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Os números que espantam

Dia desses li uma interessante frase atribuída a Albert Einstein: “a matemática não mente – mente quem faz mau uso dela”. Foi quando decidi redigir um texto somente com estatísticas, para ver como ficaria a soma de todas elas.
         Imagine estes primeiros números: 20% das crianças canadenses vivem na pobreza. 1,077 milhão de paulistanos moram nas ruas, em favelas ou em cortiços. Três a cada quatro brasileiros com mais de 60 anos são desdentados. 30 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista. A cada cinco segundos morre uma criança de fome no mundo. 40% da população capixaba tem anemia. 40% dos habitantes do planeta não tem acesso a água potável. 47 milhões de crianças vivem em estado de pobreza nos 29 países que concentram 2/3 da produção mundial. 48,6% das crianças entre 5 e 14 anos que trabalham no Brasil não ganham nenhuma remuneração. 87% milhões de brasileiros não tem esgoto sanitário. A América Latina tem mais de 200 milhões de pobres. Cerca de 8 milhões de brasileiros não tem nenhum dente na boca. 900 crianças morrem por hora no mundo em consequência de doenças causadas pela falta de saneamento básico. 50 milhões de norte-americanos vivem na pobreza. 57 milhões de latino-americanos sobrevivem com apenas US$ 1 por dia no bolso. 25% dos europeus estão vivendo no limiar da pobreza. 20% dos gregos não conseguem mais adquirir produtos básicos, como carne, peixe, legumes, gás, água ou eletricidade. 50% das crianças indianas são desnutridas, e 79% delas anêmicas. 10% dos irlandeses passam fome. 20% dos israelenses não tem dinheiro para comprar comida. A cada dia, durante o inverno, 200 idosos ingleses morrem de frio, sem dinheiro para pagar os custos do aquecimento residencial. Nove milhões de adolescentes brasileiros vivem na pobreza extrema. 21,8% dos espanhóis são pobres. 25% da população do Nepal estão abaixo da linha da pobreza. 50% dos habitantes da América Central estão na miséria. 25% das crianças da Nova Zelândia estão em situação de pobreza. 150 milhões de chineses são pobres. 588 mil famílias holandesas são pobres. 1,44 bilhão de pessoas vivem com menos de US$ 1,25 por dia.
         Agora compare os números acima com estes outros: o Brasil desperdiça 30% dos alimentos que produz. O desperdício abocanha 40% do PIB nacional. Cada família inglesa desperdiça o equivalente a US$ 1.140 de alimentos a cada ano. A Malaysia desperdiça 2 trilhões de litros de água potável a cada ano. 34% dos alimentos produzidos para consumo humano, o suficiente para alimentar dois bilhões de semelhantes nossos, são desperdiçados após consumirem 250 mil metros cúbicos de água e emitirem 3,3 mil toneladas de gases na atmosfera. A cada ano uma quantidade de energia suficiente para abastecer cerca de 18 milhões de residências é desperdiçada no Brasil. O desperdício de água custa a Portugal 880 milhões de Euros a cada ano. No item desperdício de recursos públicos o Brasil ocupa a 111ª posição entre as 117 economias pesquisadas. O Brasil joga fora 64% do que planta. O desperdício de comida custa ao mundo US$ 750 bilhões por ano. Seis em cada dez municípios brasileiros desperdiçam até 50% da água tratada que recebem. Todos os dias, no Brasil, 39.000 toneladas de alimentos são despejadas no lixo em mercados, feiras, restaurantes, açougues, supermercados, quitandas, fábricas etc. – o suficiente para dar café, almoço e jantar diariamente a 19 milhões de pessoas.
         Pois é. Parece incrível, mas a humanidade ainda não conseguiu fechar uma conta tão simples, composta de apenas duas variáveis básicas. Talvez a explicação para tal esteja na reflexão de Johann von Neumann: “em Matemática você não compreende as coisas – simplesmente se acostuma a elas”.
Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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