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Taxa de suicídios no Espírito Santo superou a média nacional no ano de 2015

sem-tituloFalar sobre suicídio é um tabu e uma preocupação, uma vez que há dados que apontam que, quando mais noticiado, mais incentivado. Contudo, existem profissionais da saúde que avaliam o contrário e acreditam que, a exemplo de males como Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, a prevenção passou a ser bem sucedida quando os casos passaram a ser publicamente conhecidos – e suas causas e soluções expostas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio pode ser prevenido em 90% dos casos, desde que existam condições mínimas de ajuda voluntária ou profissional. Atualmente, esta é a segunda maior causa de mortes de jovens entre 15 e 29 anos no mundo, e faz mais de um milhão de vítimas no planeta entre todas as idades. No Brasil, o suicídio é a terceira causa de mortes entre jovens, perdendo para homicídios e acidentes de trânsito, vitimando 8.688 pessoas, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016 – uma média de quase um óbito por hora.
No Espírito Santo, a taxa superou a média nacional no ano de 2015 – enquanto a média nacional é de quatro suicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, no Estado a taxa foi de 4,2 – chegando a 172 vítimas, 15 a mais do que o registrado em 2014 e o segundo maior patamar desde 2005, quando os números começaram a ser contabilizados. Em 2012, o número chegou a 178.
No território capixaba a preocupação maior é nos municípios do interior do Estado, e não a Região Metropolitana. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) consolidados no ano de 2014, as maiores taxas se encontram em municípios como Ibiraçu, Santa Maria de Jetibá, Itarana, Santa Leopoldina e Afonso Cláudio, apesar de, em números absolutos, os municípios da região metropolitana, por serem mais numerosos, liderarem. De acordo com informações do Núcleo de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde (Nuprevi) da Secretaria de Saúde de Vitória, foram 21 óbitos autoprovocados em 2014, na Capital.
Prevenção
De acordo com a especialista em psicologia clínica e saúde mental Daniela Tomassoni, familiares e amigos devem estar atentos a sinais como quadro depressivo, isolamento social, inapetência, sintomas de transtorno mental e falas da própria pessoa que já tentou ou que possa vir a tentar tirar a própria vida. Segundo ela, não só o profissional da saúde, mas também família e pessoas próximas precisam escutar o indivíduo, e não apenas ouvi-lo, para ajudar a prevenir o pior.
“Existe um mito que diz que quem vai se matar não avisa. Avisa sim. As pessoas ouvem, mas não escutam, não levam a sério. É necessário que não só profissionais de saúde estejam com os ouvidos atentos aos sinais, mas que familiares e pessoas próximas também escutem-no e procurem ajuda”, explica a psicóloga. E continua: ” Uma escuta aberta pra que aquele sujeito se coloque com a sua história, a sua dor e suas crenças, pode ajudá-lo a lidar com um momento difícil da vida, que não seja a morte”.
Agrotóxicos no interior
O que vem chamando a atenção no Espírito Santo é a relação que os agrotóxicos tem tido com as mortes autoprovocadas. É precisamente esta relação que tem puxado a quantidade de mortes no interior do Estado, de acordo com a técnica de Vigilância de Prevenção de Violência e Acidentes da Sesa, Edleusa Cupertino. Apesar de 15% das mortes do ano de 2014 estarem diretamente relacionadas ao uso de agrotóxicos e produtos químicos, grande parte dos enforcamentos, que responderam por 51% das mortes naquele ano, podem ter sido induzidos pelo uso de pesticidas e produtos agrícolas.
Em 2015, aconteceram 352 tentativas de suicídio de trabalhadores que manipularam agrotóxicos. “Uma peculiaridade é que enforcamentos, cuja presença é maior no interior, aconteceram mais em lugares onde tem produtos agrícolas, como pesticidas. O uso desses produtos químicos de forma errada tem induzido ao enforcamento. O agrotóxico tem um efeito no organismo do ser humano, e a impressão que se tem é que isso influencia no suicídio”, afirma Cupertino.
