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quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Seis meses após greve da PMES, coronel Nylton afirma: “Fizemos tudo em nome da lei”

protesto_quartel-216987São 29 anos de carreira militar. Aos 48 anos de idade, o coronel Nylton Rodrigues, comandante geral da Polícia Militar do Espírito Santo – posto assumido há seis meses em meio à pior crise dos 182 anos de história da PMES – tem apenas mais um ano e meio à frente da corporação em função da aposentadoria compulsória. Mas já sabe a marca que quer deixar: “o reconhecimento de que tudo foi feito em nome da instituição”.

O coronel frisa que foi em nome da PMES que duras medidas foram tomadas contra os policiais aquartelados que ainda podem culminar na perda de fardas. O objetivo foi controlar a situação de crise e fazer com que a corporação voltasse a cumprir o papel de proteger a sociedade. Atualmente são cerca de 300 procedimentos em andamento na Justiça Militar e na Corregedoria da Polícia Militar contra os aquartelados entre inquéritos e processos de ritos sumários e ordinários. Destes, quase 100 ainda podem perder a farda.

coronel nyltonEm entrevista a ESHOJE, Nylton Rodrigues ainda falou sobre o legado de sua trajetória na Polícia Militar e a experiência administrativa à frente da pasta de Segurança Pública da Serra, antes de assumir o comando geral. O comandante também rebateu as críticas relacionadas às últimas grandes operações da PM no Bairro da Penha e em Jesus de Nazaré, e falou sobre os principais desafios desses seis meses à frente da instituição.

São quantos anos de carreira militar?
São 29 anos. Entrei na polícia em 2 de janeiro de 1988. Passei no CFO tinha 17 anos de idade. Naquela época não tinha o CFO aqui no ES. Então fui para MG fazer o curso. Nasci em Vitória, ali na Reta da Penha, onde é o Shopping Vitória hoje era uma maternidade: Maternidade Doutor Arnaldo. Eram 8 vagas no CFO, passei em quarto e fui para MG. Fiquei três anos em Minas fazendo o curso. Foirmei lá e retornei ao ES como aspirante. Trabalhei um ano no primeiro Batalhão de Vitória, na companhia de Rádio Patrulha. E na época o Capitão Monteiro me convidou para ir para a Companhia de Choque. Naquela época não existia do BME. Aceitei o convite e lá fiquei 12 anos. Nesse período a Companhia de Choque evoluiu para Companhia Independente de Choque e depois evoluiu para o BME. Peguei toda essa trajetória até chegar ao BME. Depois fui para o CFA (Centro de Formação e Aperfeiçoamento) onde fui comandante do Corpo de alunos. Lá trabalhei por quatro anos. Depois fui para o Ciodes, onde fui diretor durante seis anos. Aí depois fui para o 6º Batalhão da Serra. Comandei o 6º Batalhão por dois anos e meio. Depois fui ser secretário de Segurança do Município de Serra, por dois anos e meio. E aí retornei para a PM para ser o chefe do Estado maior geral da PM. Mas aí fiquei só uma semana como chefe do Estado maior geral. Porque aí estourou a crise e o governador me convidou para ser comandante. Aí fiquei uma semana como chefe do Estado Maior Geral e depois assumi o Comando da PM. Então essa foi a trajetória.

Dessa trajetória o que o senhor destaca?
Todas as funções que exerci eu me identifiquei. Fui muito feliz em todas elas. É muito importante que um servidor goste do que faz. Durante toda a minha carreira sempre fui muito feliz com aquela função que estava exercendo. Sempre gostei muito e me identifiquei. E todas elas foram muito desafiantes. Mas comandar o 6º Batalhão e ser Secretário de Segurança da Serra foi extremamente desafiador pelos indicadores criminais que a Serra possui. Aprendi muito lá. Foi muito desafiador, um aprendizado muito grande e essa minha passagem na Serra me preparou muito melhor para ocupar a função que ocupo hoje.

Que conquistas você destaca no município da Serra?
Fiquei cinco anos na Serra no total. Dois anos e meio comandando o 6º Batalhão e dois anos e meio como Secretário de Segurança. E quando comandei o 6º Batalhão foi no Estado todo recordista de apreensão de armas de fogo e detenção de criminosos. Então isso foi uma conquista muito grande. Como secretário de Segurança conseguimos aprovar com os vereadores a lei que restringe o horário de funcionamento dos bares que também foi muito marcante para a cidade. Serra não tinha um plano de enfrentamento à violência. Hoje Serra tem um plano de enfrentamento à violência que é o Serra atitudes da paz, envolvendo todas as secretaria do município. Também foi muito impactante. Foi um legado deixado esse plano. É um norte que o município tem que seguir para enfrentar a violência. Não tinha isso e hoje tem. O que com certeza levei de mais forte na Serra foram as amizades que fiz lá. Começando pelo prefeito. Tenho milhares de amigos na Serra. Minha passagem na Serra foi impactante tanto pelo lado profissional como pessoal. 

