente seria Ricardo, até mesmo por fazer parte do atual governo como vice-governador, mas pode ser um outro, com um acordo de alternância de poder.

Acha que Paulo Hartung estará fora do jogo?
Um animal político nunca está fora do jogo. Um animal político pode até escolher não estar de pé no tabuleiro, mas ajuda a mover as peças. Enquanto estiverem vivos, ele e Renato estarão no jogo. 

“Eleição de 2026 será da renovação política”, aponta marqueteiro político
Foto: Eduardo Mattos/Scriptum/PSD

Na sua opinião, qual será a pauta da campanha eleitoral do ano quem?
Vai depender de como reagirá a economia, se as forças de segurança reduzirão os índices de criminalidade ou se surgirão novos escândalos de corrupção. Esses temas sempre permeiam as campanhas eleitorais e ganham importância no debate público. Mas há uma certeza: 2026 será o ano da renovação segura na política. O brasileiro, de uma forma geral, está cansado dos medalhões da política e dos desconhecidos que não surpreendem ao serem eleitos. Aquele candidato que conseguir apresentar sua experiência e deixar o eleitor tranquilo quanto ao futuro, tende a levar a eleição.

Os evangélicos e protestantes têm crescido no Brasil e a expectativa é que até 2030 ultrapassem os católicos em números. Qual o papel deles na eleição?
Grande parte do segmento evangélico não vota em Lula ou em candidatos mais à esquerda. E essa não é uma decisão pautada rigorosamente pela agenda de costumes, mas também no campo da prosperidade, uma defesa quase intransigente das igrejas e que não foi encampada pela ala progressista da política. Faça o que fizer, o PT não vai levar o eleitorado evangélico no ano que vem. Enquanto não suavizar suas ações e reposicionar seu discurso, a maior parte do segmento religioso protestante será antipetista.

Os evangélicos podem decidir as eleições do ano que vem?
A decisão estará nos chamados swing voters. A maior parcela dos evangélicos está à direita e a maior parte dos não evangélicos, à esquerda. Um terço do país está à direita e um terço, à esquerda. Essa “meiuca” aí define a eleição. E esse meio do campo está sempre muito ligado às tendências e às demandas que surgem a cada pleito. O ano que vem será da renovação política.

“Eleição de 2026 será da renovação política”, aponta marqueteiro político

A direita se fragmentou nacionalmente?
A direita está discutindo seu futuro sem Bolsonaro. Ela vai chegar a um denominador comum, caso contrário entregará de bandeja a eleição para Lula. A política brasileira vive atualmente um momento muito importante, que é o de encontrar sua nova identidade nessa redemocratização.

Você já atuou em campanhas de direita e esquerda e já perpassou por diversos grupos políticos no Espírito Santo. Para quem você vai trabalhar no ano que vem?
Seria o mesmo que me perguntar qual roupa eu vestiria em uma festa de outubro do ano que vem (risos). Não sei para que candidato ou grupo político trabalharei em 2026, há um universo até as próximas eleições. O que posso te assegurar é que darei muito trabalho para o lado oposto ao que eu estiver (risos). Quando deixei a campanha de Manato, após o fim do primeiro turno, recebi um convite para trabalhar na campanha adversária. Evidentemente não aceitei, porque não seria ético de minha parte nem era do meu interesse àquela altura e dadas as condições de temperatura e pressão, mas esse movimento talvez represente a importância de não me ter como adversário (risos).

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