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Villamarim e Moura repetem parceria bem-sucedida em ‘Onde Nascem os Fortes’

Na semana passada, a teledramaturgia brasileira brindou o público com duas cenas fortes, de arrepiar. Em Segundo Sol, o autor João Emanuel Carneiro deu voz a um segmento conservador da sociedade. Aliás, não é só conservador, e nem o problema é exclusivamente brasileiro, mas mundial. Roberto Bonfim interpretou o pai de classe média, retrógrado, que explode ao descobrir a homossexualidade da filha. Palavras duras, brutais, rejeição absoluta. Num clima de tragédia, a mãe no meio, tentando apaziguar, a filha, vivida por Nanda Costa, apenas murmurando: “Não diga isso, meu pai”. Ele a expulsou, porque “filha minha machona não fica mais sob o meu teto nem é minha filha”.

A outra veio na reta final da supersérie Onde Nascem os Fortes, de George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de José Luiz Villamarim. Um breve encontro de Alexandre Nero e Débora Bloch. Formavam um casal, separaram-se e agora trocam um diálogo maduro, sofrido. E abraçam-se, pelos velhos tempos, como diziam Rick e Ilsa, Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, no clássico romântico Casablanca, de Michael Curtiz, de 1942. Onde Nascem os Fortes terminou na segunda-feira, 16. Registrou 27 pontos de audiência em São Paulo e 30 pontos no Rio. Moura e Villamarim são almas gêmeas no processo criativo. Já acertaram o tom no reboot de O Rebu e na minissérie Amores Roubados. Acertaram de novo com Onde Nascem os Fortes.

A gente podia até pensar que o capítulo final ia repetir o que teria sido o problema – mas não foi – do primeiro capítulo. A fragmentação, muita gente para apresentar, muitos dramas agora para resolver. O grande enigma que percorreu a série inteira – o desaparecimento de Nonato/Marco Pigossi, a aceitação de sua morte e quem o matou, motivando a reação violenta da irmã, Maria/Alice Wegmann, e a vinda da mãe, Cássia/Patricia Pillar, para o sertão. De cara, lá atrás, as suspeitas recaíam sobre Pedro Gouveia/Alexandre Nero, mas, ao longo da trama, houve uma inversão. O foco autoritário transferiu-se para Ramiro/Fábio Assunção, o juiz que, por representar a lei, considerava-se acima dela. Na apresentação de seu trabalho para o Estado, os autores e o diretor já definiam o conceito – o sertão em processo de modernização, com motos e pick ups substituindo os cavalos e celulares por toda parte, mas também o poder, a estrutura arcaica que se recusa a sair de cena. Se a legalidade não resolve, a lei é a bala.

George Moura, José Luiz Villamarim, os criadores, mas, na verdade, se trata de um tripé e está faltando o diretor de fotografia Walter Carvalho. Buscaram, na TV, uma reinvenção da estética da fome do Cinema Novo para mostrar, em outro contexto, outra época, a secura, a poeira, as vidas duras, já que não são mais exatamente secas (ou são secas em outro sentido, na ausência de compaixão dos poderosos e seus asseclas).

O nome já indicava: Pedro Gouveia homenageia o lendário Coronel Delmiro Gouveia, que deu a vida para tentar desentortar o torto e modernizar suas plagas. No capítulo final, 31 minutos, cronometrados, foram usados para desvendar o drama do núcleo central – o assassinato, as múltiplas implicações. Os sete ou oito minutos restantes foram utilizados para desvendar todo o resto, as tramas paralelas. E não se pode negligenciar a trilha, as músicas que participam das cenas. Nenhuma é por acaso.
Fragmentação zero – o que houve foi espaço para que os atores deixassem sua marca. E cenas como o tiroteio no final, digno de bangue-bangue – um ‘nordestern’. O elenco – Ramirinho/Jesuíta Barbosa, Maria/Alice Wegmann, a irmã de Nonato, seu amado Hermano/Gabriel Leone. E os veteranos. Alexandre Nero, poderoso – o público entendeu e aceitou a inversão dos papéis -, Fábio Assunção, Patricia Pillar.

O desfecho não poderia ter sido mais maduro. A despedida, que talvez não seja definitiva, entre Gouveia e Cássia. A libertação de Rosinete/Débora Bloch, que corria rezando no primeiro capítulo e agora, livre da culpa, corre rindo, descoberto o prazer. O casal jovem, Maria e Hermano. Do primeiro ao último capítulo, estiveram em cena. Juntos e separados, juntos de novo. Claríssimo. Face às estruturas superadas, a juventude e o trabalho comunitário, a união – o núcleo de Samir/Irandhir Santos – representam a futuro do Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Luiz Carlos Merten
Estadao Conteudo
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