Qual é a diferença entre a vida pública administrativa e o comando de um batalhão?
Como é importante em determinado momento o oficial da Polícia Militar sair da PM, ter uma experiência em outro mundo, numa outra estrutura, para que ele ali aumente seu cabedal de experiência como também o seu ciclo de relacionamento. Isso é muito importante. Então minha saída da PM para uma secretaria municipal agregou para mim experiência muito grande de gestão de recursos humanos. Porque é diferente a gestão de recursos humanos dentro da Polícia Militar e dentro de um órgão público civil. Me agregou muito conhecimento e amadurecimento na gestão de pessoas e na gestão de processos. Com certeza é muito interessante o oficial da PM sair, mas retornar. Ele não pode sair e ficar para sempre fora da instituição. Ele tem que sair, acumular experiências e conhecimento, e voltar para aplicar em sua instituição. Então foi muito importante essa saída porque a gente agrega e se aperfeiçoa fora da PM.

Você tem planos futuros para política?
São 29 anos de Polícia e tenho mais um ano e meio para servir. Depois eu aposento. É uma aposentadoria compulsória. O Policial Militar não tem o direito de optar em permanecer mais tempo. Ele obrigatoriamente tem que aposentar quando vence seu tempo. Meu tempo vence em um ano e meio. Não tenho plano nenhum para esse um ano e meio de sair da PM. Pretendo ficar até o final. Fiz um juramento quando eu formei e vou cumprir esse juramento de servir na PM até o último dia da minha carreira. Quando me aposentar também não tenho planos. Atualmente não tenho interesse nenhum em entrar na política. Meu interesse hoje, focado nisso, é fazer um bom comando e contribuir para o crescimento e amadurecimento institucional da PM. É meu único plano. Não tenho interesse político.

Está encerrando a carreira na mais alta posição que um militar pode ocupar no Espírito Santo. Foi uma entrada na pior crise de segurança no ES? Como você encarou aquele momento?
Nós vivenciamos em fevereiro a maior crise da história da Polícia Militar. Uma história de 182 anos e a crise de fevereiro foi a pior de 182 anos. Nunca imaginei que ia entrar numa função tão importante da instituição num momento tão triste. Foi um movimento reivindicatório de melhoria salarial. A melhoria salarial nós merecemos e precisamos, mas a forma que esse movimento foi realizado foi totalmente equivocada. Nós temos uma obrigação de proteger a sociedade e a sociedade precisa da nossa proteção. Nada justifica a gente abandonar a sociedade. O erro foi esse, abandonar a sociedade. O erro não foi reivindicar melhores salários porque nós temos que reivindicar e nós merecemos. O erro foi a forma de reivindicar melhores salários. Pra mim foi muito difícil, mas sempre estava muito claro pra mim o que tinha que fazer. Neste momento o comandante tem que fazer com que a instituição volte à sua normalidade. E foi o que nós conseguimos fazer, porque a sociedade precisa. O comandante tem que abrir os olhos do seu comandado para o que é certo, o que é totalmente errado, e isso nós conseguimos fazer. O momento foi muito difícil, mas eu tive a total clareza de qual era a minha missão naquele momento de crise, que era fazer a instituição voltar para as ruas e trabalhar.

Teria algo que você faria diferente e que a circunstância naquele momento te levou a agir de uma forma que você não queria agir?
Temos uma lei, um regramento, uma constituição e um código penal militar e a gente tem que agir conforme dita a lei. Então toda a providência que eu tomei em conjunto com alto comando da PM (os 20 coronéis), tudo aquilo que nós fizemos foi ditado pela regra, pela lei. Se tem uma coisa que não poderia ter sido feita foi ter abandonado a população. Nada justifica isso. Se tem uma coisa que nós não devíamos ter feito é abandonar a população. Essa foi a grande falha e que não poderia ter acontecido naqueles 23 dias.

