Nem só de cozinheiros consanguíneos vive a minha família. Nossos agregados também têm suas cartas nas mangas! Do pão torrado feito pelo marido da minha irmã ao maravilhoso angu de milho fresco pela dona Rosa, sogra do meu irmão, os casamentos agregaram ainda mais sabor aos nossos pratos.
Minha cunhada Márcia não é diferente. Apesar de suas inúmeras atividades – mãe, médica, esposa, fitness (ufa!) – ela ainda encontra tempo para desenvolver a nobre arte gourmet. Faz um filé com molho de shimeji que é de comer rezando, um risoto de camarão com morango de tirar o chapéu e, como boa nordestina, um ‘Baião de Dois’ maravilhoso!
Marcinha arrasa em todas as receitas, mas a queridinha da família – em especial de sua sogra (e minha mãe) – é o Arroz a Piamontese.
Na história – Quem gosta do prato e acha que está comendo um tradicional prato italiano está enganado! Esse tipo de risoto não existe na culinária italiana. Segundo alguns registros de estudiosos da culinária, o Arroz a Piamontese foi criado nos anos 60, porque no Brasil não existia o arroz arbóreo para vender. Por isso, o creme de leite foi adicionado para dar a cremosidade típica do risoto.
Como o prato não tem lá muita história, falemos então da história de seu grande astro. Conta uma lenda indiana que o deus Shiva se apaixonou por uma menina chamada Retna e a pediu em casamento. Como dote, Retna pediu a Shiva que acabasse com a fome do seu povo, doando-lhes um alimento do qual não se cansassem nunca. Shiva concordou, mas, atarefado como os deuses deveriam ser, ou por representar a classe política da época, acabou não cumprindo a promessa.
Retna insistiu que o casamento só aconteceria depois de receber o dote e então Shiva a tomou pela força. Desonrada e humilhada, a garota atirou-se no Ganges, o rio sagrado. E a sua alma se transformou em uma planta com abundantes grãos branco-dourados: o arroz. Shiva foi servido, assim como o povo indiano, que a partir daquele momento teve do que nutrir-se.
O certo é que o arroz veio do Oriente. Estudiosos dividem-se entre a ilha de Java e o Camboja, quando se referem à origem da planta. Em escavações arqueológicas às margens do rio Mekong, foram descobertas tigelas cheias de arroz de, aproximadamente, seis mil anos antes da Era Cristã.
Na minha história – Tive a oportunidade de comer algumas vezes o Arroz a Piamontese da minha cunhada, sempre feito com muito afinco e carinho. Já tentei reproduzi-lo algumas vezes, mas nunca saiu igual (e ainda tenho que ouvir um: “o da Márcia é mais gostoso”, vindo da Dona Léa).
Ciúmes à parte, quando pedi a receita para publicar na coluna, entendi o ‘pulo do gato’: o arroz do Piemonte cearense já entra na receita cozido!
Receita – Para fazer a Arroz a Piamontese da minha família, você precisará:
2 xícaras de arroz
2 colheres de sopa de manteiga
½ cebola picada
100 ml de vinho branco seco
1 vidro de champignons
Ervas de Provence
500 ml de creme de leite fresco
200 g de queijo parmesão
Modo de preparar:
O primeiro passo é cozinhar o arroz, como de costume. Depois, em uma panela, derreta a manteiga e refogue a cebola picada. Acrescente o vinho, o champignon fatiado e a erva de Provence. Adicione o arroz, aos poucos. Em seguida, coloque o creme de leite e o queijo parmesão.
Reserve um pouco do creme de leite para adicionar na hora de servir. Bom apetite!
Já quero!