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Vamos falar de suicídio

O tema é tabu. Quase não aparece na imprensa. Dele raramente se fala em encontros sociais, e sobre ele pouco se discute em eventos ou seminários. Diante de algum caso concreto, nossa reação mais comum é aquela do caboclo de Rui: “soergue o torso, espia, coça a cabeça, ‘magina’, mas volve à modorra e não dá pelo resto”.
         Eis aí, porém, um dos mais graves problemas que a humanidade enfrenta, nestes tempos orgulhosos de globalização e conquistas tecnológicas. Comecemos pela China, país no qual o suicídio é a primeira causa de morte de jovens! Supera acidentes de trânsito e homicídios! Estamos falando de um suicídio e oito tentativas a cada dois minutos no país, que assim perde 250 mil filhos a cada ano.
         Na pequenina Nova Zelândia os suicídios respondem por 10% das mortes de crianças até dez anos de idade. Na Índia nada menos que 134.599 pessoas cometeram suicídio no ano de 2010 – valendo menção que 44.535 delas por ingestão de veneno e 42.266 por enforcamento. Estes dados embutem uma verdade ainda mais arrasadora, qual a de que a cada dia sete estudantes se suicidam.
         Pelo planeta afora, suicídio é a quarta causa de morte de jovens entre 15 e 19 anos de idade do sexo masculino, e a terceira do sexo feminino – e de acordo com a Organização Mundial da Saúde estes números tem crescido ano a ano.
         Mas talvez o caso mais dramático seja o dos Estados Unidos: naquele país, suicídios tiram mais vidas que a violência causada por armas de fogo! Morre mais gente por suicídios que por homicídios! Vamos aos números: 30.000 norte-americanos tiram a própria vida, e outros 800.000 tentam tirá-la, a cada ano. Eis aí, a propósito, a terceira maior causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos de idade.
         Pasme: mais soldados norte-americanos perderam a vida através de suicídio do que pelas armas de inimigos no Afeganistão! Complemento este dado com a séria constatação de que a cada 80 minutos um veterano das guerras do Iraque ou do Afeganistão tenta suicidar-se.
         Partindo do geral para o específico, os exemplos são os mais dolorosos possíveis: uma criança do Nepal matou-se por não ter dinheiro para ir ao cinema, outra da Índia por não ter um telefone celular, uma terceira em Portugal por ter sido assediada na escola, uma quarta no Reino Unido por conta de desentendimentos familiares, uma quinta na Itália por ter sido assediada na Internet e por aí vamos – todas com menos de dez anos de idade.
         Suspeito, porém, que estes números sejam ainda maiores – muito maiores! Basta incluirmos na conta os milhões de jovens que, sem disposição para o suicídio, buscam ceifar suas vidas através do consumo desenfreado de drogas a cada dia mais potentes, em evidente ato de autodestruição.
         Diante deste quadro dramático, pergunto: que Sociedade é essa que temos criado? Saia pelas ruas do planeta com olhos de ver, e perceba que nelas há algo errado, gritando que nossos corações não tem acompanhado o desenvolvimento tecnológico que nos deslumbra a todos.
         Pense, por um instante que seja, no quanto sofreu cada um desses jovens, cada uma dessas crianças, para chegar a um gesto tão extremo. Será que um pouco menos de valores de consumo e um pouco mais de valores familiares não teria evitado tantas mortes?
         A população cresce a cada dia, mas nunca vivemos tão isolados, por conta de tecnologias que, se aparentemente aproximam os distantes, claramente distanciam os próximos – vá a uma reunião de família típica de qualquer sociedade “moderna” e perceba como o diálogo direto, o “olho no olho”, é cada vez mais uma reminiscência do passado.
         Dizem os arautos deste novo mundo que aqueles valores antigos são “caretas”. Pode ser. Mas pelo menos os “caretas” se matavam menos.
Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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