PMES

Você consegue entender a demanda e o clamor dos PMs?
Com certeza. Como comandante da PM eu entendo e ombreio com todos em busca de melhores salários. Inclusive eu sou o interlocutor da tropa com o governador. Eu não só entendo, mas eu faço parte desse contexto que busca uma melhor remuneração. Nosso policial ganha pouco, merece ganhar muito mais. Buscamos isso o tempo todo, mas não posso cometer um crime para ter isso. E quando a gente fala de aquartelamento estamos falando de um crime previsto no Código Penal Militar. Eu não posso cometer um crime para ter um aumento de salário. Não posso abandonar a sociedade por um aumento de salário. Eu tenho que saber fazer esse reivindicação de maneira legal. Assim tem que ser em todos os segmentos da sociedade. Em entendo e ombreio com a tropa em busca de melhores salários.

O aquartelamento teve algo de oportunismo político?
Está claro. Está claro que grupos políticos a todo o momento se aproveitaram ou tentaram se aproveitar daquela situação. Está claro que muitos foram usados para fins políticos sem saber disso. Falo em relação a nossos soldados, nosso efetivo. Isso, acho que toda a sociedade conseguiu enxergar.

Depois da greve a população ainda ficou sentindo aquele baque. A polícia foi voltando aos poucos e demorou um tempo para voltar essa sensação de segurança na população. Como foi seu trabalho para incentivar e estimular os soldados a voltarem?
A sociedade ficou desconfiada com a Polícia Militar. A sociedade ficou decepcionada e desconfiada, pois sofreu com a ausência da Polícia Militar. A PMES é uma instituição extremamente importante para a sociedade. É a PM que não deixa a sociedade ficar à mercê de bandido. É a PM que atende 1.700 ocorrências por dia no Estado. Por dia! E quando falamos atendimento de ocorrência é atendimento ao cidadão que pede socorro, que está numa situação. Então é uma instituição vital para a sociedade. Quando acontece a interrupção desse serviço importante a sociedade ficou decepcionada e desconfiada: “será que voltaram mesmo?”. Isso aconteceu de fato. Só que grande parte da nossa instituição não queria ter parado. Porque quando as mulheres foram para frente dos batalhões, os policiais não foram consultados. Ninguém foi consultado, a tropa não foi consultada. Não foi aquele movimento que foi feita uma assembleia e decidiu-se parar. A maioria absoluta dos nossos policias não queria parar. E nesses 23 dias de greve, quando chegou no 15º, a maioria dos Policias Militares já tinham voltado. Marcamos chamada fora dos batalhões em área públicas. A cada dia que se passava, mais policias estavam nas ruas trabalhando. Lá no 23º dia, quando a greve acabou, os policiais já estavam trabalhando, pois não queriam abandonar a sociedade. O soldado não foi consultado se queria parar ou não. Simplesmente barraram as unidade. A Polícia Militar já tinha voltado a trabalhar, tanto que no primeiro semestre de 2017 a PM atendeu 300 mil ocorrências. Os nossos indicadores de produtividade estão absolutamente normais. Nós conduzimos presos às delegacias no primeiro semestre: 12.590 detidos, agressores da sociedade. Nós apreendemos mais de 1.300 armas de fogo das mãos de criminosos no primeiro semestre. Foram 3.800 veículos, produtos de furto e roubo, recuperados pela PM. A grande maioria voltou a trabalhar mesmo no mês de fevereiro e nossos indicadores de produtividade estão os mesmos do ano passado. A polícia está trabalhando e trabalhando muito. Polícia não gosta de conviver com bandido na rua. Polícia gosta de prender bandido.

Dos militares que sofreram punições, qual é a situação deles hoje?
A grande preocupação do comando é que cada um responda na proporção do que fez, para que injustiças não sejam cometidas. A minha orientação para a Corregedoria é que não pode ter injustiça. O cometimento do erro tem que ser individualizado. Não pode ser abrangente para todas. Então condutas estão sendo individualizadas dentro dos processos e dos inquéritos policias militares para que injustiças não sejam cometidas e para que cada um responda na proporção do que fez. Cada um assume as responsabilidades de suas atitudes. Todos nós somos adultos e conhecemos as regras que nós temos que nos adequar a elas. Todo mundo que entra na Polícia Militar sabe que existe um Código Penal Militar, um regulamento de disciplina. Ninguém entra e forma sem saber, até porque isso é disciplina dos cursos de formação. Então cada um sabe e cada um que responda pelos seus atos. Tudo está sendo feito com muita tranquilidade, muita calma, garantindo totalmente o direito da ampla defesa e do contraditório, para que injustiças não sejam tomadas. Então estão acontecendo na OM hoje: Conselhos de Justificação, que é processo demissionário para policiais; Conselho de Disciplina, que é processo demissionário para praças com mais de 10 anos de serviço; Procedimento Administrativo Disciplinar Rito Ordinário, que é um processo demissionário para praças com menos de 10 anos de serviço; e os Processos Administrativos de Rito Sumário, que não é processo demissionário, é apenas um processo disciplinar, que o policial pode ser punido ou não disciplinarmente, mas não é um processo demissionário. Temos todos esses processos em andamento na Polícia Militar e as condutas estão sendo individualizadas para que cada um responda pelo que fez. Agora é hora de passar a página. Todos os procedimentos que a corregedoria tinha que tomar, já tomou, já está em curso. É virar a página disso tudo e continuar com a prestação de nosso serviço.

