O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ficou bastante evidenciado nos últimos anos. Apesar disso, a Secretária de Saúde do Espírito Santo (Sesa), informa que, atualmente, no Brasil, não existe um monitoramento do número de pessoas com a doença.
O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos explica que o TDAH é uma condição neuropsiquiátrica que afeta pré-escolares, crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo. A principal característica um padrão de redução sustentada no nível de atenção e uma intensificação na impulsividade ou hiperatividade.
Segundo o especialista, o TDAH é genético, com uma herdabilidade de 75%. Alguns estudos epidemiológicos sugerem que o transtorno ocorra em 5% dos jovens e em 2,5% da população adulta. Por isso, é preciso ficar atento aos sintomas.
O também psiquiatra Valber Dias Pinto afirma que o diagnóstico tardio costuma trazer prejuízos cumulativos desnecessários para o portador de TDAH, levando, no mínimo, à prejuízos na autoestima.
De acordo com o psiquiatra, o TDAH é muito comum e, frequentemente, pessoas com o transtorno não terminam o que começam e são taxados de preguiçosos e até de incapazes. “O que é uma tristeza, pois, geralmente, são tão inteligentes ou mais que outras pessoas.”
Sintomas
Valdir Campos diz que, a partir do primeiro ano de idade, os portadores de TDAH apresentam agitação psicomotora, necessitam de vigilância constante, quebram objetos com frequência e se desinteressam rapidamente por brinquedos ou situações.
“Os meninos, principalmente, podem apresentar prejuízos no desenvolvimento da fala, com aquisição mais lenta e presença de trocas, omissões e distorções fonêmicas, além de um ritmo mais acelerado (taquilalia).”
De acordo com o especialista, são crianças com alto nível de distraibilidade, o que as leva à relutância em se engajarem em atividades que demandam esforço mental, bem como a perderem objetos ou esquecerem tarefas facilmente.
“Paralelamente, pode-se observar hiperatividade intensa. São importantes, também, a descoordenação motora e o retardo na aquisição de automatismos mais tardios (como amarrar um sapato ou utilizar um lápis), que se refletem em uma dispraxia em relação a crianças sadias de mesma faixa etária”.
O psiquiatra ainda explica que cerca de 60 a 85% dos indivíduos diagnosticados quando crianças continuam a apresentar os sintomas do transtorno na adolescência e até 60% permanecem sintomáticos na vida adulta.
O manual estatístico de doenças mentais (DSM 5) traz três especificadores:
(1) apresentação combinada
(2) apresentação predominantemente desatenta
(3) apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva
Descoberta
A estudante de medicina veterinária, Raissa Viola Talon, de 27 anos, explicou que desconfiava ter TDAH por problemas de concentração e não conseguir manter o foco em tarefas do dia a dia.
“Eu já meio desconfiava porque sempre tive problemas para me concentrar pra estudar. Não consigo/conseguia manter o foco nem em atividades simples do dia a dia, não recordava de algumas coisas que tinha acabado de ler, entre outras coisas, até que conversei com alguns amigos que tinham e vi que podia também ter.”
Durante uma conversa com uma terapeuta, a jovem descobriu que, de fato, tem TDAH. “Resolvi conversar com a minha psicóloga por conta dos problemas que o transtorno me gerava e ela me confirmou que eu realmente tenho e que precisava verificar o nível com um psiquiatra, pra buscar um melhor tratamento”.
A também estudante Julia Beatriz Santana de Almeida, de 21 anos, apesar de ter problemas de concentração desde criança, descobriu o TDAH apenas na vida adulta.
“Desde criança eu já tinha certas dificuldades, principalmente com matemática. Já na vida adulta eu comecei a perceber na faculdade. Não podia ouvir qualquer barulhinho, além da voz do professor, que já me distraia e perdia totalmente o foco”.
Em meio a uma pesquisa sobre a doença na internet, a jovem percebeu que realmente tem o TDAH. “Foi quando eu resolvi começar a pesquisar bastante sobre o assunto e fiz meu próprio diagnóstico. Logo depois disso eu procurei um especialista e fui diagnosticada por ele”.
Dificuldades
Raissa Talon relata que passa por diversas dificuldades.”Tenho crises de ansiedade constantemente, não consigo manter o foco em nada, nem em estudo, até livros em forma de lazer. Esqueço facilmente das coisas, procrastino em tarefas básicas”.
Além disso, para ela a parte mais difícil são os estudos. “Acaba influenciando meu desempenho na faculdade e minha relação com as pessoas, além, é claro, das crises de ansiedade”.
Julia Almeida diz que cada pessoa com TDAH tem sintomas e necessidades diferentes. “A minha maior dificuldade é a concentração nos estudos. Se eu não estiver usando a medicação fica bastante complicado. E também a minha vontade de seguir com projetos pessoais. Mas, depois que entrei com a medicação adequada e fui acertado a dose, minha vida mudou”.
Após o diagnóstico
Segundo o psiquiatra Valdir Campos, após o diagnostico, o protocolo o tratamento passa a ser focado mais em terapias psicossociais, entre elas: terapia cognitivo comportamental, terapias fonoaudiológicas, corporal, ludoterapia ou abordagens psicopedagógicas para aprimorar o desempenho e conduta.
A criação de um protocolo facilita o acesso ao tratamento sobretudo pelo SUS, pois, geralmente, o tratamento medicamentoso é de alto custo, diz o psiquiatra.
Em relação ao tratamento acompanhado no SUS, a Sesa explica que as pessoas com transtornos hipercinéticos (dentre eles o TDAH) podem ser acompanhadas na Atenção Primária e nos Centros de Atenção Psicossocial, bem como pelos pontos de Atenção Especializada, se necessário.
A SESA explica que, no Espírito Santo, os atendimentos a população com deficiência mental/intelectual são prestados pelas APAEs, Associações Pestalozzi, além da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD), fornecidos pelo SUS.
Segundo as diretrizes e regulamentações do Ministério da Saúde, o cuidado a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e famílias se faz pelas seguintes redes: Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), instituída pela Portaria Ministerial Nº 3.088/2011, e pela Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD), instituída na Portaria Ministerial Nº 793/2012, devendo-se considerar que a construção e a execução das políticas públicas são orientadas pelos princípios do SUS de equidade, integralidade e universalidade.