Ernane Galvêas, capixaba de Cachoeiro do Itapemirim que morreu ontem no Rio de Janeiro aos 99 anos, foi presidente do Banco Central entre 1979 e 1980. Depois foi Ministro da Fazenda entre 1980 e 1985. Foi uma das estrelas da equipe econômica do Brasil no ciclo dos militares.
Como Presidente do Banco Central foi um dos grandes articuladores da construção da industrialização capixaba. Explico melhor. Christiano Dias Lopes, nosso grande governador entre 1967 e 1971, criou as bases do desenvolvimento e da superação do ciclo agrícola, já de baixa qualidade naquele final dos anos 1960.
As bases organizacionais, logísticas e matérias tinham sido criadas por Christiano. Mas foi no governo de Arthur Gehrdat que houve a atração das grandes plantas industriais para o nosso estado, que então chamávamos dos Grandes Projetos: CST, Aracruz Celulose, Samarco e mesmo a construção do Porto de Tubarão, da Vale. Juntas criaram nosso setor metal mecânico, base do crescimento que tivemos desde então.
Dr. Arthur foi um grande articulador desse modelo de desenvolvimento, com bases nas indústrias de grande porte, e com capital internacional e do governo nacional. E aí que entram dois grandes capixabas, Ernane Galvêas e Marcos Vianna, um presidindo o Banco Central e o outro o BNDE. A habilidade do nosso então governador – próximo que se tornou de Delfim Neto, o super ministro da Fazenda – em articular esses dois personagens nacionais a favor do Espírito Santo.
Mas, voltando a Ernane Galvêas, ele foi incansável. Homem de sólidas ideias e boa formação intelectual, muito prestigiado nacionalmente, agiu como um embaixador de nossos interesses e foi personagem decisiva na construção de um novo ciclo econômico no Espírito Santo. Foi longa a sua vida, assim como foi extensa a sua contribuição a melhoria de vida de milhões de capixabas.
João Gualberto
Mestre e professor emérito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Doutor em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciência Política de Paris, na França, Pós-doutorado em Gestão e Cultura.