Foram quantos processos?
Nós temos 70 Inquéritos Policiais Militares (IPM), que estão sendo remetidos à Justiça Militar. Temos aproximadamente 200 processos de ritos sumários e 25 processos de rito ordinário. Em cada processo ou IPM desses tem mais de um investigado.

Alguém já perdeu a farda? Todos esses estão passíveis de perder?
Ainda não tivemos, pois os processos estão em andamento. Para que seja garantida a ampla defesa e o contraditório não são processos que são feitos em 30 dias, demoram um pouco mais, mas estão chegando ao final. A Corregedoria estima que em setembro ou outubro estejam finalizando esse processo. Mas eles podem chegar a perder a farda.

Os militares que estão em processo administrativo estão trabalhando ou retirados?
Os que respondem a conselhos e processos demissionários são afastados. Eles ficam à disposição dos conselhos e processos, não estão trabalhando. Ficam afastados.

As reivindicações de melhores condições de trabalho, coletes e viaturas foram atendidas?
Mesmo em fevereiro a PM não tinha problema de coleta. Cada qual tem o seu colete individual na PM. É acautelado por ele e entregue para ele. Se falava na questão que faltava colete e não é verdade. Questão de armamento: cada policial possui uma pistola .40 cautelada e individual. É dele, leva para casa. Igual o colete, individual. Então não tínhamos problema com isso. Não é verdade quando falavam que o policial não tinha arma. Com relação às viaturas, aí sim. Nossas viaturas estavam muito velhas em fevereiro, isso é verdade. Compramos 250 novas viaturas espaçosas, confortáveis, com ar condicionado. O policial fica 12 horas em seu turno de serviço, então precisa de uma viatura confortável. Então já foram compradas e já foram entregues. Com relação a equipamento a PM está bem servida sim. Estamos comprando agora fuzis Colt M4, que é fuzil norte americano de última geração, que as polícias militares mais evoluídas do mundo possuem e a PM do ES vai possuir também. O dinheiro já foi liberado e já iniciamos o processo de compras desses fuzis. É uma compra internacional, então temos que fazer todo o processo em seis meses. Já tem um mês que iniciamos o processo, então esperamos que até o final do ano tenhamos esses fuzis. São 182 fuzis. Vão equipar as forças táticas dos Batalhões de área. Esse fuzis vão para as forças táticas.

O que foi feita com as viaturas velhas?
Nós estamos pegando aquelas viaturas que estavam já paradas no pátio do Batalhão e não tinham mais condição de uso e estamos pegando as viaturas mais velhas, aquelas 2010, já tem sete anos de uso. Estamos descarregando e leiloando. Já fizemos um leilão e o dinheiro desse leilão vai para a compra de novas viaturas. É uma gestão moderna. As novas polícias já fazem isso. Isso é importante porque uma viatura da PM é diferente da viatura da nossa casa. Porque a viatura da nossa casa não roda 24 horas por dia. A viatura da PM roda 24 horas por dia, todos os dias. Então não tem descanso. Uma viatura dessa quando chega a seis anos de uso ela já está esculhambada. Por isso gastamos fortuna em manutenção. Gastamos fortuna para fazer manitenção de uma viatura velha, aí roda uma semana, vai pra rua. Depois de uma semana quebra de novo. Aí fica uma semana na oficina e gastamos dinheiro. E assim vai. Isso é jogar dinheiro fora. Então estamos pegando essas viaturas velhas, que gastamos dinheiro com manutenção, estamos leiloando e o dinheiro volta para PM para comprar viaturas novas. Gastamos menos com manutenção.

