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O crime politicamente correto

         Dia desses li uma brilhante reportagem, assinada pelos jornalistas Vinicius Rangel e Luciana Almeida, sobre a influência nefasta que alguns videogames e músicas tem exercido sobre nossas crianças – um texto que cada educador deveria ler.

         Transcrevo um trecho: “O contato com produtos como filmes e jogos violentos, e músicas com apelo sexual, fora da faixa etária indicativa, pode influenciar a criança ou o adolescente de forma negativa, segundo especialistas”.

         Mais precisamente, “psicólogos explicam que meninos e meninas estão em fase de formação social, psicológica e moral, e isso pode fazer com que pulem etapas importantes desse processo de formação, a chamada “adultização” precoce”.

         Tudo isso é verdade, conforme recentemente comprovaram, através de uma compilação de estudos realizadas ao longo de vinte anos, pesquisadores norte-americanos filiados à American Psychological Association.

         Um deles, por exemplo, demonstrou brutais níveis de alteração de humor em crianças após singelos dez minutos jogando um videogame violento. Outro, realizado sobre nada menos que 600 crianças, constatou que aquelas “viciadas” em videogames eram sensivelmente mais propensas – onze vezes mais, aliás – a brigar com colegas e professores, bater em crianças menores ou destruir objetos.

         Mas talvez o alerta mais sério tenha vindo do Reino Unido: após constatar que, aos sete anos de idade, uma criança moderna terá passado quase um ano inteiro diante da tela de uma televisão ou de um videogame, um especialista demonstrou que seus cérebros estão sofrendo deformações similares àquelas causadas pelo alcoolismo, inclusive no que toca a depressão e suicídio.

         Tudo isto, em verdade, é óbvio: diante de jogos cujo objetivo é matar policiais, estuprar mulheres, espalhar o vírus ebola, torturar e roubar, com os quais interage durante horas a fio, praticamente todos os dias, como ficará em alguns anos a mente de uma criança moderna? Convenhamos, sequer necessidade de grandes estudos há – eis aí apenas algo lógico.

         Uma das consequências deste quadro doeu-me o coração: somente no Reino Unido, nos idos de 2014, 12.644 crianças foram internadas em hospitais, mentalmente perturbadas pelo “estilo de vida moderno”, após se lesionarem e mesmo tentarem suicídio – um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

         Detectado o problema, muitos apontam o dedo na direção dos familiares, que deveriam controlar, supervisionar, regular, restringir etc. o acesso de seus pimpolhos a tanta violência. Peço licença, no entanto, para discordar.

         Sim, vá lá que os pais tenham sua parcela de culpa – e eis aí igualmente algo óbvio. Mas não os vejo ocupando a parcela maior da cadeira dos réus. Lá estão, em verdade, as autoridades – a cada dia mais acuadas, vítimas de uma praga denominada “politicamente correto”.

         Ora, convenhamos: um jogo cujo objetivo seja estuprar mulheres, matar policiais ou praticar roubos é, além de séria ofensa a cada pessoa que já foi vítima desses crimes, clara apologia ao crime e ao desrespeito de valores os mais sagrados. Indague, por exemplo, a uma mulher que tenha sido vítima de estupro o que se passa em seu espírito ao ver uma criança “brincando” de violar – quanto mais mulheres forem vítimas, mais pontos ganhará.

         Tal apologia ao crime, porém, é difícil de ser combatida: nasceu, não se sabe de onde, e nem por qual motivo, uma interpretação equivocada da tão sagrada “liberdade de expressão”, segundo a qual o crime pode ser livremente exaltado, custe o que custar – e mudar isso seria “politicamente incorreto”.

         E é assim que, “politicamente corretos”, seguimos alegremente na profanação das estupradas, dos assassinados etc. – e de nossos valores.

Pedro Valls Feu Rosa
Pedro Valls Feu Rosa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo desde 1994. Programador de computadores, autor de diversos “softwares” dedicados à área jurídica, cedidos gratuitamente a diversos Tribunais do Brasil. Articulista de diversos jornais com artigos publicados também em outros países, como Suíça, Rússia e Angola.

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