Sol, calor, praia, estresse, trânsito, se o time perdeu, se o time ganhou, bora comemorar? Para quem gosta de beber, tudo é uma oportunidade. Mas é preciso saber até onde você está festejando e quando isso vira uma desculpa para justificar o vício.
O álcool é uma bebida classificada como droga lícita e age na área do cérebro chamada Sistema de Recompensa Cerebral (SRC) e o Brasil é um grande consumidor de bebida alcoólica, em especial a cerveja, por causa do clima tropical.
Valdir Campos, psiquiatra e especialista em dependência química, relata o caminho que o álcool faz a partir do “tim tim”. “As drogas lícitas e ilícitas agem na área do cérebro chamada Sistema de Recompensa Cerebral (SRC) e a ação dessas drogas nesse sistema libera a dopamina, um neurotransmissor estimulante, que faz com que as pessoas tenham a sensação de bem-estar”.
Alguns tomam bebida como aperitivo, e outros não podem começar que só param quando está na hora de ir para casa. Porque algumas pessoas são assim? “Isso acontece porque algumas pessoas não tem uma enzima. Essa substância funciona como um freio para avisar quando você está sob os efeitos do álcool”, explica o psiquiatra.
Essa descoberta, diz Campos, é fruto de estudos realizados através de pesquisas observando que as pessoas do Oriente não têm o costume de beber, e quando fazem, ingerem pequenas quantidades de álcool.
“Quando elas ingerem a mais, sentem o efeito tóxico do álcool. No Ocidente se questionou porque não temos esse freio que metaboliza e faz a pessoa parar de beber. E, quando o assunto é quem fica de pileque mais rápido, as mulheres ganham. Os homens tem mais água no corpo que as mulheres”.
Efeitos do álcool
O especialista descreve o trajeto que o álcool faz no organismo. “O álcool, quando é ingerido, cai rapidamente no estômago e, em 1h30, está na corrente sanguínea circulando no organismo, atingindo o cérebro. Com o uso crônico, pode matar alguns neurônios e levar a um quadro demencial, que chamamos de demência alcoólica ou desenvolver psicose alcoólica. Indiretamente, o álcool atinge o cérebro, que provoca a deficiência de uma vitamina chamada Tiamina, vitamina B numa área do cérebro relacionada com a nossa memória. A deficiência dessa tiamina vai fazer com que a pessoa desenvolva problemas de perda de memória recente, com o tempo uma síndrome mais grave ou Síndrome de Korsacov, que leva a perda permanente da memória, uma amnésia do tipo demencial”.
O médico explica que fazer uso dessas substâncias diariamente é o grande problema. “A ação constante das drogas nesse SRC, na parte emocional do cérebro, com o tempo vai fazer com que a pessoa desenvolva a dependência, gerando cada vez mais a necessidade de ingestão de doses maiores, que chamamos de tolerância e, quando tenta diminuir, ela entra em abstinência”.
A ação gera um comportamento de busca pela sensação de bem-estar, levando ao uso de quantidades cada vez maiores, a fissura, a vontade de usar a droga, características do quadro de dependência química.
Comportamento
O vício em álcool pode surgir de vários fatores. “Podem ser questões psicológicas, ambientais e culturais, a forma como o indivíduo lida com consumo de álcool e outras drogas, vai muito do seu convívio. Se ele vive em comunidades e meios onde essa prática é mais permissiva, possivelmente o consumo será maior”, diz o psiquiatra.
Segundo Campos, a forma como você lida com questões pessoais definem bem o vínculo com a bebida. “Ingerir bebida ou fumar, por exemplo, não devem ser as únicas válvulas de escape de uma pessoa estressada, nervosa. Existem outros meios, como música, atividade física, leitura, que são meios de relaxamento que podem tirar a pessoa desse momento”.
Texto de Andresa Mota
Edição de Thais Rossi
