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Vitória pode ser o 1º município capixaba com o uso medicinal da cannabis regulamentado

A cannabis é uma erva que causa polêmica em todo o mundo, sobretudo em razão da difusão de seu uso recreativo e pelas consequências que causa aos usuários ativos. Entretanto, nos últimos anos, os benefícios encontrados em substâncias da planta para o tratamento de doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia ou ansiedade, fazem a opinião pública olhar com mais cuidado para o uso medicinal da planta.

Para o vereador de Vitória André Brandino (PSC), os benefícios medicinais da cannabis são inúmeros, mas, apesar disso, para ele o debate acerca do assunto ainda é longo. “Se trata de um processo de quebra de paradigmas e preconceitos por parte da população do Município de Vitória, afinal, não estamos falando da liberação dos cigarros de maconha para consumo, e sim de componentes da mesma para usos específicos na área da saúde que, comprovadamente, trazem inúmeras vantagens”.

O vereador está engajado na aprovação da proposta de regulamentação e dispensação do uso da cannabis medicinal no município de Vitória. “Ainda precisam-se vencer algumas etapas: o texto do projeto de Lei tem que ser debatido e aprovado pelo Poder Legislativo através das sessões ordinárias e comissões da casa e, posteriormente, submetido à apreciação do chefe do Poder Executivo”.

Segundo o vereador, desde 2020, no Brasil, há o comércio de fármacos derivados da cannabis de fabricação nacional. “Os medicamentos são autorizados pela Anvisa e podem ser comprados com apresentação de receita médica de controle especial e, em alguns casos, pode também ser necessária uma declaração de responsabilidade assinada pelo médico”.

Uma das problemáticas apontadas por Brandino na comercialização de fármacos derivados da cannabis no país é o custo elevado que dificulta o acesso de muitos. “Por isso, assim como fazem com diversos medicamentos, aqueles, derivados da cannabis, também precisarão ser disponibilizados pelo sistema público de saúde para que torne-se uma medicação acessível a todos”.

Tratamento

Segundo ao ortopedista, Thanguy Friço, a luta pela liberação do uso de componentes canabinoides para tratar diversos problemas de saúde enfrenta uma grande resistência, tanto no meio médico, quanto por parte da sociedade. “Isso decorre principalmente, pela falta de informações aos profissionais de saúde e da população em geral sobre os inúmeros benefícios que esse medicamento pode proporcionar aos pacientes”.

De acordo com o especialista, a associação da cannabis medicinal aos efeitos do uso da maconha recreativa é a principal raiz do tabu. O médico explica, ainda, que das 120 substâncias canabinoides que fazer parte da composição da cannabis, apenas 2 são utilizadas para o tratamento medicinal: o tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CDB).

Vitória pode ser o 1º município capixaba com o uso medicinal da cannabis regulamentadoPatricia Guisso destaca que o tratamento de sua filha é uma prova real dos benefícios médicos das substâncias. Giovanna, de 19 anos, é portadora de Síndrome de Dravet, e apresenta crises convulsivas desde o segundo mês de vida.

“No início, as crises eram longas (sempre com mais de 10 minutos) e depois o padrão foi mudando e as crises passaram a ser mais curtas e em número bem menor”.

O tratamento de Giovanna com o canabidiol começou em 2014 com o apoio da neurologista e do pediatra que acompanhava o caso. “Quando iniciamos o tratamento, a Giovanna mantinha uma média de 40/50 crises por mês. Já no primeiro mês de uso vimos essa média caiu significativamente, para menos de 10 crises por mês”, relembra a mãe.

A mãe conta que hoje com o tratamento Giovanna apresenta apenas de 7 a 10 crises por mês. “Está mais comunicativa, expressa melhor suas vontades, elege brinquedos preferidos, demonstra ter uma excelente memória, gosta de música, de instrumentos musicais, adora cantar, assistir desenhos. Pois apesar da idade cronológica, ainda tem preferências de criança devido à sua condição”.

De acordo com Patrícia, outras mães com filhos com a síndrome também perceberam que quanto mais cedo o início do tratamento com cannabidiol, melhor para a criança. “As crianças conseguem estabilizar as crises e melhor é a evolução. A Giovanna começou o tratamento com 12 anos. Se tivéssemos tido acesso a ele mais cedo, acredito que hoje ela seria uma pessoa com uma qualidade de vida infinitamente melhor”.

Quais os benefícios do tratamento?

Vitória pode ser o 1º município capixaba com o uso medicinal da cannabis regulamentado“O THC e o CDB interagem com um sistema sinalizador vital do nosso organismo, denominado sistema endocanabinoide, responsável por regular uma série de funções vitais, como: dor, apetite, humor, memória, sono, renovação das células e também resposta do sistema imunológico”, detalha o médico.

Thanguy Friço listou todas as eficácias comprovadas pela literatura médica no uso de canabinoides. Dentre eles estão: analgesia da dor; efeitos ansiolíticos e euforizantes, para ansiedade e depressão; percepção da dor diminuída, aumento da tolerância à dor; ação anticonvulsivante; estímulo do apetite no estado de caquexia; diminuição da pressão intraocular, útil nos casos de glaucoma; atividade antitumoral e anti-inflamatória no câncer; ação antiemética; relaxamento muscular para alívio da contração do músculo.

O médico, que também é especialista em Medicina Endocanabinóide, destaca que os benefícios do uso medicinal da cannabis para os pacientes vão muito além do alívio da dor crônica e da melhora neurológica e cognitiva dos pacientes. “Os ganhos também podem se refletir em: maior autonomia para realizar atividades do dia a dia, melhora no sono e combate à insônia, melhora na qualidade de vida e aumento da percepção de felicidade, inclusive entre os pacientes mais idosos”.

O especialista ressalta a prescrição da cannabis varia para cada caso. “A quantidade de concentração de THC e CDB deve variar muito de caso para caso, de acordo com o perfil do paciente e as particularidades de cada doença. Seguindo a recomendação de novos estudos, o ideal é começar com doses baixas e ir aumentando conforme o quadro de cada paciente”.

Por fim, Thanguy alerta que o tratamento com a cannabis medicinal não busca substituir os medicamentos utilizados em tratamentos convencionais, mas sim para atuar como tratamento complementar às práticas da medicina tradicional.

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