Como está o efetivo da PM?
Nós no passado fizemos concursos muito grandes. Concursos de 1000 vagas. Fizemos três concursos com 1000 vagas cada um. Então são 3 mil. A nossa academia de Polícia Militar tem capacidade para 350 alunos pata formar bem. Então se nossa capacidade são 350 alunos, como eu faço um concurso de 1000? Aí eu prejudico a qualidade do curso. Além de terem feito no passado concurso de 1000 reduziram o tempo de curso de nove meses para quatro meses e meio. Então estamos mudando isso. Conseguimos aprovar uma lei, que dentro dela tem a carga horária do curso. Hoje o Curso de Formação de Soldado é de um ano e 10 meses. Dez meses dentro da academia estudando, aprendendo e depois um ano fazendo estágio profissional. Pra aí sim, formar como soldado. E os próximos cursos que a PM fizer, vamos respeitar a capacidade e estrutura da nossa academia. Então nunca um concurso vai poder passar de 350.

Tem previsão de próximo concurso?
Não tem. Nosso governador está estudando essa possibilidade.

Atualmente são quantos PMs no Espírito Santo? E quantas viaturas são?
São 9.500 policiais militares hoje no ES. A frota da PM são de 1.500 viaturas no Estado todo.

Tivemos três grandes operações da Polícia Militar desde o último mês. Quais foram os principais resultados dessas operações?
Tivemos a Ourimar, na Serra; tivemos no Bairro da Penha e agora em Jesus de Nazaré. Foram vários resultados. Primeiro foi a integração entre as polícias, o que é muito importante. Isso é um resultado positivo. Segundo, é um trabalho da inteligência policial levantando pontos de tráfico de drogas, alvos, onde se comercializa e guarda drogas, nos abastecendo dessas informações e a polícia conseguindo junto ao poder judiciário o mandado de busca e apreensão desses alvos. Isso é interessante porque é atuação qualificada, cirúrgica. Vamos onde está acontecendo o crime. Então isso é muito importante. A polícia é mais eficiente. Terceiro: deixar claro que estamos com a comunidade e somos fortes para reprimir o crime. Isso é muito importante para a comunidade local. Essas operações policias se tornarão rotina, vamos fazer mais sempre em locais onde esteja se destacando o tráfico e a violência. O tráfico é violento e intimida a população local. Então onde isso estive acontecendo a polícia vai atuar e atuar forte.

A operação de Jesus de Nazaré foi criticada pela OAB e Arquidiocese de Vitória, que a classificaram como uma agressão aos direitos humanos. Além disso, foi uma operação que causou transtornos no trânsito local. O que tem a dizer sobre isso?
Prefiro não fazer uma análise do comentário da OAB e da Arquidiocese. Mas não posso deixar de registrada que a comunidade de Jesus de Nazaré aplaudiu, agradeceu e quer mais outras operações na sua comunidade. Então acho que quem tem que ser ouvido nesse processo é a comunidade. Pois é a comunidade que mora lá, é aquele cidadão que mora lá que está sendo violentado dentro da sua própria casa para guardar droga e arma para traficante. São essas pessoas que sofrem em Jesus de Nazaré que devem  ser ouvidos por todos, pela sociedade, pela imprensa, pois são eles que estão passando por isso. Sentindo na pele esse abuso e violência do tráfico de drogas. Então acho que quem deve ser ouvido é a comunidade.

Com relação às apreensões, você pode citar alguns números?
Nessa operação em Jesus de Nazaré foram seis armas de fogo apreendidas. Eu vi muitos falando que é muito pouco. Eu não acho pouco, fazer uma operação pela manhã e apreender seis armas. São seis armas que retiramos da mão de bandidos. Eu não acho pouco, acho importante. É claro que é importante a gente apreender drogas, armas e prender criminosos. Mas também é importante estar presente na comunidade, mostrar que ela pode contar com a polícia. Então consideramos todos os resultados positivos.

Existe algum modo de evitar que a polícia suba sempre o morro, fechar efetivamente bocas de fumo?
Policiamento ostensivo funciona com três fatores. Como fator inibidor de delito, porque a nossa ostensividade no local inibe. Segundo fator é que o policiamento ostensivo funciona como fator de referência. A sociedade sabe que a polícia está ali e pode contar com ela porque ela está fixa ali. E a PM funciona como fator de estímulo à legalidade. Esse poder de referência é importantíssimo. Ir a uma comunidade dessas, fazer operação é importante. Mas é importante a polícia estar presente todo dia num local, fazendo lá um ponto base, parado lá. Todos os dias no mesmo local naquela comunidade pra que a gente tenha poder de referencia. Então nós queremos evoluir sim para esses locais onde os indicadores de tráfico sejam maiores para fortalecer a nossa presença e servir como fator de referência àquela comunidade. Estamos caminhando para isso.

