Três capixabas relatam, em entrevista a ESHoje, os desafios encontrados em meio ao calor extremo nos três dias de show da cantora Taylor Swift, no Rio de Janeiro. Uma na estreia, uma no cancelamento e outra na chuva.
Nesta sexta-feira (17), durante o primeiro show, no estádio Nilton Santos, uma jovem universitária,
Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu após passar mal. Ela sofreu uma parada cardiorrespiratória.
A sensação térmica no local da apresentação atingiu a marca de 60°C e a jovem desmaiou pouco depois de a cantora americana entrar no palco. Ela chegou a receber os primeiros atendimentos no local. Depois, foi levada para o Hospital Municipal Salgado Filho, mas não resistiu.
Sexta-feira (17)
A universitária capixaba Ana Victoria Mantovani foi no show do dia 17 e conta que o dia estava quente acima do normal. “Me preparei, comprei água, barra de cereal tudo para ficar bem, porque não era o primeiro show desse porte que eu ia, então estou acostumada”.
Ana chegou na fila 15 minutos antes de abrir os portões e conta que a desorganização era nítida. Ao entrar no estádio, a primeira impressão da jovem era de estar entrando em um forno.
“Antes mesmo de começar o show de abertura da Sabrina Carpenter, já tinha comprado quatro copos de água. Uma era para beber e a outra no corpo, só assim para aguentar. A água ficava quente em minutos, eu fiquei jogando agua o tempo todo em mim para aguentar”.
Apesar da preparação, Ana começou a passar mal no final do primeiro show. “Virei para um conhecido e disse que iria desmaiar, não estava aguentando ficar em pé e não conseguia mais ouvir. Nessa hora minha única preocupação era proteger meus pertences e chegar o mais rápido o possível no posto médico”.
Ana precisou ir duas vezes até o posto médico. “O posto médico estava lotado, a ponto de precisar sentar no chão para esperar o atendimento. Na primeira vez me deram água e fiquei bem. Na segunda, minha pressão estava 10/6 e meus batimentos estavam 138, e olha que bebi muita água e comi barrinha de cereal e tudo que levei na bolsa”.
Nesse momento, Ana foi colocada no soro juntamente a outras quatro garotas. “Na hora que eu estava lá (posto médico) uma menina gringa estava passando mal e isso me deixou muito nervosa porque estavam amarrando ela na maca porque tinha vomitado bastante. Outra menina entrou na cadeira de rodas se tremendo toda e passando muito mal”.
Após começar a se sentir melhor, a fã conta que voltou para o show e procurou uma área mais espaçosa para ficar. “Logo após o final do show. descobri a morte de uma fã e que fecharam as saídas de ar do Engenhão porque alegaram que pessoas lá fora iriam ver o show”.
“O estádio estava um forno, nunca senti tanto calor assim em toda minha vida. A cada cinco minuto conseguia ver alguém sendo carregado ao posto médico”, relata a universitária.
A jovem aponta que houve ganância por parte da empresa organizadora do evento, que colocou em risco a saúde dos fãs. “Não era para mil pessoas passarem mal. Além de uma questão climática, a empresa colocou o dinheiro acima da nossa segurança e bem estar. Um copo de água custava quase R$ 10, um lanche mais de R$ 30. Tudo estava caro, não deixaram entrar com água e nem leque”.
Sábado (18)
A jornalista Miranda Perozini conta que foi para o show de sábado (18), cancelado minutos antes de começar. “Minha prima veio do Espírito Santo para poder assistir ao show. Ela é autista e eu fui para acompanhar ela. Chegando lá, a maioria das pessoas já estavam no estádio e faltavam apenas 30 minutos para começar o show quando recebemos a informação de que o show foi cancelado”.
Segundo Miranda, no dia, a sensação térmica também a chegava a 60 ºC. “Foi horrível, o pior calor que já passei na minha vida. Enfim, o pior dia da minha vida, sinto que não deveria nem ter saído de casa. Até o vento queimava a pele, não dava para ficar na fila e nem lugar algum sem passar calor. Foi uma sensação desesperadora”.
A dupla chegou a levar água e fruta, mas segundo elas, nada dava conta daquele calor. “Ficamos duas horas na fila jogando água no rosto, de sombrinha, leque, canga nas costas, passando muito protetor solar. Foram muitos casos de desidratação, não parava de passar ambulância e o corpo de bombeiros jogando água nas pessoas”, relembra Miranda.
A jornalista relata que o estádio estava lotado e que havia pessoas que estavam há horas na fila. A situação era tão insalubre que as pessoas precisavam revezar entre si por uma sombra.
“Eles botaram placas metálicas no chão da pista, num dia de sol, as pessoas estavam literalmente se queimando no chão, queimaduras de segundo grau. A água vendida a R$ 8 dentro do estádio era de 300ml”.
Segundo a fã, apesar da determinação posterior de distribuir água gratuitamente para os fãs, nem todos foram contemplados. “Estavam distribuindo em alguns pontos na pista, dentro do estádio, mas na arquibancada, onde a gente estava, não. Também não havia equipe de atendimento médico suficiente”.
Após o cancelamento, Miranda e a prima precisaram esperar o transfer de 18h até as 21h, que era o horário combinado. Porém, devido a uma tempestade inesperada, precisaram pegar um carro de aplicativo.
“Nesse meio tempo houve um boato de arrastão e todo mundo saiu correndo para dentro do estádio novamente. Muita gente caiu, se machucou e passou mal, eu perdi algumas coisas. A partir disso foi uma sensação de desespero para além da insegurança que sentimos no início, em pensar que a gente não ia sobreviver”.
O show foi remarcado para esta segunda-feira (20) e a expectativa das fãs é que tudo ocorra bem. “Foi uma sequência de crimes que aconteceram na sexta e no sábado. Então, apesar da gente ter ficado triste por ter adiado, entendemos que foi o certo a se fazer para que as coisas melhorassem ontem e espero que elas estejam melhores ainda hoje”.
Domingo (19)
A situação mudou completamente no domingo (19), quando Taylor voltou a subir no palcos carioca debaixo de chuva. A auxiliar administrativa Beatriz Candotte conta que o show foi organizado.
“Não fiquei em fila, entrei direto, estava chovendo e fresquinho, não passei calor e nem frio. Tinha muita gente, mas as pessoas não estavam abarrotadas, sabe? Dava pra respirar, sair e voltar pra ir no banheiro. Mesmo chegando tarde, consegui ficar na grade da pista”.
A jovem conta que foi para o show sozinha e se sentiu muito segura. “Fui sozinha na pista e depois encontrei com umas colegas na volta, mas estava muito bem policiado. A todo momento passavam pessoas distribuindo copos de água, eu mesma devo ter pego uns quatro”.
Durante as 3h30 do show, Beatriz afirma que houve uma mudança drástica em compação ao show anterior de sexta-feira (17). “Estava muito bem ventilado! Foi algo que me surpreendeu muito. Não vi ninguém precisar, mas o posto médico estava muito bem sinalizado.
A única coisa que faltou, ela diz, assim como fora do Brasil, é que os lugares deveriam ser marcados. “Foi perfeito! O melhor show da minha vida. Estrutura incrível e organização muito boa!!! Acredito que eles erraram muito no primeiro show, mas,para o segundo, eles conseguiram melhorar muito”, conta Beatriz.