De acordo com o presidente da Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa, Doutor Hércules (PMDB), que é médico, o veneno provoca alteração neuromotora e intoxicação crônica, que decorrem da presença de resíduos do veneno em alimentos e no ambiente. “Há provas contundentes do comprometimento do sistema nervoso das pessoas, pela ingestão ou absorção pela pele dos agrotóxicos”.
Mil atendimentos por mês no CVV
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, o número oficial de tentativas de suicídios no Espírito Santo chegou a 1.216, em 2015, e até o fim do mês de agosto de 2016 já contabilizava 878 casos. “Isso significa que essas pessoas foram atendidas e estão vivas, em tratamento”, explica a técnica de Vigilância de Prevenção de Violência e Acidentes da Sesa, Edleusa Cupertino.
Um dos principais trabalhos para a prevenção de homicídios no Estado é feito pelo Centro de Valorização da Vida (CVV). Na sede de Vitória são feitos média de mil atendimentos por mês. Segundo a voluntária do CVV, Rita Lima, a época de maior demanda no centro acontece entre dezembro e fevereiro. “Quem procura nossa ajuda ainda está dividido. O sofrimento é grande, mas a pessoa quer viver. Eles procuram com quem falar, com objetivo de desabafar e aliviar a dor. Ainda está na fala deles que querem se matar, que a vida não tem graça. Mas eles ainda têm esperança e precisamos estar prontos para ouvir e ajudar”, disse a voluntária.
O contato com o CVV pode ser pelo telefone 141, pessoalmente na sede (localizada na Avenida Alberto Torres, 153 – Jucutuquara, Vitória), via carta ou internet (o site é www.cvv.org.br). “Na internet, a pessoa pode escolher as modalidades e-mail, skype, chat e outros”, explica Rita Lima.
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O debate sobre meios de prevenção de suicídio na Terceira Ponte já acontece há alguns anos e, desde o ano de 2014, o deputado estadual Euclério Sampaio (PDT) tenta aprovar o projeto de lei que obriga a instalação de grade na Terceira Ponte para evitar suicídios. O Conselho Regional de Psicologia 16ª Região (CRP-16), que compreende o Espírito Santo, também enviou uma carta à Agência Reguladora de Saneamento Básico e Infraestrutura Viária do Espírito Santo (Arsi), em que solicita a instalação dessa proteção na via que liga as cidades de Vitória e Vila Velha, no intuito de reduzir os casos de suicídio no local. A carta ainda foi assinada pelos conselhos regionais de medicina e serviço social, pela Escola Brasileira de Psicanálise e pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
De acordo com as estatísticas da Sesa, no ano de 2014, a Terceira Ponte registrou 12 suicídios, o maior número desde o ano de 2005. “A Terceira Ponte é um problema, mas não é o maior, precisamos de estratégias. Por exemplo, 15% das pessoas que se mataram foram conduzidas por taxistas. Estamos trabalhando junto ao Detran para que taxistas não parem na ponte”, exemplificou Edleusa Cupertino.
A assessora técnica de Políticas Públicas do CRP-16, Mariana Moulin, informou que existe um grupo de trabalho de prevenção ao suicídio (formado por representantes do próprio Conselho, da Sesa, do CVV, da Rodosol, da Polícia Militar, dos Bombeiros, entre outros) que se reúne uma vez por mês para tratar de ações de combate ao suicídio no Espírito Santo. “Já fizemos alguns seminários sobre prevenção de suicídios, tratamos sobre redução dos meios de acesso, inclusive na Terceira Ponte, como a questão da tela… Quanto mais incentivarmos o assunto com cuidado dentro das políticas públicas, vamos fortalecer rede de atenção e poder nos aproximar das pessoas”, frisou.
Por meio de sua assessoria, a RodoSol, concessionária que administra a ponte, informou que monitora a via, participa de fóruns, mas instalar as redes de proteção só poderá caso a medida seja determinada pelo poder concedente – Governo do Estado. “Como a tela de proteção não está prevista (em contrato), para fazê-la é necessária a determinação do poder concedente. A RodoSol reforça que não tem autonomia para decidir e realizar nenhuma obra, projeto ou mudança na via. Quanto aos investimentos, estes estão impedidos de realização por decisão liminar da justiça atendendo o pedido do Ministério Público”, finalizou.

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