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Cadela morre após veterinário errar dose de anestésico durante castração, em Anchieta

Uma cadela da raça Spitz, de seis anos, chamada Kyara, morreu durante um procedimento de castração, na última sexta-feira (4), realizado pelo médico veterinário João Luiz Cansanção de Azevedo, do município de Anchieta, na região Sul do Espírito Santo. De acordo com as donas do animal de porte pequeno, que tinha menos de 2 kg, ao informar sobre o falecimento, o profissional disse que havia errado na dose do anestésico.

O caso ganhou repercussão nas redes sociais após uma postagem da autônoma Amanda Bolzan, uma das donas de Kyara. No mesmo dia em que tudo aconteceu, ela e a mãe, Amélia Vieira de Araújo, acionaram a Polícia Militar (PM) e se dirigiram a Delegacia de Polícia de Guarapari, onde registraram Boletim de Ocorrência (BO).

De acordo com a autônoma, no momento em que o médico veterinário ligou para informar sobre a morte da cadela, já foi possível perceber um tom agressivo.

“Ele confirmou o óbito e ainda perguntou à minha mãe se ela queria ver a Kyara ou se ele já poderia fazer o descarte”.

Após a publicação de Amanda, diversos casos parecidos, envolvendo o mesmo médico veterinário, começaram a aparecer. Em maioria, os relatos envolvem animais traumatizados, que, após terem contato com o profissional ou com a casa de rações “Pet Rural”, a qual ele mantem parceria, começaram a apresentar comportamentos agressivos e de medo.

“Soubemos também que ele é bem conhecido em Anchieta. Bastante gente passou por casos semelhantes. Essa casa de ração/pet shop tem um histórico negativo. Um colega meu me contou depois que as pessoas tem medo de expor esse veterinário e esse pet shop por ser uma cidade pequena e acharem que não aconteceu com ninguém”, disse Amanda.

O outro lado

ESHOJE entrou em contato com o médico veterinário João Luiz Cansanção de Azevedo, que desligou o telefone abruptamente, alegando não poder falar naquele momento. Dessa forma, a reportagem voltou a ligar para o profissional, sem sucesso, e mandou mensagens via WhatsApp, sendo bloqueada minutos depois. O espaço permanece aberto para manifestações.

Além disso, também entramos em contato com a defesa da casa de rações “Pet Rural” e fomos informados que um esclarecimento seria divulgada até o final da tarde desta segunda-feira (7) pelas redes sociais. Por volta das 17h30, o estabelecimento, em nota, disse ser “lamentável o ocorrido do último dia 04/02”, não possuindo “qualquer ligação com a empresa”.

“O profissional liberal que iniciou o ‘suposto procedimento de castração do animal’ não presta esse tipo de serviço no estabelecimento PET RURAL e muito menos possui esse tipo de parceria. Trata-se de profissional liberal/autônomo e, como tal trabalha, em estabelecimento próprio. A empresa PET RURAL se solidariza com o sofrimento da família, que perdeu o seu amado animal de estimação e se coloca à disposição para todos e quaisquer esclarecimentos”. E finalizou afirmando que “todas as publicações em rede sociais e grupos de WhatsApp serão apuradas pela Assessoria Jurídica da empresa PET RURAL”.

Situação de crime de maus-tratos

A parceria do médico veterinário com o casa de rações em Anchieta, conta Amanda, se dava por meio de uma tenda em frente ao estabelecimento, onde ele abordava clientes, convencendo-os a realizar exame de sangue nos animais. Logo, em uma dessas abordagens, a mãe de Amanda autorizou a coleta de sangue de Kyara, que, ao ficar pronta, foi enviada por mensagem, oportunidade para o profissional falar sobre a castração, que já era uma vontade das donas da cadela.

“Ele se vende e a pessoa confia. O dono do pet shop, inclusive, disse que ele tinha aberto uma clínica de castração e estava tudo regular. Na sexta-feira, ele mandou uma mensagem para minha mãe dizendo que tinha marcado a cirurgia da Kyara e que iria buscá-la. A minha mãe ficou meio assim, mas acabou autorizando. Ele foi lá em casa por volta das 9h30, buscou a Kyara, mesmo com a minha mãe ainda indecisa. Ela chegou a dizer para ele: ‘cuida bem da minha menina’. Por volta das 11h, ela ligou, mandou mensagem, mas ele não retornava ou atendia. Foi aí que ficamos preocupadas. Lá para às 16h, ele ligou e disse que aplicou dose de anestésico a mais do que o necessário”, relatou a autônoma, dizendo que o profissional chegou a informar que tentou reanimar Kyara, que acabou tendo uma parada cardiorrespiratória por conta do erro.

Após o ocorrido, as donas da cadela foram procuradas por vizinhos do médico veterinário. Segundo eles, as castrações nos animais eram realizadas em uma mesa ao ar livre, “em uma casa suja”, onde, de madrugada, era possível ouvir gritos de animais. Ainda de acordo com Amanda, um pedreiro do município do Sul capixaba a procurou para informar que João Luiz, as pressas, entrou em contato com ele para construir um espaço, com o intuito de alegar que tem uma clínica de castração.

“Os policiais tiraram a nossa esperança”

De acordo com a família, a cadela era dócil, sendo o “dengo da casa” — (Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Além da morte da cadela, Amanda conta que ela e mãe ainda enfrentaram dificuldades com quem achavam ser parte da esperança por Justiça. Um PM, segundo a dona de Kyara, por conta da ocorrência ter acontecido no final do dia, não queria acompanhá-la ao Departamento de Polícia de Guarapari, sendo convencido, posteriormente, por um colega de farda que também estava presente.

Já em Guarapari, as donas da cadela nem chegaram a serem ouvidas pelos agentes de segurança da Polícia Civil. Por outro lado, o médico veterinário que realizou o procedimento em Kyara, a portas fechadas, foi escutado pelos policiais, sendo liberado em seguida.

“Pediram apenas os dados dela e falaram que ‘cachorro você arruma outro’. Eles estão meio que acobertando o veterinário”.

Investigação do caso

Procurada a Polícia Civil informou que “as partes foram conduzidas à Delegacia Regional de Guarapari na última sexta-feira (04)”. A partir daí, “após análise inicial, o delegado plantonista liberou os envolvidos e encaminhou o procedimento para a Delegacia Regional de Anchieta, para melhor apuração dos fatos”.

No momento, segue a nota enviada à reportagem, “o caso segue sob apuração e os envolvidos prestarão depoimento nos próximos dias”. Até o momento, de acordo com a PC, “não houve detidos e detalhes da investigação não serão divulgados”.

Já a Polícia Militar, também em nota, informou que “tanto a solicitante quanto o médico veterinário foram encaminhados pela Polícia Militar para a Delegacia Regional de Guarapari para as providências cabíveis, conforme anexo enviado pela reportagem”.

(*Texto atualizado às 13h25 de terça-feira, 8 de fevereiro de 2022, para incluir as notas enviadas pelas polícias Civil e Militar)

Matheus Passos
Matheus Passos
Graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário Faesa, atua como repórter multimídia no ESHoje desde abril de 2021. Atualmente também apresenta e produz o podcast ESOuVe. Ingressou como estagiário em junho de 2019. Antes atuou na Unidade de Comunicação Integrada da Federação das Indústrias do Estado (Findes).

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