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O verdadeiro patriotismo

Dia desses li que, com 8.405.837 habitantes distribuídos em uma área de apenas 790 km2, Nova York é a grande cidade mais densamente populada dos Estados Unidos. Trata-se de uma metrópole na qual são falados mais de 800 idiomas – uma verdadeira “esquina do mundo”. Não faz muito tempo li, no jornal “The New York Times”, que no ano de 2014 aconteceram 328 homicídios naquela cidade.

         Fiquei a pensar em Ananindeua. Trata-se de uma cidade do Pará, que abriga 499.776 habitantes. Li que em 2013 morreram 616 pessoas assassinadas lá. Há também Belo Horizonte, que, com 2.479.175 habitantes, foi palco de 858 homicídios naquele ano.

         Não nos esqueçamos de Belém, lar de 1.432.844 pessoas – talvez um pouco menos, por conta das 692 vítimas de homicídio em 2013. E que dizer de nossa moderna capital federal, Brasília? Li que nela moram 2.852.372 habitantes – assim como que em 2013 mataram por lá 918 seres humanos.

         E Curitiba, lar de 1.848.946 habitantes, tão decantada em prosa e verso por conta de seu elevado nível civilizacional? Foi palco de 677 óbitos decorrentes de violência. Pensemos também na pequenina João Pessoa, habitada por apenas 780.738 habitantes – mas que foi local de 559 homicídios.

         Acredito ser desnecessário lançar contas demonstrando o absurdo da situação experimentada pelo Brasil. Eis algo que dispensa comentários. Que tal nos concentrarmos, agora, na solução?

         Talvez ela esteja vindo lá do Reino Unido, pela palavra de uma policial brasileira. Explico: há alguns dias, lendo o respeitado jornal “The Times”, daquele país, deparei-me com a seguinte manchete: “Patrulhar as favelas do Rio de Janeiro é mais mortal que o Afeganistão”.

         Absolutamente chocado, comecei a ler a matéria. Destaco o trecho a seguir, em tradução livre: “Nos oito anos da guerra do Afeganistão, o Reino Unido perdeu 453 soldados. Somente em 2013, o Estado do Rio de Janeiro, sozinho, perdeu 390 policiais”.

         Narrou-se um episódio especialmente deplorável: “Criminosos em um carro rodearam um posto da polícia e o crivaram de balas de metralhadora. Logo depois fizeram em churrasco e soltaram fogos de artifício para comemorar”.

         Mas eis que, em meio a tanta loucura, surge a palavra sensata de uma policial – cuja mãe, a propósito, foi assassinada por traficantes: “As crianças não estudam ou praticam esportes, e a cultura do tráfico se aproveita disso. Os governos não investem em projetos para suas próprias crianças. Os garotos que o Estado ignora hoje serão os criminosos de amanhã”. E completou sua fala abordando uma outra faceta do problema: “A impunidade é o combustível que abastece toda esta violência”.

         Para completar nossa vergonha, transcrevo as declarações de outro policial: “Quando os policiais são feridos, recebem muito pouca ajuda do Estado. São deixados paralisados, cegos, vivendo situações terríveis. São simplesmente abandonados”.

         Não se diga que ele não tem razão – sou testemunha, após ter atuado em talvez centenas de processos movidos sob este pano de fundo, ao longo de meus 25 anos de profissão, de que esta é a realidade nua e crua.

         O Brasil, nos últimos anos, buscou posicionar-se de forma mais condizente com sua imensa riqueza e potencial na constelação das nações. Sediou uma Copa do Mundo e as Olimpíadas. Atraiu – e atrai – a atenção do mundo. Isso é bom. Cria oportunidades. Abre novos horizontes. Mas também gera responsabilidade.

         Que possamos, pois, reagir e, revestidos de verdadeiro patriotismo, olhar o mundo de frente, dizendo, peito inflado de orgulho, que neste país não existem locais abandonados pelo Estado, cujas crianças sejam educadas por criminosos. Perdoem-me pela veemência, mas que tenhamos mais senso de Pátria!

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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