O tráfico no Bairro da Penha, que é em frente ao Quartel da PM, persiste há décadas e nunca acaba. Por que não acaba?
Prende, prende e nunca acaba. Primeiro é a questão da impunidade. Vários traficantes vão presos e retornam, continuam traficando. Então o problema da impunidade gera reincidência. Vai voltar e continuar traficando. O segundo problema é a desestruturação das famílias. O grande legado do pai e da mãe é a missão dada por Deus e transmitir para os seus filhos os valores éticos, morais, legais. Então quando a gente vê uma sociedade que a família está desestruturada e frágil a transmissão desses valores, a gente verifica que essas crianças, esses adolescentes, muitos deles são cooptados pelo tráfico de drogas. Então você prende um traficante aqui, mas tem um monte para substituí-lo, cada vez mais novos. O Estado tem que dar escola boa, mas a escola não substitui família. Mas quem transmite valores são os pais, dentro de casa. Isso é insubstituível. Então sociedade que tem família desestruturada que não transmite esses valores acaba tendo possibilidade de ver suas crianças e adolescentes, alguns deles cooptados mais facilmente pelo tráfico. Então muitos foram presos, mas foram substituídos por vários outros. E outra. O tráfico tá forte porque cada vez te mais usuário. A polícia não gera violência, a polícia enfrenta a violência. O que gera violência é a desestruturação da família, impunidade, fácil acesso a armas de fogo, tráfico de drogas. Essas são as principais causas da violência e a PM trabalha dentro deste contexto social.

Se a polícia montasse uma base em local estratégico desses morros, utilizando-se do poder de referência para inibir o tráfico. É improvável de acontecer?
Não que seja improvável. Fizemos uma base com São Benedito e Bairro da Penha. No Bairro da Penha tem a patrulha de morro que só trabalha dentro do bairro. Mas é um caminho interessante fortalecer o poder de referência da PM com uma estrutura física. Mas só isso não resolve o problema, não basta. Tem que vir toda uma ação social também naquela comunidade. O Estado tem o programa ocupação social que leva oportunidade de cursos, de emprego para as nossas crianças e adolescentes. Então ação da polícia aliada à ação social tem possibilidade de minimizar o problema.

Nesses seis meses à frente da PM quais foram suas maiores dificuldades e os avanços que enxerga na corporação?
No momento de crise todos nós evoluímos. Isso acontece com nações, países, dentro de casa… Então sempre quando a gente vivencia momentos de crise, aquele momento gera um crescimento. O que percebo na instituição hoje é crescimento institucional, amadurecimento institucional, temos novas leis de promoções de oficiais e promoções de praças. Leis importantes para a instituição, que são leis que remetem a uma melhor qualidade. Temos a criação de companhias independentes, em Jardim Camburi, Feu Rosa, Terra Vermelha. Temos a criação de grandes comandos na região serrana e região Noroeste. Temos a criação da força tática nos batalhões. Estão isso tudo é crescimento e amadurecimento institucional. Acho que todos nós da PM desde o alto comando até o soldado, todos nós crescemos muito como pessoas e como profissional depois desse episódio de fevereiro.

O que você quer deixar de marca na sua gestão no comando da PMES?
A única coisa que gostaria de levar ao final do meu comando é um reconhecimento dos meus companheiros, dos meu comandados e dos meus pares. É um reconhecimento de que tudo o que foi feito foi em nome da instituição e para nós policias não existe nada mais importante do que a instituição, porque nós devemos tudo a ela. Se nosso pão, nossa comida está dentro de casa, se nossos filhos estão tendo possibilidade de estudar, se a gente consegue ter uma dignidade, devemos isso à instituição Policial Militar. Tudo o que estamos fazendo hoje é com postura institucional, com respeito à instituição. É isso que gostaria de levar o reconhecimento, a clareza, de que tudo o que esse comando fez foi em prol da instituição e com posicionamento institucional. Que jamais posicionamento pessoal passou nem perto. Sempre com postura institucional. Quero sair do comando com a clareza de todos de que ali passou um comandante com postura institucional.

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